- Influenciadora afirma que teve apenas de "acelerar" a mudança de rumo do negócio, que terá como principal aposta o lançamento de um app nas próximas semanas
- Arcuri irá abrir mão da receita com cursos para investidores pessoas físicas, mas irá manter cursos subsidiados a funcionários de empresas
- A CEO da Me Poupe! também irá dissociar cada vez mais a sua imagem da empresa, deixando de ser uma influencer para pensar nos rumos do negócio
Em um cenário de juros altos, inflação global e risco fiscal que ronda o novo governo, que seca a torneira do capital de risco, as demissões em massa vêm atingindo, além do setor de tecnologia, o mercado financeiro e as fintechs. São bancos, como a XP e C6, e também influenciadores de investimentos, como o Primo Rico. Não foi diferente com Nathalia Arcuri, CEO da Me Poupe!, que demitiu cerca de 70 pessoas, metade do seu quadro de funcionários, no dia 27 de janeiro.
A influenciadora Nathalia Arcuri conversou com o E-Investidor sobre os novos rumos da startup. A Me Poupe! irá deixar de oferecer cursos sobre educação financeira para pessoas físicas e aposta em um app que usa inteligência artificial, que será lançado nas próximas semanas. Segundo Arcuri, existem 400 mil pessoas na lista de espera do produto.
Questionada sobre se a crise econômica também atingiu a Me Poupe!, Arcuri nega. A influenciadora afirma que teve apenas de “acelerar” a mudança de rumo do negócio, que terá como principal aposta o lançamento de um app nas próximas semanas.
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Ao contrário de outras empresas, que precisaram reduzir seu time para manter a receita, a CEO da Me Poupe! aponta que precisou reduzir a sua equipe porque “acabou com o modelo de negócio que representava 94% da receita da companhia e registrava crescimento “ano após ano”. “Trocamos a certeza pela incerteza. Tomamos essa decisão difícil para no futuro não acontecer com a gente o que está acontecendo com outras empresas”, diz.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
E-Investidor – O app da Me Poupe! vai ter como base a sua metodologia de ensino e dar recomendações personalizadas conforme metas financeiras de cada usuário. Quais são as limitações da tecnologia?
Nathalia Arcuri – Estamos lançando o aplicativo para acelerar a conquista de metas, criar hábitos saudáveis e facilitar o ato de poupar e o de investir. Vamos automatizar, colocando investimentos como recorrentes. Para isso teremos um parceiro, uma corretora de valores, reconhecida no Brasil e com mais de 20 anos de história, que vai atribuir quais serão os principais investimentos para cada meta, sempre levando em consideração o perfil desse investidor.
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Iremos oferecer investimentos seguros: vamos trabalhar apenas com a renda fixa. Entendemos que é o mais adequado em um cenário de taxa Selic do jeito que está, e quando consideramos que muitos brasileiros não têm educação financeira e colocam parte do dinheiro em um título de capitalização ou consórcio para se forçar a criar o hábito de poupar. São produtos nocivos, onde quem ganha é o banco, e não ele.
A gente quer mostrar para essa pessoa que, sim, ela é capaz de poupar e de ganhar muito mais do que na poupança sem correr risco, pelo menos neste momento.
Você fala muito sobre independência, indicar produtos que estejam alinhados com esses valores. Como foi a escolha desse parceiro?
Arcuri – Houve uma discussão interna de que o mercado de corretoras virou commoditie. Então o que precisávamos era de um parceiro que aceitasse as nossas regras, e inclusive criasse estruturas que levasse em consideração a nossa necessidade de sermos isentos e indicar sempre os melhores investimentos para essa população. Essa foi a nossa condição.
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Qual é o novo foco da Me Poupe! com o aplicativo?
Arcuri – Precisamos endereçar esse produto para todo mundo que não é o 1% mais rico do Brasil. Porque para esse cliente, de alta renda, que tem mais de R$ 300 mil para investir, todos os private bankings estão olhando para ele. Mas quem ganha menos de R$ 5 mil no Brasil é visto como uma carteira de crédito, e isso é insustentável. Então estamos olhando para essas pessoas e para quem continua com o dinheiro na poupança.
