O dólar à vista emendou a terceira sessão consecutiva de alta no mercado doméstico de câmbio e voltou a se aproximar do nível de R$ 5,00, em mais um dia de fortalecimento da moeda americana em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities.
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Dados fracos da indústria e do varejo na China divulgados ontem à noite aumentaram as preocupações com a desaceleração da segunda maior economia do mundo, que não arrefeceram nem mesmo com a decisão do Banco do Povo da China (PBoC) de reduzir várias de suas taxas de juros. Além disso, houve nova rodada de alta das taxas dos Treasuries longos à tarde, o que pressionou ativos de risco mundo afora.
Em alta desde a abertura de negócios, o dólar quase furou o teto de R$ 5,00 pela manhã ao registrar máxima de R$ 4,9977. No fim do dia, a divisa avançava 0,43%, cotada R$ 4,9868 ainda no maior valor de fechamento desde 1º de junho. Com avanço em 9 dos 11 pregões de agosto, a moeda já acumula valorização de 5,44% no mês. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para setembro movimentou pouco mais de US$ 11 bilhões.
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Como ontem, o real apresentou hoje o segundo pior desempenho entre seus principais pares, apenas atrás do peso colombiano. Mesmo com a rodada forte de depreciação das moedas latino-americanas em agosto, o peso colombiano ainda apresenta ganhos de aproximadamente 15% em relação ao dólar no ano, seguido pelo peso mexicano (12%) e pelo real (5%).
O diretor de investimentos da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, observa que o mercado estava tecnicamente bastante posicionado em “moedas de carrego” no fim do verão no Hemisfério Norte, em referência a divisas de países latino-americanos com taxas de juros elevadas.
Segundo Jolig, havia a expectativa de que o governo chinês adotaria medidas mais fortes para estimular o crescimento neste ano e que as taxas dos Treasuries permaneceriam comportadas. “Mas os dados da China estão decepcionante bastante. E os yields dos Treasuries estão abrindo, com a perspectiva de juro neutro subindo e taxas de juros mais altas por mais tempo nos EUA. Como o mercado estava tecnicamente muito posicionado no carrego, houve uma correção”, diz o diretor da Alphatree.
“Esse movimento de depreciação está ainda bem controlado. Mas já começa haver preocupação de que possa haver uma correção maior em algum momento. O principal ponto de desconforto são os Treasuries longos”. Em alta firme na comparação com divisas emergentes, o dólar apresentava no fim da tarde ligeiro avanço em relação ao euro e ao iene, o que levava o índice DXY a trabalhar acima da linha dos 103,200 pontos, próximo da máxima da sessão, aos 103,274 pontos.
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A taxa da T-note de 10 anos acelerou à tarde e voltou a superar o nível de 4,20%. Indicadores americanos divulgados pela manhã mostraram sinais divergentes. As vendas no varejo cresceram 0,7% na margem em julho, acima do esperado (0,4%). De outro lado, o índice de atividade industrial Empire State caiu para -19,0 em agosto, quando a previsão era de baixa de 0,6.
Embora o ambiente externo esteja por trás da onda de depreciação do real, operadores citam o desconforto com o cenário doméstico como um fator que contribui para recomposição de posições cambiais defensivas. Há preocupação com os desdobramentos da rusga entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) e o atraso na votação final do arcabouço fiscal.
Lira e líderes partidários se reuniram hoje e definiram que o encontro para discutir as alterações feitas pelo Senado no projeto de lei do arcabouço fiscal será na próxima segunda-feira, 21, segundo o relator da matéria, deputado Cláudio Cajado (PP-BA). O episódio do “apagão” de energia que atingiu quase todos os Estados brasileiros pela manhã foi monitorado, mas não teve influência na formação da taxa de câmbio.