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“Fomos aos EUA em busca do investidor de longo prazo”, diz CEO da Arco

Para Ari de Sá Neto, CEO da Arco Educação, o setor da educação necessita de um capital "paciente"

“Fomos aos EUA em busca do investidor de longo prazo”, diz CEO da Arco
O IPO da companhia foi realizado no dia 25 de setembro de 2018. (Foto: Arco Educacao)
  • A Arco Educação realizou IPO no dia 25 de setembro de 2018 na bolsa de Nasdaq, nos Estados Unidos. A companhia conseguiu arrecadar US$ 180 milhões
  • A ida para os EUA foi motivada pela busca de um perfil de investidores com visão de longo prazo. Segundo o CEO da companhia, os retornos no setor da educação costumam surgir em um intervalo de 5 a 10 anos
  • Com o mercado norte-americano em queda devido ao aumento da taxa de juros, Ari de Sá Neto afirmou que o foco da empresa está voltado para as melhorias operacionais

A educação é um tipo de investimento que requer tempo para alcançar resultados sólidos. E quando esse retorno chega, não vem como data de “validade”. Trata-se de um “bem” para a vida toda. Na ótica do mercado financeiro, as características do setor se encaixam perfeitamente ao perfil de investidor com visão de longo prazo: paciente para alcançar uma boa rentabilidade.

Foi baseado nesta perspectiva que a Arco Educação, companhia brasileira focada em soluções educacionais, decidiu abrir capital na bolsa de Nasdaq, nos Estados Unidos, em setembro de 2018. O mercado norte-americano, além do alto volume de liquidez, reunia e ainda reúne esse público mais alinhado ao modelo de negócio da empresa. “Os investimentos que nós fazemos em inovação, em tecnologia e em crescimento são investimentos que demoram bastante tempo para dar retorno. Por isso, precisamos de um capital (considerado) “paciente””, ressalta Neto.

Na época, a bolsa de Nasdaq seguia em movimento de alta. De janeiro de 2018 até o dia 25 de setembro do mesmo ano, período que a Arco realizou o seu IPO, o índice de Nasdaq apresentou uma alta de 15,2%. Diante desse clima positivo para os investimentos, a companhia conseguiu captar US$ 180 milhões.

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Mas quase quatro anos depois, o cenário no mercado de ações já não é mais o mesmo. No acumulado deste ano, o mesmo índice apresenta uma queda de 16,6% devido ao ciclo de alta de juros nos EUA para conter o aumento da inflação. A realidade ajuda a puxar para baixo a performance dos papéis da companhia. E as ações da Arco Educação não ficaram de fora do mau humor para os negócios. Os papéis amargam uma queda de 20,5% durante o mesmo período.

Mesmo com as ações performando no negativo, Neto afirma que o foco da companhia está nas melhorias operacionais. “Já vimos outros momentos turbulentos como esse ao longo da história e as empresas que prevalecem são as empresas que conseguiram focar mais para dentro do seu negócio, na qualidade e no crescimento. É isso que estamos fazendo”, ressalta.

Ao E-Investidor, o CEO da Arco Educação falou ainda sobre os riscos das companhias brasileiras realizarem IPO nos Estados Unidos no atual momento e como a educação está alinhada às boas práticas de ESG.

E-Investidor  –  A companhia realizou o IPO na Nasdaq em 2018, num momento em que o cenário era de otimismo para a bolsa. As vantagens vistas há alguns anos ainda se sustentam diante da perspectiva de recessão econômica nos EUA?

Ari de Sá Neto  – As razões que motivaram a gente abrir capital nos Estados Unidos são as mesmas até hoje. Nós queríamos estar exposto a uma base de investidores que tenham uma visão global sobre educação e tecnologia. Então, independentemente do contexto macroeconômico, com guerra, inflação e covid, os investidores que queríamos ter acesso só seria alcançado nos EUA. Fomos muito mais pelo perfil de investidor de longo prazo que desejávamos ter como sócios do que propriamente o contexto macroeconômico (da época).

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Por que esse perfil de investidor é tão importante para a Arco?

Neto  – A nossa empresa atua no setor da educação que tem ciclos muito longos. Os investimentos que nós fazemos em inovação, em tecnologia e em crescimento são investimentos que demoram bastante tempo para dar retorno. Por isso, precisamos de um capital (considerado) “paciente”. Não queremos aquele capital de curto prazo que você, por exemplo, abre uma loja ou inicia uma operação de e-commerce que no mês seguinte dará resultado.