A gente acredita que todos consigam realizar objetivos financeiros de forma mais saudável, seja do ponto de vista financeiro e comportamental. O excesso de dívidas está deixando as pessoas doentes, depressivas e faz com que tenham um desempenho pior no trabalho. Meu foco é nas classes C, D, E e F.
Existem rumores de que você deve sair das redes, mas você é a cara da Me Poupe! Você anunciou que irá ampliar o time de porta-vozes. Como será essa transição?
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Arcuri – A intenção nunca foi que eu me transformasse em uma influenciadora. Quando comecei o negócio lá atrás eu não tinha recursos: a Nathalia era a voz, a estratégia e único meio de captação de recursos para a empresa. Como consequência, durante muito tempo a empresa se baseou e se capitalizou na minha imagem. Acontece que isso não é sustentável e nem escalável. E meu grande objetivo sempre foi fazer com que a metodologia que eu criei fosse escalável.
A dissociação da minha imagem foi algo que sempre provoquei no time, mas tínhamos dificuldades para implementar. Com essa virada de chave, decisões difíceis aconteceram. Então eu decidi que essa transição também vai acontecer e precisamos aprender a fazer de outro jeito. Ela será suave. Não preciso desaparecer das redes sociais da noite para o dia.
Para ocupar esse lugar, não dá para trazermos pessoas para a empresa só porque elas têm redes grandes. O core da metodologia precisa ser perpetuado. Então no ano passado eu fiz uma seleção entre os meus alunos que se destacaram para serem faróis dentro dos nossos treinamentos. Tenho cinco pessoas que trabalham comigo e para as quais fui passando esse jeito de ensinar. E elas estão sendo introduzidas dentro dos nossos materiais, canais e redes. Agora que elas estão mais preparadas para falar com o público, estão sendo introduzidas ao vídeo.
A operação no dia a dia será tocada pelo co-CEO e você vai ficar com o cerne do negócio?
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Arcuri – Sim, e serei a porta-voz da Me Poupe!. É o que fiz em Davos: fui porta-voz não só da empresa, mas de um capitalismo sustentável. Meu objetivo inicial era transformar a educação financeira em mainstream. Não existia E-Investidor quando eu comecei. E eu sentia muita falta que isso existisse. Meu primeiro movimento era ter certeza de que o assunto estava coberto por gente responsável. Isso foi cumprido.
O meu outro objetivo é inverter a lógica do sistema financeiro, e colocar o poder do dinheiro nas mãos de todas as pessoas. Porque apesar da educação financeira estar sendo falada as pessoas continuam tomando decisões erradas com o dinheiro. Elas precisam de algo mais efetivo do que aconselhamento.
Estamos vivendo um momento de crise e demissões. Entendo que você já falava desse novo modelo antes da virada do mercado, mas pelo menos em parte essa crise pegou a Me Poupe! também?
Arcuri – Não, a crise não afetou os negócios da Me Poupe!. Eu poderia usar isso como uma justificativa, mas não vou. Houve uma necessidade de evoluir mais depressa, exigida pelo mercado. A nossa motivação é justamente a crise das pessoas: no momento em que as pessoas estão perdendo seus empregos e sua capacidade de receita elas precisam cuidar da saúde financeira delas. E pode soar contraditório: as pessoas perdem receita e você demite? Mas eu precisava fazer isso.
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Existia o desejo de fazer uma transição mais suave, mas percebemos que se continuássemos mantendo o pé no modelo de educação que era o que nos sustentava e tinha ano contra ano crescimento financeiro nos impedia de colocar o app na rua e crescer em tecnologia. A decisão difícil foi essa: abrir mão da certeza em nome da incerteza.
O que repensamos no final do ano passado, quando tomamos essa decisão difícil de abrir mão do modelo que nos trouxe até aqui, é que poderíamos colocar o nosso modelo de educação financeira na mão de milhões de pessoas. Poderíamos continuar a ganhar dinheiro sem escalar ou podemos escalar ganhando menos dinheiro.
