O real tentou sustentar o ritmo de valorização em relação ao dólar de ontem, ainda amparado pelos sinais dovish do Federal Reserve (Fed) e, agora, também pelo compromisso do Banco Central brasileiro de não acelerar o ritmo de corte dos juros. Mas acabou sucumbindo no final do pregão ao temor fiscal, enquanto o mercado acompanhava a análise do veto à desoneração da folha de pagamentos pelo Congresso.
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O dólar fechou em queda de 0,12% em relação ao real, a R$ 4,9151 – quatro centavos acima da mínima do dia, de R$ 4,8757 (-0,92%), registrada no início da sessão. A moeda oscilou abaixo da linha de R$ 4,90 durante a manhã e parte da tarde, mas firmou-se acima desse nível depois das 15h30, quando o veto foi derrubado. Na máxima, próxima do fechamento, tocou R$ 4,9176 (-0,07%), quase zerando as perdas do dia.
A derrubada do veto era esperada, mas profissionais do mercado citam a reação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como ponto que elevou a tensão nos mercados. Em uma entrevista a jornalistas, ele disse que o projeto de desoneração é inconstitucional e indicou que pode recorrer à Justiça para derrubar a medida.
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Enquanto Haddad falava, o dólar subiu às máximas da sessão, descolado do exterior, onde caía firmemente em relação aos pares desenvolvidos e a outras moedas emergentes. Aqui, os juros futuros zeraram as quedas ao longo da curva, também descolados dos rendimentos das Treasuries americanas, que caíram hoje até 9 pontos-base.
“Além de o Congresso aprovar a prorrogação da desoneração, Haddad prometeu brigar pela inconstitucionalidade da medida, o que é um sinal ruim para a articulação política em plena temporada de aprovação de pautas arrecadatórias”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.
A equipe econômica tem apenas oito dias para aprovar as medidas ambicionadas para atingir o déficit primário zero em 2024, já que o Congresso entrará em recesso na sexta-feira da semana que vem, 22. Estão em discussão pautas essenciais para turbinar a arrecadação do ano que vem, como a medida provisória de subvenções ao ICMS, que será votada no plenário da Câmara após ter sido aprovada em comissão mista hoje.
O diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, nota que a derrubada dos vetos à desoneração descolou o real dos pares. Antes do tema ter entrado em debate, a moeda brasileira ganhava mais espaço, amparada pelo aumento do apetite por risco e pela visão de um diferencial de juros ainda grande entre Brasil e Estados Unidos, diz o analista.
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“A queda do dólar refletiu a euforia depois do Fed, que tirou a pressão da curva de juros americana e do dólar e acabou abrindo espaço para os investidores alocarem um pouco mais em emergentes ou recolocarem o que tinham tirado”, afirma Rolha. “Com o Brasil sem demonstrar aceleração dos cortes e o Fed falando em cortar, tem combustível para potencializar o real.”