(Antonio Perez, Estadão Conteúdo) – Já em baixa firme pela manhã, o dólar acelerou o ritmo de queda ao longo da tarde, chegando a flertar com fechamento abaixo da linha de R$ 5,20. A perda de fôlego da moeda dos EUA por aqui se deu em sintonia com o tombo da divisa americana no exterior em relação a pares fortes, sobretudo o euro, e moedas de países emergentes. Operadores também relataram fluxo externo para ativos domésticos, em meio à alta de mais de 2% do Ibovespa e o bem sucedido leilão de NTN-Fs, papéis públicos prefixados preferidos pelos estrangeiros.
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A leitura de que o Copom, após elevar a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,75%, acenou com o fim do ciclo de aperto monetário dá vazão a apostas em redução dos juros em 2023 – o que aumenta o apetite ações ligadas ao consumo e posições prefixadas. Em seu comunicado, o BC afirmou que “avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião”.
Afora uma alta pontual nos primeiros minutos de negócios, quando registrou a máxima do dia (R$ 5,2958), a divisa operou em queda ao longo de toda sessão. À tarde, rompeu o piso de R$ 5,20, ao descer até a mínima de R$ 5,1996. No fim do dia, com uma redução das perdas, o dólar era cotado a R$ 5,2204, em queda de 1,09%. Com isso, os ganhos na semana e no mês se reduziram a 0,89%.
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“Parece que está havendo um rearranjo das carteiras em direção ao risco. O catalisador desse movimento é a sinalização do BC de que o aperto monetário está no fim”, afirma o economista Homero Guizzo, da Terra Investimentos. “O apetite maior parece ser pela renda variável, porque há muitas ações com preços bem descontados”.
Na renda fixa, as taxas dos principais contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) recuaram, ajustando-se à sinalização do Copom. Pela manhã, em leilão, o Tesouro Nacional vendeu o lote integral de NTN-Fs. Foram 150 mil títulos com vencimento em janeiro de 2029 e 150 mil para janeiro de 2033, com valor total de R$ 265 milhões.
Para o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, no cenário-base do BC, a temporada de alta da Selic terminou ontem. “Apenas uma mudança significativa de cenário faria o Copom avaliar a necessidade de continuar o ciclo de aperto monetário”, afirma Oliveira, que, na contramão da corrente majoritária, não vislumbra corte da taxa em 2023. No cenário alternativo do economista, também contrário ao embutido na curva de juros, há possibilidade de uma retomada da alta de juros no início de 2023, dado “o fortalecimento da demanda via estímulos fiscais, a resistência da inflação de serviços e o aumento da inércia inflacionária”.
No exterior, o índice DXY – termômetro do desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – perdeu a linha dos 106,000 pontos, em meio a baixas de mais de 0,7% em relação ao euro e ao iene. O mercado realiza lucros e reduz posições defensivas, na esteira da perspectiva de que o Federal Reserve vai desacelerar o ritmo de alta de juros e do arrefecimento das tensões geopolíticas desencadeadas pela visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan.
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A libra também experimentou uma leve valorização. Como esperado, o Banco da Inglaterra (BoE) elevou a taxa básica de juros em 50 pontos-base, para 1,75%, para combater a maior inflação em quatro décadas. A autoridade monetária projeta que a economia britânica entre em recessão a partir do quarto trimestre deste ano.
“O câmbio aqui mostrou um ritmo parecido com o do dólar no exterior, que foi de enfraquecimento com a tensão geopolítica não escalando após o fim da visita de Pelosi”, afirma o economista Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. “Internamente, temos dentro da Bolsa setores como imobiliário e consumo, mais sensíveis à taxa de juros, avançando com a leitura do mercado de que o BC pode ter encerrado a alta de juros. Isso intensifica um pouco mais o movimento da moeda aqui”.
O monitoramento do CME Group aponta que a chance de uma elevação de 50 pontos-base pelo Fed em 21 de setembro avançava hoje a 64,5%, de 57,0% ontem. A presidente do Federal Reserve de Cleveland, Loretta Mester, reconheceu que existe o risco de que os EUA amargue uma recessão, mas ponderou que “há um caminho” para o Fed desacelerar a demanda sem provocar retração da atividade. Mester condicionou o ritmo da alta de juros à evolução dos índices de preços.
Amanhã, sai um indicador-chave para avaliar a saúde da economia americana: o relatório de emprego (payroll) em julho. Mediana de Projeções Broadcast é de criação de 250 mil pontos de trabalho, com piso em 75 mil e teto em 300 mil. Se confirmado, esse resultado mostrará uma desaceleração da geração de vagas, já que houve criação de 372 mil postos em junho. O número de pedidos de auxílio desemprego, divulgado pela manhã, subiu a 6 mil na semana encerrada em 30 de julho, para 260 mil, em linha com a expectativa de analistas.
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Para Guizzo, da Terra Investimentos, em vez de dar sinais sobre o ritmo e a intensidade do aperto monetário nos EUA, as declarações recentes de autoridades do Fed tem provocado muito ruído. Ele observa que, mesmo com a continuidade da alta de juros nos EUA e o fim do ciclo de aperto no Brasil, o diferencial de juros seguirá em patamar relevante e manterá a atratividade de operações de “carry trade” que podem favorecer o real.