

A compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), anunciada na última sexta-feira (28), é uma das maiores movimentações recentes do setor bancário brasileiro. Com a aquisição, a instituição controlada pelo governo do Distrito Federal fará sua base de clientes aumentar de 9 para 15 milhões, enquanto os ativos vão saltar de R$ 61 bilhões para R$ 112 bi. Mas leva junto os desafios que vinham rondando a gestão do banco fundado por Daniel Vorcaro.
O mercado ainda monitora a operação de perto, tentando entender qual será o desenho do negócio, o impacto na liquidez do sistema financeiro e se ganhará o aval do Banco Central. Há ainda a possibilidade de que o BTG Pactual entre na jogada.
A repercussão do caso tem sido negativa entre alguns especialistas, que veem na operação uma cartilha que já aconteceu em outros episódios envolvendo bancos no País. Do ponto de vista de governança corporativa, a compra do Master pelo BRB é um escândalo que não se trata apenas de má alocação de recursos, avalia Fabio Alperowitch.
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Alperowitch é fundador da FAMA re.capital e um dos principais nomes do mercado financeiro brasileiro em investimentos de impacto e ESG. Em artigo publicado no Linkedin na segunda-feira (31), o gestor fez duras críticas ao que chamou de “socorro” do Master. “O caso expõe de forma escancarada o funcionamento de um sistema que premia comportamentos irresponsáveis – e transfere o risco para a sociedade”, escreveu.
A avaliação é que a estratégia de negócios do Master era agressiva ao captar recursos de investidores pessoas físicas oferecendo altas taxas graças à blindagem do FGC. E que contava com a conivência das corretoras que promoviam o produto do banco. “O capital captado era destinado a investimentos de alto risco, alguns deles com indícios de manipulação, como no caso das ações da Ambipar. O Master apostava alto: se ganhasse, ganhava muito; se perdesse, o prejuízo não era seu. Era do FGC. E agora, de todos nós”, diz Alperowitch.
É por isso que o gestor classifica a decisão de socorro do BRB ao Master uma “afronta à governança”. Trata-se de um banco público utilizando os recursos para salvar um banco privado – a velha história de mercado em que o risco é privatizado, mas o prejuízo, socializado.
“Em um país com urgências sociais gritantes, usar recursos estatais para salvar uma instituição financeira privada que construiu seu modelo com base no risco dos outros é, no mínimo, imoral. O Brasil precisa rever com urgência os mecanismos que permitem esse tipo de operação. O silêncio institucional, a falta de responsabilização e a naturalização desses resgates apenas fortalecem um modelo que mina a confiança no sistema financeiro e nas instituições públicas”, afirmou.
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O E-Investidor tem conversado com especialistas para entender os riscos – ou vantagens – da operação. Afinal, o Banco Master se tornou um dos emissores preferidos de investidores pessoa física ao oferecer Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com taxas bem acima da média do mercado. Veja a cobertura completa:
- OPINIÃO: Banco Master, “grande demais para quebrar”?
- “O BRB vai ter que arcar com as taxas dos CDBs do Banco Master”, diz Abradin
- Master e BRB têm tamanho suficiente para acabar com a liquidez do FGC, diz Marília Fontes
- Veja o que acontece com os seus CDBs após BRB comprar o Banco Master
A polêmica da compra do Master
O mercado brasileiro foi surpreendido pela notícia de compra de 58% do capital total do Banco Master pelo BRB. Desde então, vem tentando entender os detalhes da operação. Em comunicado, o BRB explicou que as empresas manterão as estruturas das companhias apartadas, com compartilhamento de governança, expertise, sinergias e coordenação estratégica e operacional. A marca será apenas a do BRB.
A operação precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pelo Banco Central; e o presidente do BC, Gabriel Galípolo, já começou a ter as primeiras reuniões sobre o tema. Na segunda-feira (31), o executivo recebeu em Brasília o presidente do BRB, Paulo Henrique Bezerra Rodrigues Costa, e também se reuniu com André Esteves, chairman do BTG Pactual. Como mostrou o Estadão, o BC analisa uma saída alternativa para a negociação e uma das possibilidades na mesa seria incluir o BTG Pactual na operação.
A atuação agressiva do Master já vinha chamando a atenção há tempos, mas ganhou foco especial no final de 2024, quando uma reportagem da revista piauí se debruçou sobre a estratégia de expansão dos negócios do banco comandado por Daniel Vorcaro. Como mostramos aqui, na época, o crescimento rápido da carteira de crédito arriscado da instituição levantou um burburinho no mercado. Tudo isso enquanto se tornava o emissor queridinho do investidor pessoa física ao oferecer CDBs de até 140% do CDI.
Não há nenhum problema aparente no Master, mas a preocupação de especialistas é que, no caso de uma eventualidade, os títulos emitidos pelo banco comprometeriam cerca de 42% da liquidez total do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) – quem assume o pagamento de investimentos até R$ 250 mil para a pessoa física se uma instituição financeira quebrar ou não conseguir honrar as obrigações.
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A proteção do FGC foi utilizada como “muleta” por muitas corretoras para vender CDBs de bancos pequenos e médios aos clientes. E isso vinha preocupando até o Banco Central, como mostrou esta reportagem do Estadão.
O temor principal é de que um problema em um banco pequeno ou médio gere um risco sistêmico; ou seja, ao comprometer a liquidez do FGC, crie uma reação em cadeia que afete outras instituições. É por isso que para pessoas do mercado, o Master ficou “grande demais para quebrar”. Também por isso há quem veja a compra pelo BRB como um “socorro” por parte do banco estadual, uma medida de contenção de danos dado que uma crise de bancos custaria mais caro ao País.