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VALE3: como as ações se comportam com a variação dos minérios?

Recuperação das atividades econômicas na China aumenta expectativa de alta para ações de empresas de mineração e siderurgia, como a VALE3

VALE3: como as ações se comportam com a variação dos minérios?
Ação da VALE3 poderá ser beneficiada com o cenário favorável à retomada de exportações de minérios. (Foto: Shutterstock)
  • O preço da VALE3 está intrinsecamente relacionado às oscilações do valor do minério de ferro
  • Desde março de 2020, quando a pandemia começou, o preço do minério com teor de 62% de ferro dobrou por conta da redução de oferta provocada pela crise
  • Em 2021, o produto teve valorização de quase 40% no porto de Qingdao, na China, e registrou o recorde de US$ 220 por tonelada em maio

(Aléxis Cerqueira Góis, especial para o E-Investidor) –  As ações da mineradora Vale (VALE3) devem se beneficiar de um novo ciclo mundial de alta das commodities impulsionado pela retomada econômica dos Estados Unidos e da China. A recuperação global pós-crise do novo coronavírus, dentro de um contexto de mudança de matriz energética, aumenta a procura por produtos como o minério de ferro.

A multinacional brasileira é líder mundial na produção da matéria-prima para a fabricação do aço, presente em bens que nos relacionamos diariamente, como automóveis, eletrodomésticos e celulares. As rochas extraídas da mina de Carajás, maior operação da companhia, têm o mais alto teor de minério de ferro do planeta, colocando a empresa em uma posição estratégica pela qualidade de seu produto.

O preço da VALE3 está intrinsecamente relacionado às oscilações do valor da commodity. Entretanto, o cenário atual mostra que pode haver um certo deslocamento das ações da companhia em relação às variações do preço do minério de ferro. Isso se dá por uma conjuntura econômica favorável à mineradora a longo prazo.

Como está o mercado de minério de ferro?

Trabalho com minério de ferro em uma indústria
Minério de ferro é a principal matéria-prima do aço. (Foto: Shutterstock/T photography/Reprodução)

Desde março de 2020, quando a pandemia começou, o preço do minério com teor de 62% de ferro dobrou por conta da redução de oferta provocada pela crise. Em 2021, o produto teve valorização de quase 40% no porto de Qingdao, na China, e registrou o recorde de US$ 220 por tonelada em maio.

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Os finos de minério, com pureza acima de 65%, que têm origem no Brasil, também atingiram uma marca histórica. A tonelada do produto chegou a ficar próxima do patamar de US$ 270 no principal porto chinês.

A forte valorização levou os chineses a promover uma campanha para conter os avanços nos preços da commodity. A Comissão de Reforma e Desenvolvimento (NDRC) da China chegou a afirmar que irá “punir severamente” monopólios, que seriam responsáveis por uma “especulação excessiva” no setor. A ação do governo chinês causou uma queda no mercado. Entretanto, a desvalorização demorou pouco tempo, devido à força das condições no ambiente global.

Produção chinesa de aço

Em 2021, a indústria de aço no gigante asiático, principal consumidor global do minério de ferro, pode ter um volume de produção maior do que 1 bilhão de toneladas pelo segundo ano consecutivo. O movimento é puxado pelo aquecimento do setor siderúrgico, que busca atender ao crescimento da demanda após incentivos governamentais na China.

No primeiro trimestre do ano, os chineses produziram 271 milhões de toneladas de aço bruto, um crescimento de 15,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Caso a produção chinesa de aço bruto aumente 6% até 2025, acompanhando o crescimento médio dos últimos 5 anos, a demanda por minério de ferro deve crescer aproximadamente 101 milhões de toneladas por ano.

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Esse volume extra é equivalente à soma da recuperação da produção da Vale, que deve adicionar mais 65 milhões de toneladas no volume estimado até 2025, e da CSN Mineração, que também tem a China como principal mercado e deve aumentar 37 milhões de toneladas em sua produção no mesmo período.

Quais são as perspectivas para o setor de minério?

Com o reaquecimento nas principais economias do mundo e a tendência de descarbonização, a demanda pelo minério deve aumentar. Por outro lado, o setor enfrenta uma escassez de investimentos para crescimento da capacidade produtiva nos últimos anos e não há previsão de grande aumento da oferta para os próximos três anos.

Os dois principais exportadores da commodity, Brasil e Austrália, devem manter a estabilidade na produção. Com isso, qualquer aquecimento na demanda do minério de ferro significa uma pressão extra de valorização do produto.

Fundamentos da VALE3

Pessoa vestindo um terno exibe um smartphone com o logo da Vale
VALE3 tem potencial de valorização, mesmo com baixa no preço global do minério de ferro. (Foto: Shutterstock/Gabriel_Ramos/Reprodução)

O aumento da produção da Vale foi mais lento do que o esperado, de acordo com relatório mensal da Ágora Investimentos. As vendas em 2021 foram reduzidas de 340 milhões de toneladas para 315 milhões de toneladas. Apesar da redução, o resultado da VALE3 deve continuar sustentável por conta dos preços do minério de ferro mais altos.

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A corretora de investimento estima que a Vale gere cerca de US$ 30 bilhões de EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) com FCFE (fluxo de caixa livre para o acionista) de cerca de US$ 16 bilhões. Os dividendos totais devem ficar em US$ 9 bilhões, para um rendimento de dividendos de 10%.

Segundo o relatório, a Vale está bem posicionada para fechar as lacunas existentes em diferentes frentes, o que deve impulsionar uma melhor precificação em relação aos pares australianos. Para os analistas, a VALE3 continua a ser negociada abaixo de seu valor de mercado.

Nos curto e médio prazos, a mineradora deve se beneficiar pelo aumento de sua produção de minério de ferro, ainda que mais tímido do que o esperado, e pela valorização do produto. No cenário macroeconômico, as baixas taxas de juros, a expansão fiscal e um dólar mais fraco favorecem um novo ciclo de investimentos globais, com a produção industrial chinesa permanecendo forte.

A VALE3 tem um potencial de valorização sustentado pela retomada de produção, pela oferta de um minério de melhor qualidade, além de um múltiplo EV/EBITDA abaixo dos níveis históricos/pares, bem como uma forte geração de caixa e pagamentos de dividendos.

Quais são os riscos para a VALE3?

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Dados comerciais da China, o maior consumidor de minério de ferro do mundo, indicam uma diminuição da demanda pela matéria-prima, sinalizando um corte na produção de aço no País. As importações chinesas em maio chegaram ao menor nível do ano, com 89,79 milhões de toneladas.

Alguns fatores podem afetar as perspectivas a curto prazo, como estoques estáveis nos portos chineses, sinais de desaceleração da infraestrutura e do mercado imobiliário na China, além do aumento do uso de sucata de aço, segundo Adrian Prendergast, analista da Morgans, em relatório.

No Brasil, as operações da Vale no entorno da barragem Xingu, na mina Alegria, foram interditadas, o que suspendeu a circulação de trens que escoam a produção da Usina Timbopeba, com impacto estimado de cerca de 33 mil toneladas de finos de minério de ferro por dia.

Dessa forma, em um curto prazo, o investidor deve ficar atento às informações sobre a atividade econômica na China, em especial sobre os estoques chineses de minério de ferro, e os obstáculos enfrentados dentro do Brasil. No entanto, as expectativas para a ação de mineradoras e siderúrgicas, como a VALE3, são de continuidade da tendência de valorização a longo prazo.

Fonte: Ágora Investimentos.

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