- A aprovação pelo Senado da Medida Provisória (MP) 1.147/2022, que isenta as aéreas do pagamento de PIS/Cofins até 2026, impulsionou os papéis do setor na sexta-feira (26)
- Analistas projetam um impacto positivo, com alívio no curto prazo. Contudo, incertezas sobre o cenário à frente seguem no radar
A aprovação pelo Senado da Medida Provisória (MP) 1.147/2022, que isenta as aéreas do pagamento de PIS/Cofins até 2026, impulsionou os papéis do setor na sexta-feira (26). Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) encerraram em alta de 2,88% e 5,63%, respectivamente. Analistas projetam um impacto positivo, com alívio no curto prazo. Contudo, incertezas sobre o cenário à frente seguem no radar, como alta exposição ao mercado interno e redução das tarifas, por exemplo.
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A MP, que ainda depende de sanção presidencial, reduziu a 0% as alíquotas da contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) incidentes sobre as receitas da atividade de transporte aéreo regular de passageiros entre 1º de janeiro de 2023 e 31 de dezembro de 2026, segundo a Agência Senado.
O texto, que institui isenção similar para o setor de eventos, foi aprovado na noite de quarta-feira, mas os relatórios de casas de análise sobre as contas de impacto somente foram divulgados na sexta-feira.
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O BTG Pactual calcula que a medida pode elevar em R$ 575 milhões o Ebitda previsto para a Gol em 2023 e em R$ 511 milhões o da Azul. As cifras representam altas de 13% e 10%, respectivamente, ante as projeções atuais do banco. Os analistas Lucas Marquiori e Fernanda Recchia classificam a isenção como uma “evolução positiva” que pode trazer alívio para o caixa das aéreas no curto prazo.
Ainda nos cálculos do BTG, na hipótese de que o benefício seja válido ao longo dos próximos quatro anos, isso significa valor presente líquido incremental de R$ 5,4 por ação para a Gol, R$ 4,0 por ação para a Azul e 6 pesos chilenos por ação para a Latam.
A Genial Investimentos também avaliou a notícia positivamente por “auxiliar as companhias em sua jornada de recuperação pós-pandemia”. Com a nova medida, a casa de análise estima um incremento de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões de Ebitda por mês, o que se traduz em um aumento entre R$ 120 milhões e R$ 150 milhões por trimestre em 2023.
Conforme apurou o Broadcast, o texto já trouxe uma economia somada de até R$ 330 milhões para a Gol e Azul nos primeiros cinco meses de 2023. No caso da Azul, o impacto foi de R$ 200 milhões entre janeiro e maio, afirmou o CEO da companhia, John Rodgerson, durante a teleconferência de resultados do primeiro trimestre, em maio.
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Já a Gol informou que a isenção teve um impacto positivo de aproximadamente R$ 130 milhões para o caixa da companhia no primeiro trimestre deste ano. A economia pode chegar a cerca de R$ 500 milhões no acumulado do ano. “Com a aprovação final, esse seria um upside em relação ao nosso guidance”, disse o CEO da empresa, Celso Ferrer, também durante a teleconferência de resultados promovida no final de abril.
A Latam não divulgou publicamente o impacto da isenção do PIS/Cofins. No entanto, o BTG projeta um impulso de US$ 124 milhões no Ebitda da companhia neste ano, avanço de 6% quando comparado às estimativas atuais do banco.
A Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear) comemorou o aval do Senado, destacando que a renúncia fiscal vinha sendo aguardada pelo setor desde 2020. “É fundamental que retomemos as condições de custos operacionais que já vivemos anos atrás e que a população volte a ter capacidade de consumo”, disse a empresa, em nota enviada ao Broadcast nesta semana. Gol, Latam e Azul se pronunciaram por meio da entidade.
A expectativa é de que a MP barateie custos das empresas, e, consequentemente, preços para o consumidor. “Os setores de eventos serão beneficiados com a redução da carga tributária e terão um fôlego financeiro considerável. Então, pressupõe-se que essa redução seja passada para o consumidor”, diz o advogado Denis Camargo Passerotti, sócio do escritório Passerotti Sociedade de Advogados.
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Por outro lado, o especialista pondera que essa renúncia fiscal do governo através da redução das alíquotas pode aumentar o endividamento da União e ter um preço alto no futuro.
Incertezas
Apesar de ver a notícia com bons olhos para a Gol e Azul, o BTG Pactual diz manter a preferência por companhias aéreas com maior exposição a rotas internacionais, como Copa, Latam e a Volaris. A aposta nesses nomes reflete balanços mais fortes, maior potencial de melhoria de tráfego e avaliações de curto prazo mais favoráveis em comparação com Azul e Gol, justificam Marquiori e Recchia. A análise, inclusive, levou o banco a reduzir as recomendações e preços-alvo para as duas empresas nesta semana, destacando também a alta alavancagem.
Para a Genial, a demanda resiliente e renegociações de dívida recém-anunciadas, por exemplo, deverão auxiliar os resultados das companhias nos próximos trimestres. “Apesar da materialização de um cenário menos estressante do que projetamos, entendemos que ainda existe muita volatilidade nas principais variáveis do setor (câmbio e petróleo)”, ponderaram os analistas Ygor Bastos e Bernardo Noel.
Entre março de 2019 a março de 2023, o querosene de aviação (QAV) subiu aproximadamente 114%, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). “Os preços das passagens aéreas são muito sensíveis a variações no preço do combustível”, afirmou o órgão, destacando que o QAV representa, atualmente, cerca de 40% dos custos das empresas aéreas. A agência também ressaltou o impacto da desvalorização do real frente ao dólar, que foi de cerca de 35% no mesmo período.
Na mesma linha, apesar de considerar a medida favorável para os players locais, Rafael Passos, sócio da Ajax Investimentos, enumerou pontos ainda sensíveis ao olhar para o desempenho das empresas. “Elas ainda precisam mostrar maior potencial de melhoria de tráfego e números operacionais mais saudáveis para destravarem maior valor no médio prazo.”
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