Em mais um dia marcado por apetite ao risco, o dólar à vista rompeu o piso de R$ 5,20 e encerrou a sessão desta quinta-feira (28) em baixa de 1,67%, cotado a R$ 5,1633 – no menor valor de fechamento desde 21 de junho. As mínimas do pregão foram registradas na última hora de negócios, quando a divisa desceu até R$ 5,1603, em sintonia com o comportamento da moeda americana no exterior. Foi o quarto pregão seguido de perda do dólar, que já recua mais de 6% na semana e passa a apresentar queda acumulada de 1,37% em julho. Esse movimento se dá em momento de recuperação de preços das commodities, em meio a notícias de estímulos ao setor imobiliário na China, e de reavaliação sobre a intensidade e a magnitude do aperto monetário nos Estados Unidos.
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Aos sinais de moderação do processo de alta de juros emitidos ontem pelo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, somou-se hoje a retração de 0,9% (taxa anualizada) do PIB americano no segundo trimestre (primeira leitura), contrariando a previsão de crescimento de 0,4%. Como houve queda de 1,6% no primeiro trimestre, a economia americana estaria em recessão técnica, configurada quando há dois trimestres consecutivos de baixa da atividade.
Hoje à tarde, a ex-presidente do Fed e atual secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, tratou de pôr panos quentes na retração do PIB. Para Yellen, a economia americana desacelera, mas não está em recessão, uma vez que a demanda está aquecida e o mercado de trabalho, forte. Ontem, Powell disse que a taxa de juros está próxima do nível neutro e que seria apropriado moderar o ritmo de alta, depois de o Fed comunicar elevação dos juros em 75 pontos-base, para a faixa entre 2,25% e 2,50%. A probabilidade de um aumento de 50 pontos-base na taxa Fed Funds em setembro subiu a 80%, de acordo com monitoramento do CME Group.
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“O Fed sinalizou que vai desacelerar a elevação de juros. Isso só não vai ocorrer se os índices de preços de julho e agosto permanecerem próximos dos níveis de maio e junho, mas espero desaceleração”, afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho. “Powell também afirmou que a taxa já está no nível neutro. Com isso, o Fed poderia aumentar os juros de forma mais moderada, pois a partir de setembro o juro já estaria no patamar deflacionista”, acrescenta Velho, ressaltando que vê o juro neutro em nível mais elevado, na faixa entre 2,75% e 3%.
Na aparente ausência de pressão de um aperto severo e rápido da política monetária americana, o dólar caiu na comparação com pares fortes (à exceção do euro) e com as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities, incluindo pares do real como o peso mexicano e o chileno. O minério de ferro negociado em Qingdao, na China, subiu 6,87%, com perspectiva de retomada de siderúrgicas chinesas. Já os contratos futuros de cobre avançaram mais de 1%.
O economista-chefe do Instituto Finanças internacionais (IIF), Robin Brooks, observou, no Twitter, que as moedas emergentes sofreram desde o início de junho com a mudança de discurso do Fed e a aceleração do ritmo de alta da taxa de juros em 75 pontos-base. “Essa mudança ‘hawkish’ terminou ontem e os dados fracos do PIB de hoje só reforçam esse quadro. A liquidação em moedas emergentes acabou e o real é o principal beneficiário”, escreveu Brooks.
A volta do apetite ao risco turbina o movimento de redução de posições defensivas no mercado de câmbio doméstico, com investidores já se movimentando para a formação da última taxa Ptax de julho, amanhã, e a rolagem dos contratos futuros de dólar. Até a sexta-feira passada, quando se aproximou de R$ 5,50, a divisa acumulava alta superior a 5% em julho, depois de ter subido 10,15% em junho. Havia, portando, amplo espaço para realização de lucros e reposicionamento dos agentes. Dados da corretora Renascença mostram que os investidores estrangeiros reduziram as posições compradas (que ganham quando o dólar sobe) em 16.600 contratos ontem, passando a ter a “menor posição comprada desde fevereiro de 2022”.
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Operadores ressaltam que há também fluxo de estrangeiro para ações domésticas. Houve ingresso líquido de investimento estrangeiro na B3 nos últimos sete pregões (até o dia 26), somando mais de R$ 2 bilhões. Não há dados até julho do fluxo cambial total, dado que o Banco Central ainda está atualizando os indicadores que ficaram defasados em razão da greve dos servidores.
Especialista em renda fixa da Blue 3, Nicolas Giacometti nota, por outro lado, que parece não haver uma demanda forte estrangeiros por títulos públicos brasileiros. Em leilão realizado hoje, o Tesouro vendeu 115 mil Notas do Tesouro Nacional -Série F (NTN-F), papel preferido pelo estrangeiro, de uma oferta total de 300 mil. “Não temos os números do fluxo cambial, mas olhando para os leilões do Tesouro, parece que não tem muito apetite do estrangeiro”, afirma.
Foi divulgado à tarde que o governo central registrou superávit primário de R$ 14,433 bilhões em junho, o melhor para o mês desde 2011 e acima da mediana de Projeções Broadcast (R$ 12,70 bilhões). O resultado do mês passado inclui o bônus de concessão da Eletrobras e um forte recolhimento de dividendos. No acumulado do primeiro semestre, o Governo Central registrou superávit de R$ 53,614 bilhões, o melhor resultado desde 2013.
O secretário do Tesouro Nacional, Paulo Valle, disse que há “possibilidade real de superávit primário” do Governo Central de 2022, que seria o primeiro desde 2013. Nas mesas de operação, comenta-se que a foto das contas públicas é positiva, mas que há muita incerteza sobre a política fiscal a partir de 2023, dadas as manobras para furar o teto de gastos.
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