A B3deu início a uma estratégia para atrair empresas de menor porte, que agora vão poder se tornar companhias abertas pelo Regime Fácil, que foi criado este ano pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para baratear e facilitar o acesso das companhias menores ao mercado de capitais. Com o mercado para emissões de ações com perspectivas ainda incertas para 2026, a expectativa é que neste primeiro momento ocorram mais ofertas de renda fixa.
O Fácil chega num momento em que algumas grandes empresas estão deixando a B3 e o mercado enfrenta uma seca de quatro de anos sem novas companhias fazendo ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês).
Além da B3, a Bee4, único mercado regulado pela CVM dedicado às pequenas e médias empresas, também está empenhada em atrair companhias pelo novo regime e anunciou até um reality show para selecionar 10 que poderão se tornar empresas abertas.
Na B3, uma das iniciativas iniciais é participar de eventos e fazer cursos educativos para companhias nos mais diversos pontos do Brasil, saindo do eixo Rio/São Paulo. A Bolsa já foi a alguns eventos em cidades do Sul, Nordeste e Norte, e ainda conversou diretamente com companhias de menor porte com potencial de listagem. A Bolsa, porém, não revela estimativas de companhias que pode atrair.
“É um potencial gigante, no Brasil como um todo”, conta o superintendente de Desenvolvimento de Mercado para Emissores na B3, Fernando de Andrade Mota.
A diretora de Emissores e Relacionamento da B3, Flavia Mouta, observa que algumas empresas procuraram diretamente a Bolsa. No caso das ações, ela reconhece que o mercado, ainda sem perspectiva clara para voltar a ter operações de IPO, é desafiador para as menores companhias.
“O mercado está trabalhando para viabilizar e colocar o Fácil de pé. O cenário é o que temos acompanhado, não é um cenário fácil”, disse ela a jornalistas. “Sabemos dos desafios”, completou.
Nesse ambiente, a chance é maior para emissões de renda fixa.
“A expectativa é ter de início interesse maior em renda fixa. É um mercado que está mais ativo hoje”, disse Fernando Mota. “Temos um mercado de dívida corporativa muito intenso”, completou Flavia. “Acreditamos muito nesse mercado de renda fixa agora com o regime facilitado pelo Fácil.”
Faturamento até R$ 500 milhões
As regras do Fácil começam a valer a partir de janeiro de 2026, para emissões de ações e renda fixa. Pelas normas, são companhias com faturamento anual até R$ 500 milhões que podem captar até R$ 300 milhões por ano.
Após obter o registro de companhia abertas, essas empresas têm 24 meses para fazer uma emissão de renda fixa ou ações. Empresas já listadas na B3 que atendem os requisitos do Fácil vão poder migrar para o novo regime.
Publicidade
No caso das ações, a listagem dos papéis na B3 será no segmento básico da Bolsa, no mesmo ambiente das grandes companhias brasileiras. No passado, a Bolsa chegou a ter o Bovespa Mais, um mercado de acesso para companhias menores que acabou não dando certo. “O mercado brasileiro aprendeu. Há muito tempo que se tenta desenvolver um produto que seja adequado para essas companhias”, comenta Flavia. “Dessa vez, a CVM busca trazer flexibilidade que não havia quando o Bovespa Mais foi criado.”
A B3 lançou um guia sobre o novo regime e colocou sua equipe de executivos à disposição das empresas, ressalta Mota. O Fácil tem regras mais flexíveis, como substituição do Formulário de Referência pelo Formulário Fácil, com menor número de informações, e a divulgação de balanços em períodos semestrais, em vez de trimestrais, o que, por exemplo, reduz custos de auditoria. Há ainda isenção da apresentação do relatório de sustentabilidade e a possibilidade de cancelamento de registro mediante oferta pública de aquisição (OPA) com quórum reduzido.
Para se listar pelo Fácil, a empresa deverá ter registro na CVM como companhia aberta, que pode ser da categoria A (emissão de ações) ou B (renda fixa), ser uma sociedade anônima e estabelecer um Conselho de Administração.