

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano, e indicar dois ajustes de mesma magnitude para as próximas reuniões está ditando os rumos do mercado brasileiro nesta quinta-feira (12). Na Bolsa, as ações brasileiras passam por uma sangria e só uma das 86 presentes na carteira teórica do Ibovespa conseguiu arrancar uma valorização ao longo do pregão.
O Ibovespa encerrou o pregão com uma queda de 2,74%, a 126.042,21 pontos. Foi a maior perda diária para o índice desde 2 de janeiro de 2023, quando caiu 3,06%.O dólar, que havia iniciado a sessão em queda forte, inverteu o sinal e voltou a subir, encerrando o dia a R$ 6,0072, com uma alta de 0,86%.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, explica que o cenário traçado pelo BC, de Selic a 14,25% ao ano já em março de 2025, torna o investimento em ações menos atrativo e penaliza especialmente aqueles nomes mais sensíveis a juros, com alto endividamento ou ligados à economia doméstica. Justamente os que lideram as quedas do Ibovespa no pregão.
“Já está tendo um reflexo nas empresas que têm dívidas em CDI, pois os resultados financeiros no primeiro trimestre de 2025 serão piores do que o planejado“, afirma Cruz. “Há alguns casos específicos, pois o impacto é maior em alguns setores, mas vemos o setor de supermercados, Magazine Luiza (MGLU3), que é uma companhia que tem muita dívida de curto prazo em CDI, sofrendo mais.”
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O desempenho negativo do Ibovespa reverte a sequência de três pregões consecutivos de alta na Bolsa brasileira. Na quarta-feira (11), enquanto investidores aguardavam a decisão do Copom, o IBOV fechou o dia com um salto de 1,06%, na casa de 129 mil pontos.
Dólar reverte queda após leilão e fecha em alta, acima de R$ 6
Junto à decisão de subir a Selic, o Banco Central anunciou a realização de dois leilões de linha de até US$ 4,0 bilhões na manhã desta quinta-feira. O leilão de linha é o nome dado a uma operação conjugada de leilão de venda e de compra de moeda estrangeira no mercado interbancário de câmbio, na modalidade pós-fixado Selic. Na prática, o BC injeta dólares no mercado para tentar estabilizar a cotação.
O anúncio fez o dólar abrir a sessão a R$ 5,89, no menor patamar de abertura do mês de dezembro. Nos primeiros minutos do pregão, às 09h07, o dólar à vista chegou a cair 1,45% frente o real, cotado a R$ 5,8691.
“A sinalização de mais dois possíveis aumentos na mesma magnitude na Selic, caso as expectativas de inflação não sejam devidamente ancoradas, tem atraído fluxo de investidores para o Brasil, especialmente diante de avanços recentes no campo fiscal. Além disso, os dois leilões de linhas de dólar contribuem para aumentar a liquidez no mercado, aliviando as pressões sobre o câmbio”, diz Diego Costa, head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T Câmbio.
Mas a queda foi revertida já ao longo da manhã. No início da tarde, a cotação do dólar voltou a subir e superar a casa de R$ 6.
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Para Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, os leilões de dólar do BC ajudam em uma pequena queda do dólar, mas tem efeito limitado. “Como é leilão já com compromisso de recompra, não seria ‘dólar novo’, por isso acredito que terão efeito limitado.”
A intervenção no mercado à vista melhora temporariamente a liquidez, mas não resolve questões estruturais que sustentam a volatilidade, sobretudo em um cenário de persistentes incertezas sobre a trajetória fiscal do Brasil. É o que explica Costa, da B&T Câmbio. “O pacote fiscal do governo enfrenta resistência no Congresso, com debates prolongados em torno de pontos sensíveis, como o fundo do Distrito Federal e o BPC. Apesar de avanços, como a consolidação da proposta de correção permanente do salário-mínimo, permanecem dúvidas sobre o alcance e a viabilidade das medidas necessárias para equilibrar as contas públicas, ainda alimentando o clima de incerteza e pressão sobre o mercado.”
Depois de bater a máxima da sessão no início da tarde, a R$ 6,0400, o dólar encerrou o pregão cotado a R$ 6,0072, com uma alta de 0,86%.