Mercado

Vale a pena investir no Magazine Luiza (MGLU3) pensando nas festas do final do ano?

Analistas dizem que a receita da empresa tende a aumentar como em todos os finais de ano, mas apontam problemas internos na companhia e a forte concorrência no varejo; veja o que fazer com as ações

Vale a pena investir no Magazine Luiza (MGLU3) pensando nas festas do final do ano?
Analistas fazem estimativas do impacto das vendas de fim de ano no Magazine Luiza (FOTO: FELIPE RAU/ESTADAO)
  • As ações do Magazine Luiza recuam mais de 54% no acumulado de 2024
  • As vendas de fim de ano podem trazer um forte aumento de receita para a companhia, mas o grande problema de rentabilidade não estaria resolvido
  • Analistas apontam o que a empresa precisaria mudar para reconquistar a confiança do mercado

As vendas de fim de ano se aproximam e essa pode ser uma grande oportunidade para empresas do varejo, como o Magazine Luiza (MGLU3), de conseguir aumentar a lucratividade e entregar maiores retornos para os investidores. Para se ter uma ideia, a receita líquida do Magazine no quarto trimestre de 2023 teve alta de 23% na comparação com o terceiro trimestre de 2023. Esse melhor desempenho do quarto trimestre acontece em meio às datas comemorativas que reforçam as vendas, como Dia das Crianças, BlackFriday, Natal e Ano Novo. No entanto, a questão que pode ficar para o investidor é se esse crescimento sazonal será suficiente para melhorar a situação da companhia, que está enfrentado uma fase difícil na Bolsa.

No acumulado de 2024, os ativos da varejista recuam 54,35%, visto que o papel encerrou o pregão de quinta-feira (26) cotado a R$ 9,80. Considerando o grupamento de ações, esse é o menor patamar para o fechamento desde 30 de junho de 2017, quando o papel encerrou o pregão a R$ 9,74. Ou seja, será que as vendas de fim de ano devem fazer com que a empresa se recupere e reconquiste a confiança do mercado? Mais: vale a pena investir no papel agora? O E-Investidor conversou com analistas do mercado financeiro e eles trazem essas respostas.

De modo geral, entidades do setor varejista esperam que o mercado de trabalho do segmento deve aquecer com as vendas dos últimos meses do ano. Segundo dados Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas publicados nesta quinta-feira (26), as vendas de fim de ano em 2024 devem gerar cerca de 110 mil vagas temporárias, informais, efetivas ou terceirizadas. O número representa um acréscimo de 16,2% em relação às 94,6 mil vagas estimadas na pesquisa mais recente da entidade, realizada em 2022.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Na visão de Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, considerando o fim do ano e aumento no consumo, as receitas do Magazine Luiza devem melhorar, mas não o suficiente para deixar a empresa em uma situação confortável. Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio da Associação Comercial, diz que a varejista deve se beneficiar das vendas de fim de ano, mas que isso não significa que a varejista ficará totalmente arrumada e atraente para o investidor. Ele lembra que nos últimos balanços o Magazine Luiza conseguiu lucrar apenas 0,2% de suas receitas.

“Isso mostra que a companhia está muito abaixo da média do varejo. O setor já tem uma margem de lucratividade baixa, que é de 2% a 3%. No entanto, o Magazine Luiza está conseguindo lucrar apenas 10% da média do setor. Então, mesmo que as vendas disparem no fim de ano, a empresa ainda precisará de melhoras de eficiência para aumentar sua lucratividade”, aponta Medina.

Concorrência ganha mais espaço e lucra mais que o Magazine Luiza

Para a equipe da Ativa Research, o investidor não deve aportar na companhia com a estimativa de que as vendas de fim de ano possam fazer com que a varejista incremente seu desempenho operacional. Ele diz o resultado do quarto trimestre é sazonal e o investidor deve procurar empresas com foco não apenas em um único período.

“Para o Magazine Luiza conseguir se recuperar e melhorar sua situação atual com as vendas de fim de ano, ele precisa vender muito mais que os concorrentes. A empresa precisa superar as vendas do Mercado Livre e da Amazon, fortes concorrentes no momento”, argumenta o analista da Ativa Research.

Caroline Sanchez, analista da Levante Inside Corp, observa que Mercado Livre e Amazon estão muito à frente da varejista brasileira e podem ser concorrentes duros nas vendas de fim de ano. Sanchez diz que as duas empresas estrangeiras estão se posicionando para o longo prazo e ganhando espaço de forma mais sólida que a varejista brasileira.

