O dólar hoje começa a apresentar leve queda, após começar a semana com uma forte valorização, desafiando a tendência global de desvalorização da moeda americana, em meio a temores crescentes de uma possível recessão nos Estados Unidos. Às 11h10 desta segunda-feira (5), o câmbio é negociado a R$ 5,78, alta de 1,4%. Com volatilidade na abertura, a moeda avançou entre R$ 5,82 a R$ 5,86. Às 13h10, o dólar diminuiu a alta e era negociado a R$ 5,7398, subindo 0,54%, na mínima do dia.
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Na sexta-feira (2), novos dados de emprego revelaram sinais de desaceleração na maior economia do mundo. O payroll, relatório de emprego dos EUA que avalia o estado do mercado de trabalho e seu impacto na inflação, mostrou um número inferior ao mês anterior e abaixo das expectativas.
Os dados apresentados pelo Departamento de Trabalho apontam que a economia adicionou 114 mil novos postos no mês passado e a taxa de desemprego aumentou para 4,3%, o maior nível desde outubro de 2021. Analistas esperavam abertura de 175 mil postos de trabalho e manutenção da taxa de desemprego em 4,1%. No mês anterior, 179 mil vagas foram abertas, em dado revisado para baixo.
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Ao somar com a taxa de juros elevada no país, o mercado reacendeu dúvidas sobre a robustez da economia americana nos próximos meses. Esses temores, que levam os investidores a adotar uma postura mais cautelosa, resultaram em quedas acentuadas nas bolsas de valores ao redor do mundo.
Quem ganha e quem perde com disparada do câmbio?
O superintendente da tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, concorda que um dos principais impulsionadores dessa valorização desde a semana passada é a divulgação de dados econômicos mais fracos nos Estados Unidos. “Esse cenário aumentou a aversão ao risco, afetando também o real e outras moedas de países emergentes”, diz. Com isso, conforme ele, a valorização do dólar beneficia os exportadores locais, mas prejudica os importadores e pode gerar pressão inflacionária.
O diretor de câmbio da Ourominas, Elson Gusmão, afirma que a alta do dólar à vista foi por aqui influenciada pela incerteza fiscal do Brasil, que, diz ele, é marcada pela falta de compromisso do governo com o corte de gastos e o cumprimento da meta de déficit zero, motivo que tem preocupado o mercado. “Além disso, a manutenção da taxa Selic em 10,5% ao ano sugere cautela na política monetária devido à situação fiscal. Não foram dados sinais sobre futuros ajustes na taxa”, analisa.
Externamente, a escalada do conflito no Oriente Médio, explica Gusmão, aumentou a aversão ao risco, beneficiando o dólar. A economia chinesa também contribuiu para o cenário de incerteza, com a queda do índice de gerentes de compras (PMI) industrial para abaixo de 50, indicando contração e preocupando os mercados globais. Nos Estados Unidos, além dos fracos dados de emprego mencionados por Weigt, outras informações econômicas, como os índices de gerentes de compras e os pedidos de seguro-desemprego, têm apontado sinais de fraqueza na economia.
A recente alta do câmbio tem gerado impactos nas bolsas de valores e em diversos setores da economia brasileira. A analista de renda variável da Rico, Bruna Sene, aponta que as empresas exportadoras são as mais beneficiadas nesse cenário. Companhias como Klabin e Suzano, do setor de papel e celulose, se destacam devido à exposição ao mercado internacional e à cotação da celulose em dólar. Com a valorização da moeda norte-americana, essas empresas tendem a registrar um aumento nas receitas provenientes das exportações.
Outros setores que se beneficiam da alta do dólar incluem proteínas e mineração. Empresas como JBS, CSN Mineração, Gerdau e Vale, que têm uma parte significativa de suas receitas advindas de exportações, segundo ela, também veem vantagens. A Vale, uma das maiores exportadoras do Brasil, é especialmente favorecida, porque vende minério de ferro no mercado internacional enquanto seus custos são em reais, o que melhora sua margem de lucro com a valorização do dólar.
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Por outro lado, companhias com dívidas em dólar e aquelas dependentes do consumo interno enfrentam desafios. “Isso inclui, por exemplo, companhias do setor aéreo, como a Gol (GOLL4) ou a Azul (AZUL4), cujos custos, especialmente os combustíveis, estão atrelados ao dólar. Além disso, outras empresas voltadas para o consumo doméstico, como as lojas Renner (LREN3), Magazine Luiza (MGLU3), Casas Bahia (BHIA3), as varejistas no geral, podem ser afetadas negativamente justamente devido à possível pressão inflacionária resultante da alta do dólar, o que diminuiria o poder de compra dos consumidores e também pode levar a um cenário de juros mais altos”, diz Sene.
A analista também pontua que o aumento dos custos de insumos e a possível elevação dos juros, consequência da inflação, afetam negativamente o setor de construção civil, com empresas como Cyrela (CYRE3), MRV (MRVE3) e Eztec (EZTC3) sendo prejudicadas. Esse cenário inflacionário e de juros elevados é particularmente desfavorável para empresas cíclicas, que dependem da oscilação da economia e são mais sensíveis a mudanças nos juros e no poder de compra dos consumidores.
Na sexta-feira anterior, o dólar havia caído 0,45%, sendo cotada a R$ 5,7091. Com isso, acumulou uma alta de 0,91% na semana, um ganho de 0,97% no mês e uma alta de 17,65% no ano.