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Como o aumento do dólar deixou os BCSs da Ásia em apuros

As recentes mudanças nas taxas de juros do Fed também impactam diretamente nos mercados asiáticos

Como o aumento do dólar deixou os BCSs da Ásia em apuros
  • Os formuladores de políticas, que já estão lidando com a inflação mais rápida em décadas, agora se deparam com escolhas difíceis
  • O índice Bloomberg JPMorgan Asia Dollar está preparado para uma queda de 4,4% neste trimestre, o mais abrupto desde 1997, quando a crise financeira asiática atingiu várias vezes as moedas
  • As reservas na Tailândia e na Indonésia caíram para o menor patamar desde 2020

(WP Bloomberg/Karl Lester M. Yap e Xiao Zibang) – O aumento do dólar colocou as moedas asiáticas em direção ao seu pior trimestre desde 1997 e criou um dilema para os banqueiros centrais.

Os formuladores de políticas, que já estão lidando com a inflação mais rápida em décadas, agora se deparam com escolhas difíceis: aumentar energicamente os custos de empréstimos para defender moedas e arriscar prejudicar o crescimento, gastar reservas que levaram anos para serem construídas para intervir nos mercados de câmbio, ou apenas recuar e deixar o mercado seguir seu curso.

“Os bancos centrais estão em uma posição difícil para restrições, mesmo que a recuperação da pandemia ainda não esteja completa e com o fantasma de uma recessão nos Estados Unidos pela frente”, disse Eugenia Victorino, chefe de estratégia da Ásia na Skandinaviska Enskilda Banken em Cingapura. “Para deixar a situação ainda mais complicada, o dólar está forte, o que aumenta a pressão para ajustes à medida que moedas fracas exacerbam a inflação importada.”

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A maioria das moedas asiáticas emergentes caiu, liderada pelo won sul-coreano, conforme os investidores cada vez mais preocupados com uma recessão nos EUA recorriam à segurança do dólar. O peso filipino, a rupia indiana e o baht tailandês também caíram.

O índice Bloomberg JPMorgan Asia Dollar está preparado para uma queda de 4,4% neste trimestre, o mais abrupto desde 1997, quando a crise financeira asiática atingiu várias vezes as moedas.

Os bancos centrais na Ásia têm ficado para trás dos colegas de mercados emergentes no aumento das taxas à proporção tentam impulsionar a recuperação da pandemia. Embora por razões diferentes, o iene perdeu 11% de seu valor em relação ao dólar desde o final de março, em meio a um crescente diferencial de rendimento à medida que o Federal Reserve aumenta as taxas de juros, enquanto o Bank of Japan segue sua política monetária flexível.

Mas os bancos centrais da Ásia talvez tenham que mudar de estratégia conforme os preços ao consumidor sobem de forma constante e as moedas mais fracas aumentam as preocupações com a inflação importada. O Bangko Sentral ng Pilipinas, o banco central das Filipinas, sinalizou pelo menos mais um aumento de taxa de juros em agosto, depois de duas alterações de 0,25 ponto porcentual, enquanto o Bank of Korea manteve a porta aberta para um aumento maior que o habitual em julho.

“A inflação está se mostrando persistente e os bancos centrais podem ter que avançar antes do previsto e ser ainda mais agressivos que o esperado”, disse Eddie Cheung, estrategista sênior de mercados emergentes do Credit Agricole CIB em Hong Kong. “O crescimento está aguentando a pressão por enquanto e isso dá aos bancos margem de manobra para focar no combate à inflação.”

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Aumentos de taxas de juros mais rápidos e agressivos podem fortalecer as moedas asiáticas, que enfraqueceram este trimestre à medida que o Fed iniciou aumentos de taxas agressivas, com o won sul-coreano e o peso filipino caindo mais de 5% em relação ao dólar.

A depreciação da moeda pode fazer com que os bancos centrais da região adotem medidas mais severas “se aumentar a inflação liderada pelas importações, além da inflação do lado da oferta já vista”, escreveram economistas do Morgan Stanley liderados por Deyi Tan em um relatório publicado no domingo. Os analistas esperam que os aumentos das taxas continuem aumentando as expectativas de inflação.

Os bancos centrais já tiraram bilhões de dólares de suas reservas de moedas estrangeiras para desacelerar a queda de suas moedas. As reservas na Tailândia e na Indonésia caíram para o menor patamar desde 2020, conforme as autoridades se comprometem a reduzir a volatilidade em suas moedas, embora, até agora, estejam adiando o aumento das taxas.

Mas o pior talvez ainda esteja por vir para as moedas asiáticas, já que o Fed sinalizou outro grande aumento em julho, com os traders estipulando um aumento de 75 pontos base. O Goldman Sachs alertou que moedas de alto rendimento, como a rupia indiana e a rupia indonésia, talvez sejam abaladas em meio à deterioração das finanças externas e à proporção que as medidas mais severas do Fed estimulam o sentimento de risco.

Na verdade, mesmo com a queda das moedas, “é improvável que os bancos centrais de toda a região cheguem perto de igualar os aumentos de taxas do Fed”, escreveu em um relatório Miguel Chanco, economista-chefe de mercado emergente da Ásia na Pantheon Macroeconomics , na segunda-feira. “As reservas permanecem amplas e provavelmente continuarão a ser usadas para se apoiar contra a volatilidade excessiva da moeda.”

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(Tradução de Romina Cácia)

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