Desde o começo da Me Poupe! o dinheiro foi o último item de prioridade. Nossa empresa tem como premissa o impacto antes do dinheiro, mas não quer dizer que dinheiro não seja importante. E os cortes vieram justamente por isso: eu não vou conseguir manter essas pessoas se o modelo que me trazia receita não vai ser mais usado. Ao contrário do mercado que precisou reduzir seu time para manter sua receita a gente precisou reduzir o time porque a gente acabou com modelo de receita que representava 94% da receita da companhia.
Então vocês vão ficar com 6% da receita que ganhavam?
Arcuri – Neste ano sim. Mas teremos que expandir o que nos traz 6%, que é o modelo B2B. A ideia é ter mais escala em todos os cursos. O nosso curso que é carro-chefe, no qual conseguimos mensurar resultados, tem tíquete de R$ 2,4 mil: é inviável para a maioria da população.
Então como distribuímos esse produto de forma sustentável? A forma que encontramos é fazer boas parcerias B2B que subsidiem esses produtos para seus funcionários.
Também acreditamos muito nos fundamentos do app, mas não podemos acreditar que no primeiro ano de operação esse negócio vai voar. Estou tomando decisões para não acontecer com a gente o que está acontecendo com outras empresas: crescer sem ter os indicadores da empresa muito bem consolidados.
Queremos provar que é possível ser uma empresa de impacto, que no seu core business tenha a transformação social, que sempre foi a educação financeira. Mas não podemos abrir mão do resultado financeiro: não somos uma ONG. Somos uma empresa que tem de gerar resultado.
Se conseguirmos trazer 1 milhão de pessoas para dentro do nosso aplicativo, e melhorar de forma quantitativa e comprovada a vida financeira do cliente, a gente consegue provar ao mercado que é possível, sim, ser uma empresa muito valiosa e gerar valor para os clientes, e não só para si própria.
As demissões já estavam previstas? Há quem tenha dito que você contratou e demitiu depois de um mês. Como você se defende de acusações de falta de planejamento?
Arcuri – Tem o ruído e a realidade. É difícil quando você tem a sua vida empresarial exposta, quando pega um caso e toma pelo todo. Poderiam dizer também que damos licença paternidade de quatro meses para os nossos funcionários. E isso não apareceu.
Uma empresa é falível. A gente não é perfeito. Qual é a justificativa? A justificativa é que não estávamos prontos para tomar essa decisão, e na hora que a gente ficou pronto a gente tomou. Não vi ninguém falando de cada funcionário demitido por outras empresas e pegando caso a caso. E queria entender por que todo mundo está trazendo um caso para a minha empresa.
É que apareceu porque você é um figura mais exposta.
Arcuri – A gente precisa se perguntar por quê. E se queremos continuar colocando a mulher na fogueira ou se a gente quer reduzir ruído. Isso não é do jogo? Preciso dar justificativa sobre a gestão da minha empresa? Sou uma empresa pública, com gestão publica? Nem tenho capital aberto. Eu pago todos os meus impostos, e são muitos. O governo é meu único sócio hoje. Para mim não tem problema explicar, mas há um peso por trás desse questionamento. Parece que estamos fazendo algo errado, quando estamos apenas gerindo uma empresa privada.
Tem alguma questão que gostaria de esclarecer?
Arcuri – Ser uma empresa com milhões de fãs é muito positivo. Mudamos a vida de milhões de pessoas através do conteúdo que a gente produz aqui. Mas mudamos muitas vidas nos baseando em uma única imagem, e a gente sabe que quando há uma personificação atrai o outro lado da moeda, que não são fãs e querem apontar os erros. É o mundo das redes sociais hoje. Precisamos saber separar o que é realidade, ruído, emoção e razão.
Você recolocaria a sua fala de que a notícia do corte foi mais positiva do que negativa?
As pessoas distorcem tudo. Eu não tenho nada a declarar sobre isso.