A decisão do Carrefour Brasil (CRFB3) de fechar o capital e sair da B3 marca mais um capítulo na crescente tendência de empresas que optam por abrir mão do mercado acionário. Pressionadas por desvalorização, baixa liquidez e exigências regulatórias, companhias têm visto na saída da Bolsa uma estratégia para ganhar flexibilidade e atrair novos investimentos.
Entre os casos mais emblemáticos recentes, está o da empresa de liquidação de transferências eletrônicas Cielo (CIEL3), que deixou a Bolsa após quinze anos listada. Outro exemplo é a ClearSale, que se despediu da B3 depois de concluir o processo de venda e incorporação pelo Serasa Experian.
Já no caso do Carrefour, a liquidez em queda e o desinteresse dos investidores institucionais também contribuíram para a decisão. Mas pesou sobretudo o fato de o controle estar nas mãos da matriz francesa, que nunca cedeu o comando estratégico da operação brasileira e, em abril, teve a proposta de reorganização aprovada. Pouco antes, a gestora Península, ligada à família Diniz, vendeu sua participação por R$ 850 milhões, encerrando sua trajetória como acionista da varejista.
Para o presidente do Carrefour Brasil, Stéphane Maquaire, a saída da Bolsa permitirá à empresa tomar decisões com mais agilidade e reduzir a complexidade de processos internos. “A estrutura de capital fechado nos dará mais velocidade para executar nossas estratégias. Passamos por um período importante de integração e ajustes, e agora o foco será crescer e com potencial de abertura de novas lojas a partir de 2026”, disse o executivo, em entrevista ao Broadcast, na última divulgação de resultados.
Já o presidente do Assaí (ASAI3), Belmiro Gomes, comentou a movimentação do concorrente ao dizer que a competição continuará no dia a dia das lojas. “Competimos com o Carrefour antes e depois do IPO. Caso ela deixe de ter capital aberto, seguiremos concorrendo, pois a empresa continuará vendendo no País”, disse, em teleconferência com analistas na última temporada de balanços.
Últimos dividendos do Carrefour
O “gran finale” do Carrefour Brasil veio com a aprovação de dividendos. Na assembleia geral realizada na quarta-feira (28), a empresa decidiu distribuir proventos a 0,92 euros (cerca de R$ 5,90) por ação.
Somado a isso, o início das negociações de Brazilian Depositary Receipts (BDRs, título emitido no Brasil que representa uma ação de companhia aberta sediada no exterior) da empresa na B3 está previsto para 2 de junho, data em que os investidores podem vender seus BDRs com direitos a dividendos. No dia seguinte, os BDRS passam a negociar ex-dividendos.
Segundo a analista da Levante Corp, Caroline Sanchez, os investidores que tiverem ação do Carrefour Brasil (CRFB3) até o dia do fechamento do capital também terão direito a receber o último dividendo que a companhia pagará. “É um valor simbólico, mas é aquele tchau clássico da empresa para os acionistas locais”, disse.