A desaceleração da média dos cinco núcleos de inflação acompanhados pelo Banco Central (BC) no IPCA-15 de setembro (0,56% para 0,46%) sugere que o pico dos núcleos pode ter ficado para trás, afirma o Barclays em relatório. O resultado ficou mais próximo do piso (0,43%) do que da mediana (0,55%) de 23 estimativas do mercado coletadas pelo Projeções Broadcast.
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“O resultado foi melhor do que o consenso das expectativas, permitindo alguma desaceleração do indicador anual, a 10,18%, após três meses de um platô em torno do pico de 10,56% de junho”, escreve o economista para Brasil do Barclays, Roberto Secemski. “Pelo lado positivo, a média móvel trimestral anualizada dos índices de núcleos (com ajuste sazonal) desacelerou pelo terceiro mês seguido, a 8,3%, de 9,3% um mês atrás.”
O IPCA-15 registrou deflação de 0,37% em setembro, mais intensa do que a queda de 0,20% indicada pela mediana da pesquisa Projeções Broadcast. Após a divulgação do número, Secemski ajustou a estimativa preliminar para o IPCA fechado de setembro, agora indicando queda em torno de 0,20%. Um mês atrás, as projeções do banco sugeriam recuo de 0,10% do índice.
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O economista reconhece um “risco baixista modesto” para a projeção de IPCA de 2022 do banco, de 6,0%, devido à expectativa de deflação mais forte em setembro. Mesmo com o alívio no curto prazo e o sinal de que o pico da inflação de núcleos ficou para trás, Secemski nota que a tendência ainda é de um processo gradual de desinflação. O banco espera IPCA de 4,8% em 2023, praticamente no teto da meta perseguida pelo BC, de 4,75%.
“Continuamos vendo a maior parte do alívio no curto prazo sendo explicado pelas medidas recentes do governo para reduzir impostos; no entanto, a dinâmica dos núcleos de inflação é menos suscetível a essas mudanças, com os efeitos de segunda ordem demorando muito mais para se materializar”, afirma. O Barclays espera inflação de 9,4% para a média dos núcleos em 2022, mais de 3 pontos porcentuais acima do IPCA cheio.
Política monetária
O cenário de núcleos de inflação ainda elevados também sugere um espaço limitado para que o BC possa começar a reduzir os juros, de acordo com Secemski. Após a leitura da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada hoje, o economista reiterou a avaliação de que a taxa Selic deve ficar estável, em 13,75%, ao menos até junho de 2023, embora haja riscos de que o início do ciclo de cortes seja postergado.
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“Na nossa visão, o timing dos cortes será determinado por um declínio consistente dos núcleos de inflação, desenvolvimentos fiscais pós-eleições e pelo comportamento das expectativas de inflação, especialmente para 2024″, afirma. O cenário-base do Barclays é de Selic de 11,25% no fim de 2023, embora Secemski alerte que o ciclo de aperto pode ser retomado caso haja “acidentes fiscais” na discussão do Orçamento de 2023 ou no início do ano que vem.