Após trocas de sinal pela manhã desta sexta-feira (5), o dólar à vista se firmou em alta no início da tarde em sintonia com o fortalecimento global da moeda americana, na esteira de dados expressivos do mercado de trabalho nos EUA. Embora o principal indutor da perda de fôlego do real seja o ambiente externo, analistas notam que a moeda brasileira também sofre com o aumento da percepção de risco. Disputas entre o Congresso e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, principal fiador do novo arcabouço fiscal, e o noticiário pesado envolvendo a Petrobrás (PETR4) afastam investidores de ativos domésticos.
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Com máxima a R$ 5,0744, o dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 5, em alta de 0,29%, cotado a R$ 5,0654. A moeda termina a primeira semana de abril com ganhos de 1,00%. No ano, a valorização acumulada é de 4,37%. Mais uma vez, o contrato de dólar futuro para maio teve bom giro, o que sugere mudanças no posicionamento dos investidores. Nos últimos dias fundos locais têm reduzido suas posições “vendidas” em dólar (que ganham quando o real se aprecia).
No exterior, o índice DXY – referência do comportamento do dólar em relação a seis moedas forte, em especial o euro – operou em alta, acima da linha dos 104,300 pontos. As taxas dos Treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano) avançaram, o que castigou a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Três pares do real – peso mexicano e, em menor medida, o peso colombiano e rand sul-africano – foram exceções e subiram na comparação com o dólar.
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Indicador mais aguardado da semana, o relatório oficial de emprego (payroll) revelou criação de 303 mil vagas nos EUA em março, bem acima do teto de expectativas de analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, de 245 mil.
A leva de dados fortes da economia americana e o avanço das cotações do petróleo com aumento das tensões geopolíticas trazem preocupações em torno do processo de desinflação nos EUA. Crescem as apostas de que o Federal Reserve postergue um eventual início de corte de juros para julho, embora as chances de redução inicial em junho sejam ainda majoritárias.
O economista-chefe do Banco Fibra, Marco Maciel, observa que o salto do juro da T-note de 2 anos, que no início da semana estava em 4,63%, mantém o real “na vizinhança” dos R$ 5,05, em meio à desvalorização das divisas emergentes.
“A moeda brasileira mais desvalorizada do que vários de seus pares ao longo das duas últimas semanas reflete também a influência de forças domésticas na direção da deterioração e aumento da incerteza fiscal e inflacionária”, afirma Maciel, ressaltando que os dados do payroll reforçam o quadro de dólar forte no mundo e de inflação alta.
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À tarde, a diretora do Federal Reserve Michelle Bowman disse ainda ver risco de que o banco central americano tenha de voltar a elevar juros, caso os progressos recentes contra a inflação parem ou sejam revertidos. Em conferência do Manhattan Institute, em Nova York, a dirigente defendeu uma postura “cautelosa” na definição dos próximos passos da política monetária.