- As ações do Magazine Luiza recuam mais de 54% no acumulado de 2024
- As vendas de fim de ano podem trazer um forte aumento de receita para a companhia, mas o grande problema de rentabilidade não estaria resolvido
- Analistas apontam o que a empresa precisaria mudar para reconquistar a confiança do mercado
As vendas de fim de ano se aproximam e essa pode ser uma grande oportunidade para empresas do varejo, como o Magazine Luiza (MGLU3), de conseguir aumentar a lucratividade e entregar maiores retornos para os investidores. Para se ter uma ideia, a receita líquida do Magazine no quarto trimestre de 2023 teve alta de 23% na comparação com o terceiro trimestre de 2023. Esse melhor desempenho do quarto trimestre acontece em meio às datas comemorativas que reforçam as vendas, como Dia das Crianças, BlackFriday, Natal e Ano Novo. No entanto, a questão que pode ficar para o investidor é se esse crescimento sazonal será suficiente para melhorar a situação da companhia, que está enfrentado uma fase difícil na Bolsa.
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No acumulado de 2024, os ativos da varejista recuam 54,35%, visto que o papel encerrou o pregão de quinta-feira (26) cotado a R$ 9,80. Considerando o grupamento de ações, esse é o menor patamar para o fechamento desde 30 de junho de 2017, quando o papel encerrou o pregão a R$ 9,74. Ou seja, será que as vendas de fim de ano devem fazer com que a empresa se recupere e reconquiste a confiança do mercado? Mais: vale a pena investir no papel agora? O E-Investidor conversou com analistas do mercado financeiro e eles trazem essas respostas.
De modo geral, entidades do setor varejista esperam que o mercado de trabalho do segmento deve aquecer com as vendas dos últimos meses do ano. Segundo dados Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas publicados nesta quinta-feira (26), as vendas de fim de ano em 2024 devem gerar cerca de 110 mil vagas temporárias, informais, efetivas ou terceirizadas. O número representa um acréscimo de 16,2% em relação às 94,6 mil vagas estimadas na pesquisa mais recente da entidade, realizada em 2022.
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Na visão de Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, considerando o fim do ano e aumento no consumo, as receitas do Magazine Luiza devem melhorar, mas não o suficiente para deixar a empresa em uma situação confortável. Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio da Associação Comercial, diz que a varejista deve se beneficiar das vendas de fim de ano, mas que isso não significa que a varejista ficará totalmente arrumada e atraente para o investidor. Ele lembra que nos últimos balanços o Magazine Luiza conseguiu lucrar apenas 0,2% de suas receitas.
“Isso mostra que a companhia está muito abaixo da média do varejo. O setor já tem uma margem de lucratividade baixa, que é de 2% a 3%. No entanto, o Magazine Luiza está conseguindo lucrar apenas 10% da média do setor. Então, mesmo que as vendas disparem no fim de ano, a empresa ainda precisará de melhoras de eficiência para aumentar sua lucratividade”, aponta Medina.
Concorrência ganha mais espaço e lucra mais que o Magazine Luiza
Para a equipe da Ativa Research, o investidor não deve aportar na companhia com a estimativa de que as vendas de fim de ano possam fazer com que a varejista incremente seu desempenho operacional. Ele diz o resultado do quarto trimestre é sazonal e o investidor deve procurar empresas com foco não apenas em um único período.
“Para o Magazine Luiza conseguir se recuperar e melhorar sua situação atual com as vendas de fim de ano, ele precisa vender muito mais que os concorrentes. A empresa precisa superar as vendas do Mercado Livre e da Amazon, fortes concorrentes no momento”, argumenta o analista da Ativa Research.
Caroline Sanchez, analista da Levante Inside Corp, observa que Mercado Livre e Amazon estão muito à frente da varejista brasileira e podem ser concorrentes duros nas vendas de fim de ano. Sanchez diz que as duas empresas estrangeiras estão se posicionando para o longo prazo e ganhando espaço de forma mais sólida que a varejista brasileira.
A analista lembra que o Mercado Livre anunciou nesta semana a construção de 11 novos centros de distribuição no Brasil. Essa expansão da companhia tornaria o Mercado Livre a maior varejista online em termos de capacidade de armazenagem, superando grandes nomes, como o próprio Magalu. Caroline Sanchez também diz que a empresa da família Trajano até anunciou inovações, como a parceria com a AliExpress, o que para ela foi positivo.
