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A compra do Twitter por Elon Musk se tornou um drama em Wall Street

Será preciso convencer investidores de que as ambições do tuiteiro-chefe podem justificar seu endividamento

A compra do Twitter por Elon Musk se tornou um drama em Wall Street
Foto: Patrick Pleul/Pool via AP
  • Conquistar a responsabilidade de financiar as ambições de aquisição do homem mais rico do mundo era considerado uma ótima jogada em abril
  • Mas, então, seguiram-se meses de incerteza a respeito da concretização da venda, enquanto Musk hesitava. E no momento em que ele concordou em comprar a firma de tecnologia com base em São Francisco, em outubro, os mercados de crédito estavam cambaleando
  • A compra do Twitter foi apenas mais uma das muitas transações alavancadas turbulentas, causando problemas para Wall Street

Elon Musk é o novo dono do Twitter, o que coloca fim a meses de incerteza no Vale do Silício e entre acionistas. Ainda assim, para credores em Wall Street, o drama está longe de acabar, já que eles precisarão convencer investidores que as ambições do tuiteiro-chefe para a empresa podem justificar seu pesado endividamento.

Com o acordo de US$ 44 bilhões já fechado, um fundo liderado pelo Morgan Stanley que forneceu cerca de US$ 13 bilhões para o financiamento do empréstimo que ajudou a pagar pela aquisição do Twitter está agora sobrecarregado por dívidas arriscadas que ele jamais quis manter no seu portfólio. Os bancos enfrentam agora a indesejável tarefa de vender as dívidas sem grande prejuízo — e isso não será fácil.

Para começar, o custo do crédito está nas alturas.

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Os juros dos títulos podres mais arriscados, faixa em que a dívida mais insegura e arriscada do Twitter seria provavelmente cotada, subiram para 15,4%, bem acima da taxa máxima de 11,75% que os bancos prometeram a Musk sobre aquela porção do financiamento da dívida. Isso forçaria os bancos a oferecer grandes descontos se quiserem repassá-la a investidores institucionais nos índices atuais, e eles terão que arcar com essa diferença — perdas maiores que US$ 500 milhões, aproximadamente, para o pacote inteiro da dívida.

Os bancos, assim como Musk, também terão de explicar por que o problema de robôs no Twitter não é problema nenhum e como a empresa será capaz de arcar com sua enorme carga de juros, que, segundo uma estimativa, está em aproximadamente US$ 1,2 bilhão ao ano. Sem um plano rápido de recuperação, novas fontes de lucro e cortes de custos, o Twitter queimará dinheiro.

Um representante do Morgan Stanley não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

Musk tornou-se o único diretor do Twitter após a saída de Parag Agrawal, que foi despedido juntamente com outros altos executivos após a compra.

O controvertido acordo, também financiado com US$ 33,5 bilhões em ações de Musk e outros financiadores, deixou muitos insatisfeitos, incluindo funcionários do Twitter, alguns usuários da plataforma em todo o mundo e, pode-se argumentar, até o próprio Musk, dado o valor da transação — que agora parece exageradamente alto, em razão de uma baixa no mercado de ações.

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Conquistar a responsabilidade de financiar as ambições de aquisição do homem mais rico do mundo era considerado uma ótima jogada em abril. O Morgan Stanley demonstrou o maior compromisso com o negócio, seguido pelo Bank of America, o Barclays e o Mitsubishi UFJ Financial Group Inc. Representantes dos três bancos se recusaram a comentar o assunto.

Mas, então, seguiram-se meses de incerteza a respeito da concretização da venda, enquanto Musk hesitava. E no momento em que ele concordou em comprar a firma de tecnologia com base em São Francisco, em outubro, os mercados de crédito estavam cambaleando. Mesmo que eles pudessem ter tentado vender obrigações e empréstimos para ajudar a financiar o acordo, os bancos mal tiveram tempo de se movimentar até o prazo estabelecido pela Justiça, em 28 de outubro.

A compra do Twitter foi apenas mais uma das muitas transações alavancadas turbulentas, causando problemas para Wall Street neste ciclo mais recente, apesar de em uma escala muito menor do que durante a Grande Crise Financeira de 2007-2008, quando os bancos enfrentaram um acúmulo de dívida de mais de US$ 200 bilhões.

Os bancos já usaram cerca de US$ 30 bilhões de seu próprio dinheiro este ano para financiar empréstimos para aquisições e compras alavancadas que não conseguiram vender aos investidores, e acrescentar o Twitter à pilha faz esse montante ultrapassar US$ 40 bilhões.

Os credores de Wall Street também perderam bilhões de dólares em desvalorizações este ano, depois que bancos centrais de todo o mundo começaram a elevar juros para conter inflação, levando os custos dos empréstimos para acima das taxas de juros máximas que eles prometiam em mega-acordos. Um outro grupo de bancos registrou aproximadamente US$ 600 milhões em perdas na compra alavancada da Citrix Systems, em setembro, e foi forçado a financiar cerca de US$ 6,5 bilhões da dívida. Credores que financiaram a compra alavancada da Nielsen Holdings ficaram com uma dívida de mais de US$ 8 bilhões no colo.

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Musk agora tem grandes planos a respeito de como ele usará o Twitter como base de seu novo “aplicativo para toda obra”, X.com. Depois de passar meses criticando a empresa de rede social por seu problema com robôs e um delator, enquanto tentou pular fora do acordo, Musk prometeu agora ajudar seus banqueiros a venderem a dívida para gestores financeiros.

Esses potenciais compradores terão como foco a saúde do Twitter enquanto empresa. As condições de crédito pioraram nos meses recentes em meio à alta inflação, elevando juros rapidamente, assim como temores de recessão. Com a demanda dos tomadores de empréstimo limitada, os bancos agora encontram-se como credores diretos da plataforma de rede social, em vez de provedores de uma ponte financeira temporária, como costuma ocorrer.

Os credores planejavam vender US$ 6,5 bilhões dos empréstimos alavancados para investidores, juntamente com US$ 6 bilhões em títulos podres distribuídos igualmente entre notas seguradas e não seguradas. Eles também forneceram US$ 500 milhões por meio de um tipo de empréstimo chamado de facilidade em crédito rotativo, que eles tipicamente planejariam manter para si — mas não ficou claro se isso foi foi retirado ou mantido quando o acordo foi fechado.

Por fim, quando os mercados se acalmarem, os bancos provavelmente tentarão vender pelo menos parte da dívida para investidores, que será quando eles finalmente liquidarão suas perdas — a não ser que haja um grande e inesperado repique no apetite ao risco do mercado./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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