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- O mercado financeiro do Canadá abriga 42% das empresas de capital aberto do setor de mineração do mundo
- São cerca de 1.200 empresas listadas nas duas bolsas de lá pertencentes ao grupo, a TSX – a principal – e a TSXV, para empresas que estão se preparando para chegar à primeira
- Loui Anastasopoulos, presidente da bolsa de valores de Toronto, veio ao Brasil para iniciar parceria com a B3 para incentivar a dupla listagem de empresas de mineração
O que um país que fatura cerca de R$ 250 bilhões por ano com a mineração e possui uma das maiores empresas do ramo no mundo, a Vale (VALE3), tem a aprender com o Canadá neste setor? Muito, especialmente no desenvolvimento de negócios em estágio inicial, segundo Loui Anastasopoulos, presidente da bolsa de valores de Toronto e head global de formação de capital do Grupo TMX, dono da plataforma de negociações canadense.
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O mercado financeiro do Canadá abriga 42% das empresas de capital aberto do setor de mineração do mundo, a maioria considerada early stage, que no jargão empresarial se refere às companhias ainda novatas, com potencial para crescer e figurar entre as grandes no cenário internacional. São cerca de 1.200 empresas listadas nas duas bolsas de lá pertencentes ao grupo, a TSX – a principal – e a TSXV, para empresas que estão se preparando para chegar à primeira. “Temos uma conexão muito forte com o Brasil e a América Latina”, diz, em entrevista ao E-Investidor.
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O executivo esteve no Brasil para ampliar a relação com o mercado brasileiro e iniciar uma parceria com a B3, dona da Bolsa brasileira, com o objetivo de incentivar a abertura de capital de empresas de mineração em ambos os países (dupla listagem). No entanto, a visita ocorre em um momento em que o mercado levanta dúvidas em relação ao setor de mineração.
A maioria das incertezas atuais está relacionada à queda de preço dos minerais no mercado internacional e à desaceleração da economia da China, país que vinha, até recentemente, puxando o crescimento da demanda por metais. Porém, Anastasopoulos, diz estar tranquilo diante do quadro turbulento. “Nos meus anos na bolsa vi dois ou três ciclos de baixa e acredito que, em algum momento, as coisas retornarão ao que já observamos antes”, afirma, ao mencionar a eletrificação de veículos e a energia renovável como os grandes direcionadores do próximo impulso dos minerais. “Acredito em preços de commodities mais altos no futuro.”
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Confira os destaques da entrevista:
E-Investidor – Você veio ao Brasil para assinar um memorando de parceria com a B3. No que consiste essa parceria?
Loui Anastasopoulos – Essencialmente, trata-se de unir a base de investidores no Brasil, a base de investidores no Canadá, nossa experiência no mercado de small caps e a expertise da B3. Temos a intenção de construir um ecossistema que facilite a dupla listagem de empresas de pesquisa mineral com sede no Brasil. E ao combinar capacidades, as companhias podem se beneficiar do acesso à base de investidores nacionais e internacionais de Brasil e Canadá.
Esperamos criar um mecanismo de financiamento que permita que empresas de mineração em estágio inicial possam acessar os mercados públicos e, eventualmente, abrir seu capital, pois acho que o Brasil ainda não está totalmente preparado para financiar empresas de capital reduzido. Isso é algo que fazemos muito bem.
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Por que as empresas de mineração do mundo todo abrem capital no Canadá?
Somos especialistas em mineração e energia. Temos mais de 1.200 empresas de mineração listadas na TSX e na TSXV. Cerca de 40% do capital levantado no setor de mineração no mundo entre 2019 e 2023 foi realizado em nossos mercados. Somente na América Latina, temos mais de 400 empresas com operações em mais de 1 mil propriedades. No Brasil, são 37 empresas minerando 95 propriedades. Esses números mostram que temos uma conexão muito forte com o Brasil e a América Latina. Acreditamos que podemos trazer esse conhecimento institucional que temos na base de investidores do Canadá para apoiar o que os empreendedores no Brasil estão buscando realizar.
Você fala de oportunidades na mineração em um momento em que analistas do setor estão preocupados com os baixos preços do minério de ferro, a economia da China em desaceleração e possível recessão em 2025. Como você vê esse cenário?
Vemos isso como uma questão cíclica. Nos meus anos na bolsa, vi dois ou três ciclos de baixa e acredito que, em algum momento, as coisas retornarão ao que já observamos antes. Considerando o crescimento global e tudo relacionado à eletrificação de veículos e energia renovável, todos esses itens requerem minerais críticos. Então, a demanda não vai desaparecer, só continuará crescendo. Atualmente, as commodities estão em um ciclo de baixa, mas esperamos que isso mude. Não posso dizer quando, se em seis meses, um ano ou dois anos, mas, como em outros ciclos que vimos no passado, inevitavelmente haverá uma recuperação, e veremos investimentos fortes. Acredito em preços de commodities mais altos no futuro.
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Quem pode liderar essa mudança de cenário que você enxerga? A Índia, talvez?
Acho que qualquer uma das grandes economias globais pode liderar, aquelas que têm as maiores concessões e que estão investindo na eletrificação e em energia renovável. Então, um país como a Índia pode ser um candidato óbvio, mas o Brasil também pode desempenhar um papel significativo. É difícil dizer com certeza, mas as maiores economias, que são as maiores consumidoras, devem liderar esse caminho.
Em relação a temas ESG, especialmente no âmbito das mudanças climáticas, como a indústria de mineração pode contribuir?
Essa é uma pergunta complexa, porque cada local tem suas peculiaridades. Não existe uma solução única para todos. Cada mercado pensa sobre sustentabilidade de maneira distinta. Há padrões globais sendo discutidos e implementados, mas acho que a discussão em cada país deve responder a pergunta: “Esses padrões são adequados para este país e para os tipos de empresas que operam aqui?”
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No Canadá, por exemplo, nossas empresas são muito pequenas. A média de valor de mercado pode ser inferior a US$ 50 milhões, então, será que empresas desse porte têm capacidade de seguir o padrão global? Elas têm recursos para isso? Há investidores que buscam isso? Sim, investidores globais de grande porte buscam transparência e sustentabilidade, com muitos relatórios, mas quando você entra no mercado de small caps a base de investidores muda e os interesses dos investidores também. Por isso, digo que é uma questão complexa, pois depende do porte da empresa e da jurisdição, e cada um enxerga isso de maneira muito diferente. Para nós, estamos focados em educar nossos emissores sobre o que consideramos um bom relatório e o que achamos que os investidores procuram, mas deixamos que as empresas decidam o que é certo para elas e para seus conselhos.