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Do sucesso da Amazon à Delta devastada, a pandemia nas grandes empresas

Analistas de Wall Street esperam uma recuperação recorde nos rendimentos para o ano que vem

Do sucesso da Amazon à Delta devastada, a pandemia nas grandes empresas
Logo da Amazon (REUTERS/Pascal Rossignol)

(Peter Eavis e Niraj Chokshi/ The New York Times) – A pandemia turbinou os lucros de algumas grandes empresas, como a Amazon, que anunciou alta de 70% nos rendimentos nos primeiros nove meses do ano. Mas outras foram devastadas, como a Delta Air Lines, que perdeu US$ 5,4 bilhões apenas no terceiro trimestre.

Talvez mais surpreendente seja o fato de algumas empresas que temeram por sua sobrevivência no segundo trimestre, como algumas locadoras de carros, redes de restaurantes e firmas financeiras, estarem agora em boa situação – ou até prosperando.

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Analistas de Wall Street esperam uma recuperação recorde nos rendimentos para o ano que vem. E, no geral, 80% das empresas no índice de ações S&P 500 que informaram seus rendimentos para o terceiro trimestre até o momento excederam as expectativas dos analistas, de acordo com Howard Silverblatt, analista sênior de índices da S&P Dow Jones Indices.

Normalmente, apenas cerca de dois terços das empresas superam as previsões trimestrais dos analistas. “É impressionante”, disse Silverblatt.

Os fortes estão se fortalecendo

Com a pandemia obrigando as pessoas a ficarem em casa e transferirem mais atividades para a internet, algumas empresas de sucesso estavam perfeitamente posicionadas para explorar essa mudança. Agora, essas empresas estão se tornando ainda mais dominantes.

Tomemos como exemplo o caso da Amazon. O lucro da empresa nos primeiros nove meses apresentou alta de US$ 5,8 bilhões em relação ao ano anterior. Com isso, a empresa conseguiu gastar 120% a mais durante esse período, investindo em depósitos, tecnologia e outros investimentos de capital. Esse gasto — US$ 25,3 bilhões — pode fazer com que apenas as maiores concorrentes da Amazon consigam acompanhar seu crescimento.

No passado, empresas que pareciam fortes durante uma expansão frequentemente enfrentavam dificuldades na recessão seguinte, atrasando uma recuperação plena. Os bancos, por exemplo, cresceram livremente antes da crise financeira de 2008, mas então se tornaram um fardo para a economia enquanto recuperavam seu balanço patrimonial.

As empresas de tecnologia eram poderosas antes do declínio causado pela pandemia — e suportaram bem o abalo, o que pode ajudar a economia a se recuperar mais rapidamente dessa vez, de acordo com Jonathan Golub, estrategista-chefe para o mercado americano do Credit Suisse Securities. “É de tirar o fôlego”, disse ele.

Algumas empresas apresentam desempenho melhor que o esperado

Quando a pandemia teve início, muitos executivos temeram que suas empresas enfrentariam uma crise existencial, ou, no mínimo, uma recessão muito difícil. Mas um número surpreendente de empresas desse tipo prosperou.

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A empresa de hipotecas Mr. Cooper acreditava que enfrentaria um aperto financeiro no segundo trimestre, quando alguns proprietários de imóveis não conseguiram honrar seus pagamentos. Mas uma autoridade federal trouxe alívio para os credores de hipotecas, e então os negócios foram facilitados por uma explosão no refinanciamento. A receita da Mr. Cooper nos primeiros nove meses do ano teve alta de 40%, e suas ações tiveram valorização de 341% desde abril, seu ponto mais baixo.

Durante as recessões, os consumidores costumam evitar os gastos maiores. Mas, nesse ano, algo diferente ocorreu. Muitos americanos que não perderam o emprego e não puderam gastar com viagens e entretenimento se viram com mais renda disponível. O pagamento do estímulo de US$ 1.200 por parte do governo também ajudou.

Isso beneficiou empresas que inicialmente temeram uma recessão profunda. General Motors e Ford Motor, por exemplo, se apressaram em pedir bilhões de dólares emprestados no início do ano, na expectativa de um colapso nas vendas de veículos, situação que poderia durar algum tempo. As concessionárias tiveram problemas e as montadoras tiveram que fechar suas fábricas por cerca de dois meses, mas as vendas começaram a se recuperar em meados do ano. No terceiro trimestre, GM, Ford e outras fabricantes anunciaram lucros expressivos.

Depois de pressionarem por um resgate federal, algumas grandes redes de restaurantes tiveram desempenho muito melhor do que o esperado graças aos clientes do drive-thru, às entregas e aos pedidos para viagem, que trouxeram uma recuperação para as vendas.

Na quinta feira, a rede Papa John’s, cujas ações acumulam alta de 32% no ano, relatou uma explosão nas vendas, nos lucros e no fluxo de caixa, anunciando um novo programa de recompra de ações. O diretor executivo da empresa, Rob Lynch, disse que a empresa tinha ganho “mais de 8 milhões” de fregueses este ano.

Os investidores não estão muito preocupados

Os investidores, que se interessam mais pelas ações das empresas que eles acreditam ter melhores perspectivas de lucros, estão indicando que esperam uma ampla recuperação dos lucros das maiores empresas americanas. O índice S&P 500 teve alta de quase 57% desde o derretimento de março e acumula crescimento de 8,6% no ano.

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Esses ganhos podem parecer estranhos se pensarmos que o lucro somado das empresas do índice deve fechar o ano com queda de 25% em relação ao recorde observado em 2019. Mas boa parte dessa recuperação pode ser atribuída às ações de um pequeno número de grandes empresas de tecnologia. Os investidores também contam com a manutenção dos juros baixos por parte do Federal Reserve [banco central dos EUA] nos próximos anos, injetando dinheiro no sistema financeiro.

É claro que muitas empresas em dificuldades não são negociadas no mercado de ações, caso de muitos restaurantes, lojas e empresas de serviços. Isso significa que a prosperidade do valor das ações pode dar uma impressão demasiadamente otimista da direção seguida pela economia.

“A economia não vai tão bem quanto o mercado”, disse Golub, do Credit Suisse. / Tradução de Augusto Calil