Ricardo Nunes ou Guilherme Boulos: que prefeito de SP pode impulsionar as ações das construtoras?

Analistas explicam qual proposta de candidato à prefeitura de SP deve beneficiar ativos das empresas do setor com o programa Pode Entrar, de moradia popular

Ricardo Nunes ou Guilherme Boulos: que prefeito de SP pode impulsionar as ações das construtoras?
Veja qual candidato à prefeito de SP deve beneficiar as construtoras (Foto: Envato Elements)
  • Quatro construtoras de baixa renda tiveram suas vendas impactadas pelo Pode Entrar
  • Guilherme Boulos e Ricardo Nunes contam suas propostas para o programa à vésperas da eleição
  • Analistas fazem estimativas e revelam qual construtora pode ser a mais beneficiada pelo Pode Entrar

O segundo turno da eleição para prefeito de São Paulo acontece neste próximo domingo (27). A decisão entre Guilherme Boulos e Ricardo Nunes pode até impactar a vida de pessoas que não moram em São Paulo. Isso porque a prefeitura paulista tem parceria com empresas de capital aberto no programa Pode Entrar, que constrói moradia popular para as mães solteiras. As construtoras MRV (MRVE3), Plano&Plano (PLPL3), Tenda (TEND3) e Direcional (DIRR3) mostraram impactos significativos do programa em suas prévias operacionais, ou seja, o futuro prefeito da cidade de São Paulo pode tomar decisões que podem impulsionar ou fazer as ações dessas empresas desabarem ao longo de 2025.

Na prévia do terceiro trimestre de 2024, a empresa que mostrou ter o maior impacto em suas receitas foi a Tenda, com 35,45% de suas vendas vindo do Pode Entrar. A construtora foi seguida por Plano&Plano (29,4%), Direcional (15,4%) e MRV (10,5%).

Ou seja, a decisão de Guilherme Boulos ou de Ricardo Nunes sobre a manutenção da parceria da prefeitura com essas empresas no Pode Entrar tende a resultar impactos significativos em cada uma delas. Para entender o que as pessoas podem esperar de cada candidato, caso ele seja eleito, o E-Investidor consultou as campanhas de Ricardo Nunes e Guilherme Boulos para entender as propostas de cada um.

Quais são as propostas de Guilherme Boulos e Ricardo Nunes para o Pode Entrar?

Em posicionamento enviado ao E-Investidor, o prefeito e candidato Nunes disse que o programa, somado às demais iniciativas, viabilizou 72 mil unidades habitacionais de interesse social. Questionado sobre quais empresas poderiam participar em seu próximo mandato, o candidato comentou que todas as construtoras que participaram do processo licitatório anterior poderão, sim, se habilitar para as novas fases do programa. Ele não citou nenhum nome específico.

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O candidato, apoiado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), estima que cerca de R$ 2,3 bilhões serão injetados no programa em 2025. O candidato não falou de valores para os próximos anos, mas disse que as novas unidades seriam viabilizadas conforme disponibilidade orçamentária.

Guilherme Boulos não revelou quanto iria investir no Pode Entrar. Em nota ao E-Investidor, o candidato afirmou que pretende construir 50 mil unidades habitacionais de interesse social, somando a continuidade de unidades contratadas e a construção de novas moradias, por meio de programa municipal próprio e da parceria com o programa Minha Casa, Minha Vida.

A gestão do candidato, apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), aspira beneficiar ao menos 250 mil famílias, garantindo a elas títulos de posse e propriedade em áreas periféricas. “Não vamos descontinuar programas que trazem benefícios diretos à população e pretendemos aprimorar o Pode Entrar, inclusive em parceria com a iniciativa privada em alguns casos, desde que seguindo regras de transparência”, explica Boulos.

