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Protecionismo de Trump pode impactar as big techs. Hora de investir ou fugir?

Eleição de Donald Trump puxa big techs pra cima, mas analistas alertam sobre possíveis riscos e desafios globais

Protecionismo de Trump pode impactar as big techs. Hora de investir ou fugir?
Donald Trump em Las Vegas, Nevada, EUA, no dia 27 de janeiro de 2024 (Foto: REUTERS/Ronda Churchill)
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  • Analistas defendem cautela em relação às big techs, devido ao histórico conflituoso do presidente eleito com as empresas do setor
  • Donald Trump mantém uma visão protecionista em relação a indústria, incluindo a de semicondutores, numa convergência de opinião com os democratas
  • Tesla poderá se beneficiar das tarifas contra carros chineses, mas pode perder caso haja corte no crédito fiscal de Joe Biden a carros elétricos

A vitória de Donald Trump na corrida eleitoral dos EUA gerou uma resposta positiva nos mercados globais, com destaque para o forte desempenho das bolsas norte-americanas, inclusive no setor de tecnologia, onde reinam as big techs.

Apesar da alta neste primeiro momento, alguns analistas defendem cautela em relação ao tema, devido ao histórico conflituoso do presidente eleito com as empresas do setor.

Por enquanto, algumas apostas saíram vencedoras, como é o caso de Nvidia (NVDC34) e Tesla (TSLA34), que passou por um reequilíbrio de preços na quarta (13), caindo 6%, após as ações da companhia valorizarem mais de 30% no mês.  Entre as possíveis perdedoras estão as plataformas de conteúdo como Meta (M1TA34), dona do Facebook e Alphabet (GOGL34), dona do Google.

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“O mercado, como um todo, tem performado bem”, observa Paulo Gitz, estrategista global da XP. As smallcaps apresentam um bom desempenho, com o índice Russel 2000 subindo 9% ao mês e o setor bancário particularmente beneficiado, com as perspectivas de desregulamentação do setor financeiro, em alta de 7%.

“Curiosamente, o setor de tecnologia, que em nossa visão não seria um grande beneficiado, está performando também”, comenta o especialista da XP, defendendo prudência.

Gitz lembra que Trump tem uma visão antimonopólio em relação às big techs, e chegou a ser banido do Facebook e Twitter (atual X), além de ter um histórico de críticas ao Google por um suposto viés em seu algoritmo de pesquisas.

O seu vice J.D. Vance também é crítico à atuação das big techs, e próximo a Peter Thiel, um conhecido empreendedor de tecnologia que também compartilha dessa visão.

Postura imprevisível de Trump

O analista Marcel Zambello, do time de research  do BTG Pactual, nota que o cuidado ao tratar do tema tem mais a ver com a forma pouco convencional como Trump aborda os assuntos. “Apesar de críticas ao setor de tecnologia, ele recentemente questionou ações da FTC contra a Amazon (AMZO34) e estreitou laços com Elon Musk, reforçando sua presença nos veículos elétricos”, observa, em relatório sobre o impacto de Trump nas nas principais empresas de tecnologia do mundo, chamadas de 7 magníficas.

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A FTC (Federal Trade Commission) é uma agência independente do governo dos EUA que moveu uma ação contra a Amazon relacionada a questões de concorrência.

No seu primeiro mandato, Trump também acusou a dona do Facebook e o Twitter de censura. Não só isso, investigou Apple (AAPL34) e Amazon, além de tentar banir o Tik Tok.

“Agora, reeleito, ele promete menos regulamentação, além de mostrar relutância em fazer o spin off do Alphabet”, observa Zambello. Essa nova postura de Trump, aliás, faz o time do BTG ter uma visão positiva em relação ao Google. “Embora o processo antitruste tenha iniciado na gestão anterior de Trump, ele questiona se o desmembramento é a solução adequada.”

O fator China no protecionismo americano

Por outro lado, o presidente eleito mantém uma visão protecionista em relação a indústria, incluindo as de semicondutores, numa convergência de opinião com os democratas. O partido aprovou o Chips Act, a lei que incentiva a produção nacional de semicondutores, com o intuito de diminuir a dependência externa.