“No entanto, quando olhamos a estrutura de custos e a eficiência do Magazine Luiza em relação aos concorrentes, vemos que a empresa está para trás. A companhia tem mais de 1.200 lojas e não vemos sentido nesse grande número de unidades. Por mais que a empresa fale que usa essas lojas como pontos de distribuição, não mostra a mesma eficiência quando olhamos para outras varejistas que não têm uma estrutura tão pesada”, aponta.
A analista também diz que o Mercado Livre também está à frente em relação à entrega e ao custo do frete. A varejista argentina tem uma entrega muito mais rápida, o que é positivo para o consumidor que acaba se fidelizando a empresa. Conforme a analista, essa experiência do cliente é muito favorável para a companhia, o que o Magazine Luiza deixa a desejar de modo geral.
Magazine Luiza não trouxe melhoras no balanço?
Mesmo com as críticas sobre a operação, os analistas comentam que a empresa trouxe avanços. Segundo Bruno Benassi, analista de Ativos na corretora Monte Bravo, a empresa está fazendo ajustes importantes. Ele relata que o Magazine Luiza passou por uma reestruturação do seu capital com apoio do BTG Pactual. Em janeiro de 2024, o Magazine Luiza fez um aporte de capital de R$ 1 bilhão com o apoio do BTG. O banco fez outro aporte de R$ 250 milhões, totalizando uma injeção de capital de R$ 1,25 bilhão.
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“Isso ajudou a empresa a fugir de qualquer possibilidade de recuperação extrajudicial, como ocorreu com o Grupo Casas Bahia. A varejista também apresentou avanços no balanço, o que pode fazer com que o investidor pense que esse é um bom momento para comprar ações do Magalu”, afirma Benassi.
No segundo trimestre de 2024, o Magazine Luiza reportou um lucro líquido de R$ 23,6 milhões, uma reversão do prejuízo de R$ 301,7 milhões no mesmo período de 2023. A companhia também apresentou um aumento da margem de contribuição de todos os canais de venda, incluindo lojas físicas, e-commerce com estoque próprio e o marketplace. Esse resultado contribuiu para o crescimento de 61,6% do Ebitda ajustado, que atingiu R$ 710,7 milhões no segundo trimestre. A margem desse indicador foi de 7,9%, um aumento de 2,8 pontos porcentuais em relação ao ano passado.
Para Benassi, a melhora da empresa é muito positiva, mas a companhia tem algumas pontas soltas. “O atual preço para o papel é interessante, mas a situação do Magazine Luiza é desafiadora devido à forte concorrência e ao ciclo de alta de juros. A alta da Selic tende a pesar sobre as empresas do varejo. Desse modo, mesmo com a alta das vendas no fim do ano, não recomendamos compra para a ação do Magalu”, diz o analista da Monte Bravo.
A mesma opinião é seguida por todas as outras casas. Levante e Ativa, por exemplo, dizem que o investidor não deve comprar as ações da empresa, justamente pelo cenário macroeconômico complexo, os custos que a companhia apresenta em relação aos concorrentes e à alta competitividade com os demais players do mercado.
A Ativa Research é a única que ainda consegue estimar uma alta para as ações. O analista comenta que tem preço-alvo de R$ 17,40 para os próximos 12 meses, avanço de 77,55% na comparação com o fechamento de quinta-feira (26), quando a ação encerrou o pregão a R$ 9,80. “Estimamos ganhos para as ações, mas pedimos cuidado por parte do investidor, visto que o Magazine Luiza é uma empresa de um setor muito competitivo, com outras lideranças, a exemplo do Mercado Livre, Amazon e Shopee. Por isso, nossa recomendação é neutra e não de compra”, argumenta o analista.
Em linhas gerais, o ideal para o investidor é não comprar a ação, dizem os analistas. A concorrência e a baixa eficiência apontada pelos analistas podem fazer com que as vendas de fim de ano não sejam totalmente convertidas em lucro. O consenso é de que o Magazine Luiza (MGLU3) melhorou bastante sua situação operacional, mais ainda tem muito a avançar e não são as vendas de fim de ano que devem mudar esse cenário.
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