De 2018 até o primeiro trimestre de 2022, houve um crescimento de 514% no número de investidores brasileiros na B3. Você acha que, durante esse período e com a entrada de novos investidores, o perfil de investimento do brasileiro mudou?

Neto – Eu acredito que tenha tido uma evolução no perfil do investidor brasileiro focado no longo prazo, mas acredito que no exterior ainda temos uma quantidade bem mais expressiva de investidores com esse horizonte.

Quais são os riscos para as empresas que desejam abrir capital neste atual cenário macroeconômico?

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Neto  – Para levantar capital no atual contexto macroeconômico, certamente terá muitos desafios. É preciso ter paciência e esperar um pouco até você encontrar um cenário macroeconômico um pouco melhor. Do ponto de vista do nosso aprendizado, acho que vale muito a pena as empresas se prepararem com antecedência. Ter um negócio que cresce, economicamente saudável e que gere caixa para executar bem a abertura de capital.

Desde o início da pandemia, as ações da Arco estão em queda. Esse movimento de baixa gera muita preocupação para a companhia?

Neto  – O nosso foco é completamente construir uma empresa referência na área de educação no Brasil. Então, certamente, vão existir momentos turbulentos de curto prazo, mas estamos concentrados no nosso dia a dia, na nossa operação e evolução. É o que a companhia tem controle maior. Já vimos outros momentos turbulentos como esse ao longo da história e as empresas que prevalecem são as que conseguem focar mais para dentro do seu negócio, na qualidade e no crescimento. É isso que estamos fazendo.

O setor de educação foi um dos mais afetados pela pandemia de covid-19. O que os últimos dois anos trouxeram de novas perspectivas para a Arco?

Neto – A pandemia trouxe, principalmente, duas necessidades muito grandes por parte dos nossos clientes que são as escolas. A primeira necessidade é o uso maior de tecnologia. Nós tínhamos uma plataforma que já tinha uma série de funcionalidades de tecnologia para o ensino e muitos conteúdos on-line, e ficamos muito bem posicionado. Investimos muito mais na pandemia de tal forma que o mercado se abriu para as soluções para a educação básica que tem uma tecnologia de ponta, que é o nosso caso.

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A segunda necessidade é a gestão. Como as escolas enfrentam momentos muito desafiadores, os mentores das escolas passaram a olhar mais para soluções que pudessem ajudá-los na gestão. E dentro da Arco, há uma área que está crescendo bastante, que é ligada para soluções voltadas para a gestão e não para o pedagógico. Acho que essas necessidades surgiram tanto para a tecnologia quanto para as soluções de gestão.

No ano passado, a Arco realizou a compra da edtech Eduqo e da startup EduPass. As duas empresas têm atuação na oferta de conteúdos educacionais em modelo de ensino on-line. As aquisições fazem parte desse objetivo?

Neto – As duas plataformas apostam muito no uso da tecnologia. No caso da Edupass, seria para a formação de um profissional. E no caso da Eduqo, seria para entregar mais conteúdos online com o objetivo de oferecer ao aluno e ao professor uma experiência bem melhor na hora de assistir a uma videoaula e na hora de fazer um exercício de casa, feita de forma virtual.

Algumas corretoras e analistas apontam que as empresas alinhadas às boas práticas de ESG devem sobreviver no longo prazo e atrair novos investidores. O fato da Arco Educação atuar com o ensino já a torna mais competitiva neste mercado?

Neto – O nosso propósito já é ESG, muito antes de se discutir esse termo. Temos uma atividade na sociedade que é evoluir a aprendizagem dos alunos e melhorar a qualidade de ensino das escolas. Essa atividade por si só gera um impacto na sociedade muito relevante. Então, ficamos felizes com a tendência de consolidação do ESG que é a algo que a gente vem fazendo há tempos pela própria natureza do nosso negócio. Agora, tem outros aspectos que são contemplados no ESG que são muito importantes, tais como governança e meio ambiente. E temos tentado também avançar nessas outras dimensões por meio da atuação com o nosso Instituto Arco, que busca transferir as nossas capacidades de gestão em educação nas escolas públicas. Temos buscado também ter um Conselho de Administração mais independente e mais diverso.

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Como você enxerga a Arco Educação nos próximos 10 anos? 

Neto – Fizemos diversas aquisições e tornamos o nosso portfólio de soluções muito mais completo e robusto. Então, nós estamos em um momento de concentrar nas interações desses processos, evoluir as estruturas e os produtos que compramos. Queremos ser uma plataforma completa para as escolas brasileiras. Agora, olhando para um horizonte maior, temos um sonho de estar fora do Brasil, provavelmente na América Latina, exportando as nossas soluções para as escolas desses países.

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