Embora o documento do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) sobre a potencial adoção de uma moeda digital do banco central (CBDC, na sigla em inglês) promova avanço no debate em Washington, a decisão de passar a questão para o Congresso significa que um dólar digital oficial dos EUA ainda está a vários anos de distância.
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O banco central divulgou na quinta-feira um artigo muito esperado sobre os prós e contras da adoção do dólar digital, uma versão virtual do dinheiro que fica no bolso, no qual se recusou a tomar posição e disse que o Congresso deveria decidir acerca do assunto.
Muitos entusiastas de CBDCs viram o relatório como um marco importante no desenvolvimento de alguma forma de política para o dólar digital, mas com parlamentares confusos e divididos sobre o assunto, mesmo dentro de seus próprios partidos, analistas disseram que não se deve esperar muito deles.
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“O artigo… é leve nas conclusões e reforça nossa visão de que uma CBDC apoiada pelo Fed está –na melhor das hipóteses– a anos de distância de ser lançada”, escreveu em nota Isaac Boltansky, diretor de pesquisa de política monetária da corretora BTIG. “Estamos pessimistas em relação a uma solução legislativa emergente.”
Ao contrário das criptomoedas, que são administradas por figuras privadas, uma CBDC seria emitida e apoiada pelo banco central. Ela diferiria das transações eletrônicas que acontecem por meio de grandes bancos comerciais e daria aos consumidores conexão direta com o banco central, semelhante ao dinheiro físico.
Um dólar digital pode transformar o sistema financeiro ao acelerar pagamentos globalmente e dar aos consumidores maior acesso ao sistema financeiro, disse o Fed. Mas a instituição alertou que uma moeda digital mal projetada poderia enfraquecer bancos, desestabilizar o sistema financeiro e criar problemas de privacidade.
Cerca de 90 países, inclusive a China, estão explorando ou lançando suas próprias CBDCs, de acordo com o Atlantic Council, o que desperta certa preocupação entre alguns de que os Estados Unidos vão perder o domínio do sistema financeiro global se não digitalizarem o dólar, atualmente a moeda global de reserva.
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Em um ambiente político já ferozmente dividido, chegar a um consenso sobre esse emaranhado de questões espinhosas “parece uma pouco provável”, escreveu o economista-chefe do JPMorgan, Michael Feroli, em nota.
Enquanto alguns republicanos estão ansiosos para que o Fed adote uma tecnologia inovadora, outros expressaram preocupação com o fato de o banco central expandir sua presença e competir com bancos privados.
“Estou genuinamente indecisa sobre se há uma necessidade legítima de uma CBDC”, disse em seu perfil no Twitter a senadora republicana do Wyoming Cynthia Lummis, uma das principais defensoras da moeda digital, após o relatório do Fed.
Alguns progressistas, como o presidente do Comitê Bancário do Senado, Sherrod Brown, apoiam um dólar digital que aumente a inclusão financeira, mas outros democratas sinalizaram riscos de segurança nacional e finanças ilícitas.
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Brown, que desempenharia um papel fundamental na elaboração de um projeto de lei no Senado, disse em comunicado na quinta-feira que o relatório é um “bom primeiro passo”, enquanto outros parlamentares também disseram estar ansiosos para trabalhar no texto.
Mesmo que os parlamentares pudessem concordar e aprovar a proposta neste ano, o lançamento de um dólar digital seria altamente técnico e exigiria uma longa fase-piloto e de implementação.
“Mesmo se você começar hoje, ainda estaremos a alguns anos de isso se tornar realidade”, disse Jonathan McCollum, presidente de relações com o governo federal da Davidoff Hutcher & Citron, que tem feito lobby para que os parlamentares comecem os trabalhos no tema.
Enquanto congressistas, reguladores e a Casa Branca debatem a questão, o setor privado provavelmente avançará com produtos que podem enfraquecer o argumento por um dólar digital, disse Ian Katz, diretor administrativo da Capital Alpha Partners, em nota.
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“Se finalmente acontecer anos à frente, uma CBDC do Fed seria menos transformadora do mundo do que seria agora”, acrescentou.