(Antonio Perez, Estadão Conteúdo) – Após cair 5,90% na semana passada e fechar julho em baixa de 1,16%, o dólar encerrou o primeiro pregão de agosto em ligeira alta no mercado doméstico de câmbio, embora tenha flertado, nos momentos de maior pressão, com o patamar de R$ 5,20. A sessão foi marcada por muita volatilidade, com trocas de sinal ao longo do dia e oscilação de pouco mais de sete centavos entre a mínima (R$ 5,1303), pela manhã, e a máxima (R$ 5,2024), à tarde.
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Operadores notaram forças opostas atuando na formação da taxa de câmbio. De um lado, a baixa predominante da moeda americana no exterior, diante da perspectiva de um ciclo de alta de juros menos longo e intenso pelo Federal Reserve, jogava a favor do real. Apesar de recuo das leituras finais dos índices de gerentes de compras (PMIs) da indústria dos EUA em julho, os dados vieram em linha com o esperado e se mantiveram em terreno expansionista.
De outro, a queda das commodities, na esteira de números fracos da economia chinesa, e o aprofundamento das perdas do Ibovespa à tarde abriam espaço para realização de lucros e recomposição de posições cambiais defensivas. Passada a disputa pela formação da última taxa Ptax de julho e a rolagem dos contratos futuros, na última sexta-feira (29), o mercado estaria tecnicamente mais leve e em busca de novos parâmetros de negociação.
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Entre idas e vindas, o sinal positivo predominou no fim dos negócios e o dólar à vista encerrou a sessão cotado a R$ 5,1786, em ligeira alta, de 0,08%. No ano, a divisa apresenta perdas de 7,13%.
O diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, observa que o dólar vem de uma queda expressiva na semana passada, quando, em meio a fatores técnicos no mercado futuro, devolveu “o exagero de gordura” que tinha acumulado ao se aproximar de R$ 5,50. “Difícil dizer se esse é o dólar estrutural. Mas algo acima de R$ 5,40 é factível pelo contexto global e local. A agenda da semana deve trazer bastante volatilidade”, diz Rolha.
Na quarta-feira (03), sai a decisão de política monetária do Copom, com aposta majoritária em alta da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,75% ao ano. Lá fora, são grandes as expectativas para a divulgação, na sexta-feira (05), do relatório de emprego (payroll) americano em julho, o que pode mexer com as expectativas em torno do ritmo e do tamanho do aperto monetário nos EUA.
“O dólar oscilou muito ao longo do dia e terminou em leve alta. Tivemos o reflexo da queda das commodities, como minério e petróleo, que também prejudicou a Bolsa”, afirma o economista Piter Carvalho, da Valor Investimentos. “O resultado dos PMIs da China e da Europa mostra que o mundo deve crescer cada vez menos. O mercado começa a semana menos otimista”.
As cotações futuras do petróleo desabaram. O contrato do tipo Brent para outubro, referência para Petrobras, fechou em baixa de 3,80%, cotado a US$ 100,03 o barril. Após o rali da semana passada, o minério de ferro negociado em Qingdao, na China, caiu 0,89%. O PMI industrial oficial na China recuou de 50,2% em junho para 49 em julho – resultados abaixo de 50 indicam contração. O PMI industrial da zona do euro, calculado pela S&P Global, desceu de 52,1 em junho para 49,8 em julho, o menor patamar em 25 meses
Por aqui, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia informou que a balança comercial registrou superávit de US$ 5,444 bilhões em julho de 2022 – resultado abaixo do piso das estimativas de Projeções Broadcast (US$ 6,40 bilhões). A mediana das expectativas era de US$ 7,0 bilhões. A estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patrícia Pereira, afirmou ao Broadcast que a perda de fôlego dos preços das commodities, diante do contexto de desaceleração da economia global, sugere um superávit comercial menor que o inicialmente esperado neste ano.
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Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – caiu mais de 0,40%, com perdas de cerca de 0,30% frente ao euro e baixa expressiva na comparação com a libra e o iene. O dólar também perdeu força ante moedas emergentes, com raras exceção, como o real e o peso mexicano.
Segundo o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, a perspectiva de desaceleração da atividade global deve levar a elevações mais moderadas de juros nos EUA. Ele ressalta que novas flexibilizações da política monetária na China parecem, por ora, insuficientes para estimular a economia. “A atividade em queda pode levar em um curto espaço a uma aversão ao risco forte e aumento da demanda por proteção no dólar novamente”, afirma Velho.