O real brilhou entre as moedas globais no pregão desta terça-feira (20), marcada pela expectativa em torno de decisão de política monetária aqui e nos Estados Unidos amanhã. Na contramão da onda de fortalecimento da moeda americana no exterior, em meio à aposta de que o Federal Reserve (Fed, o BC americano) adote um tom duro nesta quarta-feira (21), o dólar operou em baixa na maior parte do dia no mercado de câmbio doméstico e fechou cotado a R$ 5,1525, em queda de 0,25%.
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Operadores atribuíram a resistência do real a eventual fluxo positivo para a bolsa doméstica e à continuidade do movimento de redução de posições defensivas iniciado ontem. Embora sejam cautelosos ao apontar um gatilho específico para a apreciação da moeda brasileira, analistas citam possível impacto da melhora da percepção de risco fiscal, na esteira da expectativa de que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, que participou ontem de evento ao lado do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, seja fiador da política econômica em um futuro mandato do petista. Ontem à noite, pesquisa eleitoral do Instituto Ipec (ex-Ibope) mostrou Lula com 52% dos votos válidos, o que lhe daria vitória já no primeiro turno.
“Não tem uma explicação muito clara para o dólar cair aqui. Parece resquício ainda de ontem, quando o encontro de Lula com Meirelles realmente fez preço”, afirma a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, ressaltando que o mercado de câmbio estava até então sendo guiado predominantemente pelo exterior.
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Termômetro do comportamento da moeda americana frente a seis divisas fortes, o índice DXY voltou a superar os 110,000 pontos e atingiu máxima aos 110,293 pontos, com perdas de mais de 0,5% do euro e da libra esterlina. O dólar avançou também na comparação com a ampla maioria das divisas emergentes e de países emergentes.
Após o discurso firme do presidente do Fed, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, e da leitura acima do esperado do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) em agosto, espera-se, no mínimo, uma elevação de 75 pontos-base na taxa básica americana amanhã. A decisão do Fed será acompanhada por novas projeções de integrantes do BC americano para indicadores econômicos e taxa de juros (no chamado gráfico de pontos), além da já tradicional entrevista coletiva do chairman Powell.
“Mais importante que a decisão em si, vai ser a sinalização do Powell na entrevista. Ele endureceu muito o discurso no simpósio de Jackson Hole e o mercado não espera uma mudança de tom”, afirma Veronese, da B.Side Investimentos.
Por aqui, a maioria do mercado aposta que o Banco Central manterá a taxa Selic estacionada em 13,75% ao ano. Mas uma alta residual de 0,25 ponto porcentual, para 14% ao ano, não pode ser descartada. Seja qual for a decisão, o Brasil vai continuar a ter um dos juros reais mais elevados do mundo, o que torna operações de hedge e de especulação contra o real muito custosas.
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