Os questionamentos sobre a atual situação financeira da Azul (AZUL4) despertam dúvidas em relação a outra empresa listada na Bolsa brasileira: a Embraer (EMBR3). Isso porque a companhia aérea possui atualmente pedidos firmes de 51 aeronaves da fabricante de aviões, sendo a maior cliente do modelo E195-E2.
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O ceticismo em relação à Azul foi ampliado na última quinta-feira (29), após uma reportagem da Bloomberg Línea sugerir que a empresa estaria avaliando opções que iriam desde uma oferta de ações até um pedido de proteção contra credores nos Estados Unidos, por meio do Chapter 11 (processo equivalente à recuperação judicial no Brasil).
A companhia também estaria trabalhando com o Citi como consultor sobre o potencial contrato de fusão com a Gol (GOLL4) – o entendimento seria de que a operação poderia convencer os credores: uma empresa combinada teria níveis mais baixos de dívidas e melhores perspectivas de crescimento. Outra alternativa que estaria em análise é a emissão de novos títulos de dívidas por meio da unidade de carga da Azul.
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Após a notícia circular pelo mercado, a Azul publicou um comunicado esclarecendo que a Bloomberg foi “mal interpretada” e que está em negociações ativas com seus principais stakeholders (partes interessadas em um negócio) para otimizar a estrutura de capital acordada no plano de otimização do ano passado.
Assim como também informou em sua teleconferência de resultados, a aérea brasileira ressaltou ter capacidade adicional de captação de recursos utilizando a sua unidade de carga como garantia primária no montante de até US$ 800 milhões. Outras fontes de liquidez também estão disponíveis. Disse ainda estar mantendo discussões com o grupo Abra para explorar possíveis parcerias ou combinações de negócios relacionadas à Gol.
O comunicado, no entanto, não foi suficiente para acalmar os ânimos do mercado. Nesta segunda-feira (2), a ação emendou a sua sexta sessão de perdas seguida, terminando o dia em baixa de 18,18%, cotada a R$ 4,41, liderando a ponta negativa do Ibovespa.
A Embraer (EMBR3) pode ser prejudicada pela crise da Azul (AZUL4)?
Diante do pessimismo do mercado em relação à Azul, o BTG Pactual divulgou um relatório para comentar os possíveis impactos da crise da aérea para a Embraer, que tem recomendação de compra pelo banco, com preço-alvo de US$ 39.00.
Na avaliação da casa, como a exposição de contas a receber da Embraer em relação à Azul é bastante limitada (menos de 1% do capitalização de mercado), a fabricante de aeronaves não deve ser prejudicada pela situação da companhia aérea. Em outras palavras, isso significa dizer que a Azul depende mais da Embraer do que o contrário.
De acordo com o relatório do BTG, as demonstrações financeiras do segundo trimestre da fabricante de aeronaves mostram um total de contas a receber de R$ 1,2 bilhão (já líquido de perdas presumidas), com apenas R$ 112 milhões relacionados a clientes nacionais. “Dado que os clientes nacionais também incluem a Força Aérea Brasileira, acreditamos que a exposição de contas a receber da Embraer à Azul seja apenas uma fração desse valor (portanto, menos de 1% de seu valor de mercado)”, afirmam os analistas Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Marcelo Arazi, que assinam o relatório.
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Em situações como a enfrentada pela Azul, é natural que os investidores questionem o risco de cancelamento de pedidos de aeronaves. No entanto, conforme explica o BTG, as companhias aéreas geralmente têm de pagar um depósito quando fazem esses pedidos. Portanto, se uma solicitação de aeronave fosse cancelada, isso poderia impactar negativamente a Embraer, mas manteria esse pagamento pré-entrega.
A casa também acredita que as chances de um cancelamento completo dos pedidos pela Azul sejam baixas, especialmente considerando as atuais restrições de oferta no indústria aeroespacial e a forte procura de novas aeronaves por parte das companhias aéreas.
No caso improvável de uma interrupção significativa nos negócios da Azul, levando ao cancelamento de pedidos futuros, a Embraer perderia o capital de giro já comprometido (relacionado às unidades já em produção), e não toda a carteira de pedidos da aérea, na visão do BTG.
Para os pedidos restantes, a empresa precisaria substituir os estoques de produção do modelo E2 da Azul por novos pedidos ou clientes. “Embora isso seja um desafio no curto prazo para a Embraer, consideramos viável, dada a crescente carteira de pedidos E2 e a atividade comercial prospectiva para a linha. Mais importante ainda, lembramos que as encomendas recentes tendem a apresentar melhor rentabilidade do que as mais antigas”, reforça a equipe do banco.