A campanha do candidato do PSOL enviou uma nota à nossa reportagem a respeito desse tema: “A atual gestão focou em comprar imóveis prontos do setor imobiliário e não na construção de imóveis para habitação de interesse social voltados a famílias de baixa renda, que são as que mais carecem de moradia.” Diz a nota: “Vamos aprimorar o Pode Entrar, mapeando os principais déficits de moradia na cidade para que o programa de fato atenda a população que mais precisa. Por exemplo, na gestão de Ricardo Nunes a maior parte dos empreendimentos do Pode Entrar Empresas está na zona norte, enquanto o maior déficit é na zona sul.”

Boulos complementa, discordando dos números de Nunes: “No programa de governo, a Prefeitura afirma ter 72 mil unidades habitacionais entregues, em obras ou contratadas. Mas de 2021 até agosto deste ano, não havia nem 10,5 mil entregues de fato. Sem falar nos dados inflados de regularização fundiária, como mostrou a Folha de S. Paulo em reportagem de 10 de maio deste ano.”

Guilherme Boulos ou Ricardo Nunes: veja quem pode beneficiar as ações de construtoras

Na visão de analistas ouvidos pelo E-Investidor, uma vitória de Ricardo Nunes significaria uma estabilidade para as construtoras, visto que o programa atual é de sua gestão. Já a vitória de Guilherme Boulos seria uma incerteza – poderia melhorar ainda mais a situação ou ficar  aquém do esperado.

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Para Rafael Ragazi, sócio e analista de ações da Nord Research, o programa Pode Entrar é um programa muito positivo para as construtoras, visto que ele ajuda no aumento de vendas e na geração de caixa. Para ele, uma vitória de Ricardo Nunes para prefeito de São Paulo significaria a continuidade do programa, o que seria positivo para as empresas do setor.

No caso de uma vitória de Guilherme Boulos, Ragazi acredita que há grandes chances de o programa ser incrementado e receber mais investimentos. Segundo ele, historicamente os governos de esquerda tendem a investir no setor de construção civil para baixa renda, não só para entregar moradia para as pessoas menos favorecidas da sociedade, mas também com foco em movimentar a economia em busca de geração de emprego. “Em caso de vitória do Boulos, acredito que ele vai querer impulsionar o programa para colocar seu nome no projeto”, argumenta Ragazi.

Já Hulisses Dias, especialista em finanças e investimentos, comenta que Ricardo Nunes, como atual prefeito de São Paulo, já lidera a execução do programa, garantindo previsibilidade e continuidade nos investimentos em habitação popular. Segundo ele, a manutenção de Nunes no poder beneficia construtoras como Tenda, Plano & Plano e Direcional, que já possuem contratos garantidos dentro do Pode Entrar. Boulos, acrescenta o analista, seria o desconhecido que diz pretender aprimorar o programa, mas sem dar grandes detalhes de como faria isso.

Quais ações podem se destacar com o Pode Entrar?

Os analistas deixam claro que as ações da Tenda devem continuar com a maior fatia do programa após a eleição para prefeitura de São Paulo. Rafael Ragazi, da Nord, argumenta que a Tenda será a mais beneficiada: a companhia tende a manter o patamar elevado de suas receitas relacionadas ao programa. A companhia já pegou a expertise do sistema e deve continuar dominando o cenário ao longo de 2025.

Hulisses Dias também entende que a ação da companhia deve dominar o cenário. O especialista calcula que a Tenda pode gerar um lucro adicional de cerca de R$ 42 milhões em 2025, considerando o volume de unidades contratadas e a projeção de receita vinda dos mais de R$ 500 milhões em Valor Geral de Vendas (VGV) garantidos.

“A Plano & Plano, também com participação expressiva no programa, pode registrar um acréscimo de aproximadamente R$ 35 milhões no lucro, com base nos contratos que somam mais de R$ 350 milhões em VGV. Já a MRV, que tem uma atuação mais limitada no programa, deve apresentar uma geração de caixa de aproximadamente R$ 40 milhões ao final de 2024, com um impacto mais modesto nas receitas de 2025”, calcula Dias.

