Apesar da retórica hostil ao mercado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo deverá adotar uma abordagem “moderada” nas suas duas próximas decisões econômicas – que incluem a proposta de novo arcabouço fiscal e a indicação dos novos diretores de Política Monetária e Fiscalização do Banco Central -, avalia o Barclays, em relatório.
“Acreditamos que uma abordagem moderada vai prevalecer, no mínimo porque a base de apoio de Lula no Congresso ainda é desconhecida, então nomes ou propostas distantes do centro podem demorar mais para serem aprovadas no parlamento (ou, possivelmente, correm o risco de ficarem paradas lá)”, afirmam os analistas Roberto Secemski, Sebastian Vargas e Andrea Kiguel.
Para eles, a tendência é que o novo arcabouço – prometido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para esta semana – retire parte da incerteza expressa nos prêmios de risco de ativos brasileiros desde a aprovação da PEC da Transição. Por isso, os analistas veem espaço para uma melhora dos ativos no curto prazo.
O Barclays espera que o novo arcabouço combine quatro elementos: uma regra que permite crescimento das despesas menor que o da arrecadação; metas de médio prazo para gasto e receita, que eventualmente indiquem superávits primários; cláusulas de escape que permitam política contracíclica; e uma projeção de trajetória para a dívida pública.
Com isso, os agentes do mercado que esperavam uma regra mais próxima à do teto dos gastos podem se frustrar, mas aqueles mais preocupados com a direção indicada pelo arcabouço devem receber bem a proposta. O banco alerta, no entanto, que o arcabouço precisará indicar “gatilhos” que forcem o cumprimento das suas diretrizes para ser visto como crível.
“Caso contrário, os agentes do mercado podem entender a proposta como uma vaga ‘carta de intenções’ com fraca aplicabilidade, tornando-a inutilizável em caso de desvios significativos das metas”, afirmam.