

O dólar hoje encerrou a sessão desta sexta-feira (20) com queda de 0,84%, a R$ 6,07, no menor patamar de fechamento registrado na semana. O alívio no câmbio acontece na esteira da maior intervenção cambial da história. A injeção de liquidez por parte do Banco Central, junto à aprovação do pacote fiscal e falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), criou um ambiente de melhora para os ativos domésticos.
Na mínima do dia, às 15h41, o dólar à vista chegou a cair 1,21% ante o real, a R$ 6,0493. Na véspera, a moeda americana já tinha cedido mais de 2% depois de bater o recorde de fechamento na quarta-feira (18), a R$ 6,26.
Hoje estavam programados novos leilões de venda e US$ 3 bilhões no mercado à vista, às 09h15, e de até US$ 4 bi, em linha com recompra programada, às 10h20. O leilão de linha de até US$ 2 bilhões que aconteceria entre 11h20 e 11h25 foi cancelado por “problemas de sistema”, disse o BC. O leilão de linha ‘B’, que ofertaria mais US$ 2 bi entre 10h40 e 10h45, também foi afetado.
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Para André Valério, economista sênior do Inter, as intervenções do BC no câmbio se justificam pelo excesso de volatilidade e pelo forte fluxo de saída de dólares. “Nos dez primeiros dias de dezembro, o fluxo de saída foi de US$ 6,79 bilhões, bem acima da média histórica para esse período – portanto, o leilão é uma solução para prover esse fluxo e impedir uma desvalorização desordenada do real”, diz Valério.
O BC vem realizando leilões cambiais para tentar injetar liquidez no mercado cambial e segurar a disparada da cotação. No acumulado de dezembro, até a quinta-feira (19), a autoridade monetária já tinha injetado US$ 13,760 bilhões no mercado com a venda de moeda americana à vista, o maior montante da história para o mês.
As intervenções não tinham causado grande efeito até então: a discussão do pacote fiscal no Congresso roubou a atenção de investidores e manteve o mercado em compasso de cautela. Mas a aprovação das propostas no Senado também ajudou a aliviar a pressão sobre o câmbio. O pacote fiscal foi desidratado, como mostra esta reportagem do Estadão.
“Mesmo que a efetividade das medidas em si tenha sido recebida com desconfiança pelo mercado, pouco comprometimento em aprová-las seria um sinal ainda mais negativo do ponto de vista da saúde fiscal do país, e aumentaria as possibilidades de um ambiente mais desfavorável por mais tempo”, destaca Paula Zogbi, gerente de Research e head de conteúdo da Nomad.
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Na quinta-feira (19), o dólar encerrou o dia com uma queda superior a 2%. Além dos leilões do BC, falas do próximo presidente da instituição, Gabriel Galípolo, repercutiram no mercado. Durante coletiva de imprensa sobre o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o diretor de política monetária disse que a ideia de um ataque especulativo contra o real como movimento coordenado não explica bem a situação do câmbio neste momento.
“A fala do futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, destacando a importância da meta de inflação e do ajuste fiscal também contribuiu para o desempenho positivo da moeda brasileira. A retomada de Lula a Brasília reforçou a confiança no avanço do pacote fiscal no Congresso”, destaca Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.
Na tarde desta sexta-feira, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a favor da independência do Banco Central, em almoço ministerial, também ajudaram a promover uma melhora nos ativos domésticos. Em vídeo publicado na rede social X, Lula afirma que Galípolo será o presidente com mais autonomia que o País já teve. “Jamais haverá qualquer interferência no trabalho que você tem no BC”, disse.