Comercial da Havaianas com Fernanda Torres gerou polêmica Foto: Adobe Stock
As ações da Alpargatas (ALPA4) fecharam em queda na Bolsa brasileira nesta segunda-feira (22) e perderam R$ 152 milhões em valor de mercado em uma única sessão, segundo dados da Elos Ayta Consultoria. Os papéis da empresa encerraram em baixa de 2,39%, a R$ 11,44. Mais cedo, chegaram a atingir mínima de R$ 11,26, quando tombaram 3,92%. O movimento ocorreu em meio a uma polêmica envolvendo a Havaianas, uma das marcas da companhia.
Políticos de direita têm criticado a nova campanha da empresa, que escolheu a atriz Fernanda Torres para apresentar o anúncio. No vídeo, a artista faz uma brincadeira com a expressão “pé direito” e deseja que as pessoas comecem 2026 com os “dois pés na porta, na estrada, na jaca”.
“Desculpa, mas eu não quero que você comece 2026 com o pé direito. Não é nada contra a sorte, mas vamos combinar: a sorte não depende de você. O que eu desejo é que você comece o ano novo com os dois pés. Os dois pés na porta, na estrada, na jaca, onde você quiser. Vai com tudo, de corpo e alma, da cabeça aos pés”, diz Torres.
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Em sua conta no Instagram, Eduardo Bolsonaro afirmou que considerava os produtos da marca “um símbolo nacional”, mas repudiou a propaganda, dizendo que irá começar o ano com o pé direito e não será de Havaianas. Em vídeo, o político joga os chinelos da marca no lixo.
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Os deputados Bia Kicis (PL-DF) e Capitão Alberto Neto (PL-AM) também estimularam o boicote à marca nas redes. Em sua conta no X (antigo Twitter), Kicis declarou que se as “Havaianas não nos querem, nós também não queremos as Havaianas”. Alberto Neto foi na mesma linha: “Não compramos de quem nos ataca. Havaianas fora do nosso armário”.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), por sua vez, fez um trocadilho com o slogan mais conhecido da marca: “Havaianas: todo mundo usa”. Ele sugeriu que as pessoas vão parar de usar as sandálias. “Havaianas, nem todo mundo agora vai usar”, disse em sua conta no X.
Procurada pelo E-Investidor, a Alpargatas não se pronunciou sobre a polêmica. O espaço segue aberto para posicionamento.
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Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, sobre a questão da Havaianas, o impacto tende a se concentrar no curto prazo, sem força suficiente para alterar a trajetória da marca. “Essa leitura se apoia no histórico recente do mercado, especialmente em períodos eleitorais, quando executivos de grandes empresas se posicionaram publicamente e, no ciclo seguinte, esses movimentos não se traduziram em efeitos duradouros sobre os negócios”, destaca.
Segundo ele, na prática, o ruído costuma ficar restrito a grupos mais vocais, influenciadores ou nichos específicos, que reagem de forma mais intensa no calor do momento. “Isso pode gerar algum barulho negativo pontual, mas não uma mudança estrutural”, afirma.
Cruz também ressalta que a marca não enfrenta hoje um concorrente direto forte o suficiente para capturar uma eventual insatisfação pontual do consumidor. “Além disso, o foco estratégico da empresa está muito mais voltado à expansão internacional. No mercado interno, a marca já alcançou um nível de penetração próximo da saturação, o que reduz o impacto de movimentos conjunturais como esse”, avalia.
Em comentários nas redes, usuários chegaram a afirmar que comprariam sandálias da concorrente Ipanema, que pertence à Grendene (GRND3). As ações da empresa gaúcha também recuaram na Bolsa brasileira nesta segunda-feira, cedendo 0,19% a R$ 5,27.
Políticos de esquerda defendem a Havaianas
Após as críticas da direita à propaganda da Havaianas, políticos de esquerda reagiram e publicaram fotos com seus próprios chinelos. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) foi um deles. “Eu e as minhas Havaianas. Vou comprar umas novas no Natal e já sei os presentes que vou dar. Quem é brasileiro sabe o que é bom. Ainda estamos aqui Fernanda Torres! Democracia é valor que não se negocia!”, disse no X.
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O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) também comentou a polêmica. “Bolsonaristas agora estão boicotando até Havaianas. Pelo visto, na extrema direita brasileira, o único acessório liberado continua sendo a tornozeleira eletrônica”, afirmou.
Outra que se posicionou sobre o tema foi a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS). “A extrema direita resolveu declarar guerra à Havaianas. Motivo? Um comercial com Fernanda Torres sugeriu não começar o ano com o pé direito. Parece que até marca de chinelos virou ameaça ideológica agora”, declarou.