Esses incentivos beneficiariam Intel (ITLC34) e AMD (A1MD34), que podem construir fábricas próprias, ameaçando o poderio da Nvida, cuja principal fornecedora é a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC34). A ilha taiwanesa vive uma crise territorial  com a China, que a considera um território rebelde.

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Apesar das ameaças, a Nvidia possui um grande diferencial competitivo, embora sua relação preço/lucro esteja em torno de 40 vezes. Esse é múltiplo que pode ser considerado elevado, mas reflete expectativas de crescimento robusto para uma empresa que só este ano já valorizou quase 200%.

“A Nvidia segue sendo excepcional, com demanda muito alta. Lidera, enquanto todos estão investindo em capex e data centers”, afirma Gitz da XP. “Ninguém quer ficar para trás na corrida da inteligência artificial (IA) e empresas como Microsoft, Amazon e Meta são grandes consumidoras e planejam investir bastante.”

A Microsoft (MSFT34), líder em inteligência artificial, pode se beneficiar da intenção de Donald Trump de revogar a Ordem Executiva sobre IA de Joe Biden, que impõe regulamentações ao desenvolvimento dessa tecnologia.  “A revogação da ordem resultará em maior produtividade no curto prazo”, acredita Zambello, para quem a Amazon também obteria vantagens. “A desregulamentação do setor pode favorecer as operações de suas divisões de publicidade e computação na nuvem, a AWS  (Amazon Web Services)”.

Musk no governo, Tesla no topo

Os múltiplos da Nvidia podem ser altos, mas, neste momento, mal se comparam com os da Tesla, até agora a grande vencedora do Trump Trade. Com uma relação preço / lucro de mais de 80 vezes, a fabricante de carros elétricos de Elon Musk  chegou a valorizar 30% este mês. “Se você precifica a Tesla como montadora, ela é caríssima, mas, se considerá-la como uma empresa de tecnologia, que poderá liderar a automação autônoma, talvez não seja tão cara devido ao seu potencial de crescimento” comenta Gitz.

Entre a vantagens competitivas, a Tesla busca se posicionar como uma empresa de serviços de robotáxis e até de seguros para os seus carros de direção autônoma, que terão uma sinistralidade menor que a humana e portanto, mais rentável. “Essa é uma aposta, um exercício de fé na capacidade de Musk”, diz o estrategista da XP.

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O criador da Tesla, aliás, ele próprio, é um dos grandes vencedores da chamada red sweep, ou vassourada vermelha republicana de Trump nas eleições, que além da Casa Branca terá maioria nas duas casas do Congresso. Elon Musk, que outrora foi admirado pelos democratas, hoje é considerado uma figura influente entre os republicanos, o maior doador da campanha de Trump, com contribuições de US$ 119 milhões.

Nesta terça (12) o empresário foi nomeado por Donald Trump para co-liderar o Departamento de Eficiência Governamental (Doge), ao lado de Vivek Ramaswamy. Sua missão é desmantelar a burocracia governamental, implementar reformas estruturais e reduzir gastos públicos nos Estados Unidos.

Executivos tentam se adiantar aos fatos

Correndo por fora, os executivos das outras gigantes da tecnologia como Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai (Google) e Mark Zuckerberg (Meta), já demonstraram disposição para trabalhar no novo governo. “Dada a relevância global dessas empresas, o impacto de decisões políticas pode ser significativo, especialmente considerando as tensões com a China e o investimento em novas tecnologias como IA”, observa Zambello.

Na outra ponta da política, a Tesla poderá continuar a se beneficiar das tarifas que dificultam a entrada de carros elétricos chineses nos EUA, devido a questões de segurança nacional e proteção da indústria local.

Na visão do BTG, a Apple também poderia sair de maiores tarifas sobre smartphones chineses, reduzindo a competitividade de seus principais concorrentes.

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Um ponto a ser analisado com relação à Tesla é a rusga de Trump com os carros elétricos, que traz incertezas sobre a manutenção do crédito fiscal de US$ 7.500 que o governo Joe Biden dá para a compra de carros elétricos. “Isso poderia impactar negativamente as vendas da Tesla”, comentou Gitz.