- Os números do 4º trimestre de 2023 da Vale chegam em um momento delicado para a companhia, que vê suas ações serem pressionadas por diferentes fatores
- Os números vieram em linha com as expectativas do mercado e, fora o lucro líquido pressionado pelo aumento no provisionamento referente à Samarco, o resultado foi considerado positivo
- Agora, analistas esperam que o balanço do 4T23 represente um alívio nos ruídos "exagerados" que rondam a mineradora; recomendação de compra se mantém
A Vale (VALE3), maior empresa privada da Bolsa e responsável pela maior fatia da carteira teórica do Ibovespa, apresentou nesta quinta-feira (22) seu balanço financeiro referente ao quarto trimestre de 2023. Os números chegam em um momento delicado para a companhia, que vê suas ações serem pressionadas por diferentes fatores; contamos o panorama geral nesta reportagem.
Leia também
Mas o 4T23 pode apresentar um alívio nesse ambiente: os resultados vieram em linha com o esperado, com uma surpresa positiva em relação aos dividendos e, segundo as análises, reforçam a resiliência da mineradora mesmo em um ambiente mais desafiador.
O resultado apresentado veio em linha com o esperado pelo mercado nas linhas de Receita Líquida e Ebitda. Houve ainda uma redução no preço médio de vendas do minério de ferro, cobre e níquel, mas que já estavam no radar desde a divulgação do relatório de vendas e produção da companhia. Veja os detalhes dos números aqui.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Com o resultado, a Vale anunciou uma distribuição de dividendos no valor de R$ 2,74 por ação, em proventos referentes aos resultados do segundo semestre de 2023. As ações passarão a ser negociadas ex-dividendos no dia 12 de março e pagamento ocorre no dia 19 do mesmo mês.
“Devido à divulgação da prévia operacional, o espaço para surpresas nos números da Vale é baixo, mas o dividendo de R$ 2,74/ação deve ser bem recebido pelos investidores”, afirma Mateus Haag, analista da Guide Investimentos.
Contexto difícil: impacto no lucro líquido
A Vale está passando por um momento difícil na Bolsa. As ações da mineradora acumulam quedas à medida que o mercado tenta precificar o que pode acontecer com a companhia a partir de três fatores principais: as discussões sobre o comando da companhia, os provisionamentos para a Samarco e as incertezas na China. Dois deles apareceram nas análises pós-balanço dos analistas.
Leia mais: Vale (VALE3): quais são os melhores e os piores cenários para o investidor
O balanço 4T23 trouxe um aumento no provisionamento para a Samarco, relacionado ao rompimento da barragem de rejeitos em Mariana (MG). O movimento já estava no radar do mercado depois que, na última semana, a BHP, que é sócia da Vale no negócio, também aumentou a reserva destinada ao pagamento de indenizações relativas ao acidente.
Publicidade
A Vale fez um incremento de US$ 1,2 bi na provisão, o que impactou seu lucro líquido. Apesar do aumento no provisionamento já ser esperado, a redução no lucro trimestral foi a “surpresa” negativa do balanço 4T23.
“O lucro de US$ 2.418 milhões ficou cerca de 40% abaixo do esperado, mas foi negativamente afetado por provisões extras na Samarco, que já eram esperadas em função de provisões similares divulgadas recentemente pela BHP”, destaca Haag, da Guide. “São números em linha com o esperado e esperamos uma reação neutra do mercado.”
As incertezas com o ritmo da atividade na China e um crescimento menor na economia que é a maior compradora de minério de ferro do mundo vêm pesando sobre a VALE3 desde 2023. Este é tido, inclusive, como o grande desafio para a mineradora no curto prazo.
“O país asiático ainda luta para tentar retomar o crescimento, mas por enquanto o mercado não tem uma perspectiva muito clara do que se espera da economia chinesa no futuro”, destaca Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.
Publicidade
Ainda assim, nos resultados do 4T23, o preço realizado da commodity foi considerado atrativo, suficiente para garantir uma receita “robusta”, avaliou a Genial Investimentos.
O entendimento dos analistas da corretora é que o minério, atualmente cotado perto de US$ 125 a tonelada, deve sim um redução ao longo de 2024, mas que a Vale conseguiria entregar bons resultados mesmo nesse cenário.
“Nosso modelo indica que a companhia poderia gerar um fluxo de caixa substancial, com um FCF (fluxo de caixa livre) yield de 11% em 2024, apesar da possível queda do preço do minério de ferro para US$110 a 120 a tonelada. Isso suportaria um dividend yield acima de 10% no ano (sem extraordinários)”, diz o relatório da Genial. “Acreditamos que o mercado precifica o ‘fator China’ de maneira exagerada na Vale.”
Ruído exagerado: recomendação de compra
Com tantos ruídos ao redor da companhia, a VALE3 tem sido negociada nas mínimas. Até o fechamento desta quinta-feira (22), antes da divulgação dos resultados, a ação subiu 1,07%, cotada a R$ 67,22. Um patamar de preço que leva muitos analistas a recomendar a compra dos papéis mesmo perante a um cenário de desaceleração na China e possível queda do preço do minério.
Com os números apresentados no 4T23, essa recomendação parece se manter. “Enquanto reconhecemos os desafios enfrentados pela Vale, principalmente com os impactos do acidente de Mariana e pressões do governo, continuamos otimistas quanto ao seu desempenho futuro e forte geração de caixa, especialmente dada sua capacidade de adaptação e resiliência e capacidade de pagamento de dividendos”, diz a Genial. “Acreditamos que a empresa está descontada em razão de rumores externos e desconfianças, levando o papel a patamares ‘irracionais’.”
Publicidade
A corretora tem recomendação de compra do papel, com preço-alvo de R$ 82,50.
A avaliação do BTG Pactual é semelhante: o entendimento do time de research do banco é que os resultados apresentados pela companhia poderiam ser um catalisador para a redução de ruído em torno da mineradora. “Embora seja inegável que o fluxo de notícias se deteriorou, prevemos uma melhoria do ambiente operacional da Vale em 2024 e acreditamos que já existe muito pessimismo cotado nas em ações. Os preços do minério de ferro continuam se mantendo bastante bons (US$ 120/t recentemente), enquanto a companhia negocia abaixo de 4x EV/EBITDA para 2024”, diz o relatório.
O BTG também mantém a recomendação de compra para a Vale, com preço-alvo de US$ 19 para as ADRs (American Depositary Receipt) da companhia.