Selic estacionada em 15%? XP diz que Copom endurece discurso e pode empurrar cortes para março
Para a XP, o Banco Central reforçou a necessidade de manter juros altos por mais tempo e só deve iniciar o ciclo de cortes em março, após avanços nas expectativas de inflação
Para a XP, o tom mais duro do Copom reforça que os cortes na Selic devem começar apenas em março. (Foto: Adobe Stock)
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic em 15% na reunião desta quarta-feira (10) veio em linha com o que o mercado já esperava. Para a XPInvestimentos, o comunicado pós-reunião “trouxe poucas mudanças em relação ao de novembro”, o que configura um tom mais duro (hawkish) por parte do Banco Central (BC). Essa leitura é reforçada pelo posicionamento explícito do Comitê, que voltou a afirmar que manter os juros elevados por um período prolongado ainda é a estratégia considerada “adequada”. A corretora segue projetando o início de um ciclo de cortes apenas em março de 2026.
A sinalização, porém, não deve ser interpretada como um congelamento permanente da taxa. Caio Megale, economista-chefe da XP, Rodolfo Margato, economista da XP e Alexandre Maluf, também economista da XP, explicam que o Copom não indica que os juros permanecerão inalterados “por um período muito prolongado à frente, mas tampouco sugere qualquer mudança no curto prazo”, já que o cenário econômico praticamente não se alterou desde a última reunião. Em outras palavras, o BC não enxerga motivos para iniciar a flexibilização neste momento.
O pano de fundo dessa postura cautelosa combina incertezas externas, desafios fiscais internos e uma desinflação que ainda avança de forma gradual. O comunicado reforçou que o ambiente global segue “incerto”, o que exige cuidado adicional de países emergentes, uma avaliação que tem sido recorrente e coerente com o ambiente internacional, marcado por desaceleração global, choques comerciais e volatilidade cambial. No plano doméstico, o Copom segue avaliando que a atividade vem moderando “conforme esperado” e que a inflação mostra melhora, ainda que permaneça acima da meta oficial.
E como fica o IPCA?
Entre as métricas acompanhadas pelo Banco Central, a projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o horizonte relevante da política monetária, isto é, o período em que a Selic atualmente definida terá impacto sobre a economia, o 2º trimestre de 2027, recuou de 3,3% para 3,2%.
A mudança, discreta, veio em linha com o que os economistas da XP antecipavam. Porém, eles lembram que o Boletim Focus já incorporou o início do ciclo de cortes apenas em março, e não mais em janeiro, sugerindo que o mercado também se alinhará à postura mais paciente do BC.
Nesse contexto, a equipe da XP reforça que “não deveríamos esperar qualquer pressa do Copom em flexibilizar a política monetária”, mesmo com a inflação de curto prazo mostrando algum alívio. “Avanços adicionais, especialmente nas expectativas de inflação”, ainda são necessários para que o processo de desinflação se consolide, condição que, na visão da XP, não estará madura em janeiro.
A projeção da XP para o ciclo de cortes
Apesar do tom conservador, a XP mantém sua projeção de que o ciclo de cortes começará em março. A equipe espera seis reduções consecutivas de 0,50 ponto percentual, o que levaria a Selic a 12% ao fim do processo. Em termos reais, isso deixaria a taxa de juros em cerca de 7,5%, ainda acima do nível neutro estimado pela casa (5,5%), refletindo os desafios fiscais que devem marcar o próximo mandato presidencial.
O balanço de riscos para a inflação tampouco trouxe novidades e continua equilibrado, mas sensível. Do lado altista, o Copom voltou a destacar a possibilidade de desancoragem mais prolongada das expectativas, a resiliência da inflação de serviços diante de um hiato do produto ainda positivo e os efeitos combinados de políticas internas e externas que possam pressionar o câmbio. “Uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada”, cita o BC, segue como um foco central de atenção.
Já entre os riscos baixistas, o Comitê manteve no radar uma desaceleração doméstica mais intensa do que a projetada, uma desaceleração global mais forte decorrente do cenário de incerteza e uma queda adicional nos preços internacionais das commodities, fatores que poderiam contribuir para um movimento desinflacionário mais rápido.