Qual ação de construtora o investidor deve comprar agora?

Entre as empresas que fazem parte do programa, os analistas se dividem sobre qual ação o investidor deve comprar agora. Rafael Ragazi, da Nord, tem a ação da MRV como a sua favorita do setor, mesmo ela não sendo o grande destaque do Pode Entrar. Ele afirma que tem preferência pelas ações da companhia com base nas projeções da própria MRV – a construtora estima lucrar R$ 1,5 bilhão entre os próximos três a 5 anos. A empresa encerrou 2023 com lucro de R$ 82 milhões e, em 2024, soma um lucro de R$ 266 milhões em seis meses.

O analista reforça que hoje a empresa lucra muito menos e tem um valor de mercado de R$ 3,9 bilhões. “Se o valor de mercado da empresa acompanhar a projeção de lucro e receita, a companhia deveria valer R$ 22,5 bilhões em três anos, o que seria uma potencial valorização de 6 vezes sobre o valor atual do ativo no mercado”, comenta Ragazi.

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Já Hulisses Dias analisa que, entre as quatro ações que fazem parte do Pode Entrar, a que está em melhor situação é a Plano&Plano. A empresa possui caixa líquido, oferecendo maior segurança em um cenário de taxas de juros elevadas. Além disso, apresenta forte crescimento em lançamentos e vendas, apoiada por um banco de terrenos robusto que garante a continuidade das operações.

No entanto, ela lembra que está com recomendação neutra para todas as ações do segmento de baixa renda. Diz enxergar oportunidades com maior assimetria e menos riscos em outros setores, como os de alta renda. “No setor de construção civil, minha preferência é Moura Dubeux (MDNE3), que atua no segmento de alta renda e está sendo negociada a um preço atrativo, considerando as perspectivas de geração de resultados robustos nos próximos trimestres”, argumenta.

Já os analistas do Itaú BBA apontam que possuem a Direcional (DIRR3) como a sua ação favorita entre as da construção de baixa renda. Segundo os analistas, a empresa está com uma tendência operacional sólida e uma melhora robusta no fluxo de caixa. “Isso sugere que a empresa pode se tornar uma grande pagadora de dividendos, com um dividend yield (rendimento em dividendos) de 12% em 2025”, salienta Daniel Gasparete e sua equipe, que assinam o relatório do Itaú BBA.

Os analistas explicam que isso pode acontecer devido ao fluxo caixa da companhia, que chegou a bater os R$ 117 milhões no terceiro trimestre de 2024 – primeiro período de fluxo de caixa positivo desde o segundo trimestre de 2023. No entanto, os especialistas alertam que a inflação da construção, que tem acelerado nos últimos meses.

“Continuamos a favorecer as construtoras de baixa renda em relação às empresas de renda média a alta, mas sinalizamos que nossa preferência relativa pelos primeiros diminuiu devido ao posicionamento pesado e riscos mais altos para entregar as metas de lançamentos”, explica Daniel Gasparete e sua equipe.

Mesmo com o risco da inflação da construção, os analistas do Itaú BBA mantiveram sua recomendação de compra para as ações da Direcional (DIRR3) e mantiveram o ativo como o seu favorito entre as construtoras. O preço-alvo para a ação é de R$ 35 para os próximos 12 meses, potencial alta de 14% na comparação com o fechamento de quinta-feira (24), quando a ação encerrou o pregão a R$ 30,71.

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Em linhas gerais, os analistas lembram que, independentemente da vitória de Guilherme Boulos e Ricardo Nunes, a perspectiva é de que a Tenda saia ganhando com o Pode Entrar. Ainda assim, os analistas se dividem sobre qual ação o investidor deve ter carteira, visto que a favorita de cada um é distinta, apontando para uma diversificação na carteira entre MRV, Moura Dubeux e Direcional.

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