Os resultados do questionário Pré-Copom de setembro, divulgados há pouco pelo Banco Central, mostram que um maior contingente de analistas do mercado financeiro (48%) observa riscos equilibrados para a projeção do IPCA – índice de inflação oficial – de 2023. Veem maior risco de baixa 23% e de alta, 29%. No Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês, o colegiado manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, decretando o fim do ciclo de alta de juros mais longo de sua história.
Leia também
Dentre os analistas consultados, a mediana para o IPCA de 2023 é de 5,00%, acima do teto da meta de 4,75%, mas a maioria já considera manutenção da bandeira verde na energia elétrica entre o fim deste ano e do próximo, portanto sem efeitos sobre o índice inflacionário. E tampouco prevê impactos com uma eventual reversão das desonerações tributária sobre os combustíveis em 2023.
Já o BC projeta oficialmente 4,6% para o IPCA do ano que vem, mas espera um efeito de alta sobre a inflação da mudança de bandeira, de verde para amarela. E também considera no cenário básico a reversão da zeragem de impostos federais sobre os combustíveis, o que, da mesma forma, imprime um impacto altista sobre sua projeção. Ou seja, se considerasse o mesmo cenário da maior parte do mercado, o Copom teria uma projeção ainda menor para o IPCA de 2023.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Conforme o questionário, 92% dos analistas participantes, de um total de 87, projeta bandeira verde no fim deste ano e 74%, de um total de 81 consultados, veem o mesmo cenário no final de 2023. Em relação às desonerações, a mediana no questionário aponta para um impacto potencial de -2,5 ponto porcentual este ano com o alívio tributário e de alta de 0,6pp no ano que vem devido a uma possível reversão da política. Incorporado às projeções, segundo a mediana, há um efeito de -2,0pp este ano, mas zero no ano que vem.
No Copom, o BC afirmou que vai avaliar se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de garantir a convergência da inflação, mas alertou que “não hesitará” em retomar o ciclo de alta caso a desinflação não ocorra como esperado.
Atualmente, o horizonte relevante do BC inclui os anos-calendário de 2023 e, em menor grau, de 2024. Mas devido às dúvidas sobre a manutenção ou não das desonerações tributárias o Copom preferiu dar ênfase ao horizonte de 12 meses até o primeiro trimestre de 2024, cuja projeção é de 3,5%. Para o fim de 2024, a estimativa do BC é de 2,8%, aquém do centro da meta de 3,0%. No Boletim Focus, a mediana é de 3,5%.
Discussão em alta neste momento, as estimativas medianas de hiato do produto mostram que a maioria do mercado acredita que a economia opera com ociosidade perto de zero neste momento, mas que deve aumentar. O BC trabalha com a estimativa de alguma ociosidade, conforme a ata do Copom.
Publicidade
A estimativa do mercado no questionário pré-Copom é de -0,2% no segundo trimestre, -0,3% no quarto e -0,7% no fim de 2023. Os números, porém, são menos negativos do que os estimados no pré-Copom de junho, última vez que o BC fez essa pergunta. Na oportunidade, eram de -1,5% para o fim de 2022 e também para o final de 2023.
O documento também mostra que o mercado financeiro elevou as projeções do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 (2,0% para 2,7%) e de 2023 (0,4% para 0,5%) entre as reuniões de agosto e setembro, após surpresas positivas com a atividade econômica. Para este ano, os analistas ainda veem maior probabilidade de crescimento mais robusto, já que 59% dos participantes embutem risco de alta na projeção.
No cenário de crédito, houve aumento relevante na previsão de aumento do saldo este ano, de 9,4% em junho para 12% agora. Já em relação às contas públicas, 46% dos 95 analistas consultados consideram que houve piora da situação desde o Copom de agosto, corroborando com a preocupação do BC, criticada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Cenário externo
Publicidade
No mundo, o mercado reduziu as projeções de crescimento do PIB da China, de 3,5% para 3,2% este ano, e dos Estados Unidos, de 2,0% para 1,7%, conforme a mediana do relatório. Para a zona do Euro, houve avanço de 2,4% para 2,7%, mas com desaceleração maior em 2023, para 0,5% (contra 1,1% antes).
Para inflação, houve aumento da previsão na área do Euro, que vive problemas com o fornecimento de energia devido à guerra na Ucrânia, de 7,5% para 8,2% em 2022 e de 3,2% para 4,5% em 2023. Nos EUA, a projeção mediana foi mantida em 7,5% este ano e subiu de 3,1% para 3,5% no ano que vem.
Já o cenário para a taxa de juros na economia americana passou de 3,50% para 4,0% no fim de 2022 e de 3,75% para 4,00% no término de 2023, conforme a mediana. Nesse contexto, 71% dos 102 participantes avaliaram que o cenário externo está menos favorável para economias emergentes.