A analista lembra que o Mercado Livre anunciou nesta semana a construção de 11 novos centros de distribuição no Brasil. Essa expansão da companhia tornaria o Mercado Livre a maior varejista online em termos de capacidade de armazenagem, superando grandes nomes, como o próprio Magalu. Caroline Sanchez também diz que a empresa da família Trajano até anunciou inovações, como a parceria com a AliExpress, o que para ela foi positivo.

“No entanto, quando olhamos a estrutura de custos e a eficiência do Magazine Luiza em relação aos concorrentes, vemos que a empresa está para trás. A companhia tem mais de 1.200 lojas e não vemos sentido nesse grande número de unidades. Por mais que a empresa fale que usa essas lojas como pontos de distribuição, não mostra a mesma eficiência quando olhamos para outras varejistas que não têm uma estrutura tão pesada”, aponta.

A analista também diz que o Mercado Livre também está à frente em relação à entrega e ao custo do frete. A varejista argentina tem uma entrega muito mais rápida, o que é positivo para o consumidor que acaba se fidelizando a empresa. Conforme a analista, essa experiência do cliente é muito favorável para a companhia, o que o Magazine Luiza deixa a desejar de modo geral.

Magazine Luiza não trouxe melhoras no balanço?

Mesmo com as críticas sobre a operação, os analistas comentam que a empresa trouxe avanços. Segundo Bruno Benassi, analista de Ativos na corretora Monte Bravo, a empresa está fazendo ajustes importantes. Ele relata que o Magazine Luiza passou por uma reestruturação do seu capital com apoio do BTG Pactual. Em janeiro de 2024, o Magazine Luiza fez um aporte de capital de R$ 1 bilhão com o apoio do BTG. O banco fez outro aporte de R$ 250 milhões, totalizando uma injeção de capital de R$ 1,25 bilhão.

Publicidade

“Isso ajudou a empresa a fugir de qualquer possibilidade de recuperação extrajudicial, como ocorreu com o Grupo Casas Bahia. A varejista também apresentou avanços no balanço, o que pode fazer com que o investidor pense que esse é um bom momento para comprar ações do Magalu”, afirma Benassi.

No segundo trimestre de 2024, o Magazine Luiza reportou um lucro líquido de R$ 23,6 milhões, uma reversão do prejuízo de R$ 301,7 milhões no mesmo período de 2023. A companhia também apresentou um aumento da margem de contribuição de todos os canais de venda, incluindo lojas físicas, e-commerce com estoque próprio e o marketplace. Esse resultado contribuiu para o crescimento de 61,6% do Ebitda ajustado, que atingiu R$ 710,7 milhões no segundo trimestre. A margem desse indicador foi de 7,9%, um aumento de 2,8 pontos porcentuais em relação ao ano passado.

Para Benassi, a melhora da empresa é muito positiva, mas a companhia tem algumas pontas soltas. “O atual preço para o papel é interessante, mas a situação do Magazine Luiza é desafiadora devido à forte concorrência e ao ciclo de alta de juros. A alta da Selic tende a pesar sobre as empresas do varejo. Desse modo, mesmo com a alta das vendas no fim do ano, não recomendamos compra para a ação do Magalu”, diz o analista da Monte Bravo.

A mesma opinião é seguida por todas as outras casas. Levante e Ativa, por exemplo, dizem que o investidor não deve comprar as ações da empresa, justamente pelo cenário macroeconômico complexo, os custos que a companhia apresenta em relação aos concorrentes e à alta competitividade com os demais players do mercado.

A Ativa Research é a única que ainda consegue estimar uma alta para as ações. O analista comenta que tem preço-alvo de R$ 17,40 para os próximos 12 meses, avanço de 77,55% na comparação com o fechamento de quinta-feira (26), quando a ação encerrou o pregão a R$ 9,80. “Estimamos ganhos para as ações, mas pedimos cuidado por parte do investidor, visto que o Magazine Luiza é uma empresa de um setor muito competitivo, com outras lideranças, a exemplo do Mercado Livre, Amazon e Shopee. Por isso, nossa recomendação é neutra e não de compra”, argumenta o analista.

Em linhas gerais, o ideal para o investidor é não comprar a ação, dizem os analistas. A concorrência e a baixa eficiência apontada pelos analistas podem fazer com que as vendas de fim de ano não sejam totalmente convertidas em lucro. O consenso é de que o Magazine Luiza (MGLU3) melhorou bastante sua situação operacional, mais ainda tem muito a avançar e não são as vendas de fim de ano que devem mudar esse cenário.

Publicidade

Informe seu e-mail

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos