Ações da Gol (GOLL54) têm levantado preocupações ao BTG. Foto: rafaelnlins - stock.adobe.com
Com um valor de mercado de R$ 240 bilhões, uma disparada de 1886% no preço de tela na quinta-feira (12) e um novo salto de quase 250% nesta sexta (13), as ações da Gol (GOLL54) vêm atravessando dias, no mínimo, turbulentos na Bolsa brasileira. Para o BTG Pactual, “algo parece fora do lugar” com os papéis da companhia aérea – expressão que dá título a um relatório enviado pelo banco a clientes nesta sexta-feira.
O BTG menciona que o valor de mercado implícito de R$ 240 bilhões, observado no fechamento do pregão de quinta-feira (12) e considerando a nova quantidade de ações, coloca a Gol como uma das empresas mais valiosas do Brasil, maior do que nomes como Weg (WEGE3), Localiza (RENT3) e Rumo (RAIL3). A distorção, no entanto, é que a companhia aérea acabou de sair de um Chapter 11 (processo de recuperação judicial nos Estados Unidos).
“Algo claramente está fora do lugar. Acreditamos que isso se deve, principalmente, ao volume muito baixo de negociação das ações da Gol, o que tem impedido o mercado de fazer uma avaliação adequada da companhia”, destaca o banco.
Além disso, o BTG não descarta a possibilidade de que a conversão em novas ações tenha gerado alguma confusão. Como o banco segue apostando em uma convergência para o valor justo dos papéis, com base nos fundamentos da empresa, o banco mantém a recomendação de venda. “Sabemos que o setor aéreo costuma envolver finanças complexas e que a Gol tem um histórico de estruturas financeiras complicadas, mas desta vez até nós ficamos impressionados com o tamanho da distorção”, diz.
O que aconteceu com a Gol?
Como parte do seu processo de reestruturação, a Gol recebeu um aumento de capital de R$ 12 bilhões, com novas ações preferenciais precificadas a R$ 0,01 cada. Essa capitalização, segundo os cálculos do BTG, pode resultar em uma diluição acionária significativa de 99,8%. Em termos práticos, isso significa que, em uma situação hipotética, um acionista que antes detinha 100% da companhia aérea passaria a ter apenas 0,2%.
O agravante é que, mesmo após a reestruturação, a alavancagem da companhia permanecerá elevada, em 5,4 vezes, considerando a medição realizada pela relação do valor da empresa (EV) sobre o lucro antes dos juros, tributos, depreciação e amortização (Ebitda). Além disso, o grupo Abra passará a deter 80% da Gol.
Dentro desse processo, a última quinta-feira (12) foi um dia importante, como mostramos nesta matéria. Na data, foi dada a largada para a negociação dos papéis da empresa com o chamado direito de preferência, que ocorre quando uma empresa decide colocar mais ações à venda na Bolsa de Valores. Nesse caso, ela é obrigada a dar preferência de compra dessas novas ações a seus atuais investidores. A ideia é garantir a opção para que os acionistas possam manter o mesmo nível de participação na companhia. No caso da Gol, será possível exercer esse direito até 14 de julho.
Na quinta-feira (12), a empresa também estreou seus novos tickers — GOLL53 para ações ordinárias e GOLL54 para preferenciais –, além de ter passado a operar em lotes padrão de 1 mil ações. Esse modelo diferente de negociação ajuda a explicar o aparente salto dos papéis. No dia de estreia, os novos papéis da Gol passaram por diferentes leilões, exibindo um salto de 1.886,37% no final do pregão, com preço de tela de R$ 204.
“Na verdade, é como se o ativo tivesse caído, porque o preço passa a ser múltiplo de 1 mil ações. Então, R$ 204 em tela, na verdade, são o equivalente a R$ 0,204. Como na quarta-feira (11) fechou a R$ 0,80, é como se tivesse passado de R$ 0,80 para R$ 0,204”, comenta Welliam Wang, gestor de fundos de ações da AZ Quest, ressaltando que, para entender o preço real da ação, o investidor tem de dividir o valor de tela por 1.000.
Nesta sexta-feira (13), os papéis da Gol se mantiveram em leilão pelo pregão inteiro. Esse tipo de mecanismo é acionado para proteger os investidores de variações fora do comum nos preços de um ativo. Os tempos de leilão são definidos pela B3 e variam de acordo com a relevância do evento que causou a operação.