O dólar abandonou perdas iniciais e passava a subir na manhã desta quinta-feira, negociado acima dos 4,90 reais, com a divisa norte-americana apresentando alguma recuperação no exterior conforme investidores digeriam a mais recente decisão de política monetária do Banco Central Europeu.
Leia também
Participantes do mercado também reagiam a dados de inflação domésticos mais fracos que o esperado e continuavam avaliando as perspectivas fiscais do país, enquanto aguardavam mais pistas sobre os próximos passos de política monetária do banco central dos Estados Unidos antes de sua reunião da semana que vem.
Às 10:46 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,45%, a 4,9125 reais na venda, nas máximas do dia. A moeda chegou a tocar 4,8656 reais na mínima, baixa de 0,51%, mas depois foi ganhando fôlego ao longo das negociações.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Na B3, às 10:46 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,22%, a 4,9425 reais.
Os maiores patamares do dia foram atingidos após uma desaceleração da queda do índice do dólar contra uma cesta de rivais fortes no exterior, movimento que refletiu uma inversão no sinal do euro de positivo para negativo.
A moeda única havia sido impulsionada mais cedo pela sinalização do Banco Central Europeu de que adotará uma série de aumentos dos juros a partir de julho. No entanto, comentários menos duros do que o esperado da presidente da instituição, Christine Lagarde, provocaram uma reversão dos ganhos, o que abriu espaço para alguma recuperação do dólar tanto contra divisas fortes quanto contra emergentes.
Atualmente, a taxa de depósito do BCE está em território negativo, apesar de a inflação estar em patamares recordes na zona do euro.
Publicidade
O clima global também era de cautela nesta quinta-feira antes da divulgação, na sexta, de dados de inflação norte-americanos. Caso a leitura mostre aceleração da alta dos preços na maior economia do mundo, podem crescer as apostas num posicionamento mais agressivo por parte do Federal Reserve, banco central do país.
Isso tenderia a impulsionar o dólar, já que juros mais altos no mercado norte-americano –considerado extremamente seguro– minariam a atratividade de taxas de países mais arriscados, como o Brasil e outros emergentes.
Por aqui, o foco do pregão, segundo vários participantes do mercado, era a notícia de arrefecimento mais intenso do que o esperado na inflação doméstica. O IBGE informou nesta quinta-feira que o IPCA desacelerou a alta a 0,47% em maio, de 1,06% em abril, marcando a taxa mensal mais baixa desde abril de 2021 (+0,31%).
A leitura ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters, de alta de 0,60%. A inflação em 12 meses ficou em 11,73% no período, contra 12,13% em abril e projeção de 11,84%.
Publicidade
“IPCA de maio com uma surpresa positiva (que há tempos não víamos!)”, disse em postagem no Twitter Rafaela Vitoria, economista-chefe do banco Inter. “Copom deve dar mais uma alta (de juros) em junho, mas pode ser a última.”
A Selic está atualmente em 12,75%, após mais de um ano de aumentos de juros pelo Banco Central, que tirou a taxa de uma mínima histórica de 2% atingida durante a pandemia.
A elevação dos custos dos empréstimos foi apontada como um dos principais fatores por trás da desvalorização de 12% do dólar até agora em 2022, já que torna o real mais interessante para estratégias de “carry trade” –que buscam lucrar com o diferencial de juros entre duas economias.
Na semana que vem, nos dias 14 e 15, o Comitê de Política Monetária (Copom) da autarquia se encontra para nova fixação da Selic. Mesmo que o BC opte por encerrar seu ciclo de aperto monetário neste mês, a taxa de juros brasileira continuará num patamar muito elevado, entre as maiores do mundo em termos nominais.
Publicidade
Por aqui, o risco fiscal também pode atrapalhar o desempenho do real e trazer volatilidade aos mercados no curto prazo, disse à Reuters Caio Tonet, sócio fundador da W1 Capital, citando o noticiário em torno de propostas do governo e do Congresso para tentar reduzir a inflação doméstica por meio da redução de tributação sobre combustíveis e outros produtos.
“Se abaixa o imposto, abaixa a arrecadação e aumenta o risco-país”, explicou Tonet, uma vez que receitas menores poderiam afetar a capacidade do governo de pagar sua dívida.
“Naturalmente, isso deixa o investidor preocupado, porque o Brasil já tem uma questão fiscal frágil. Muito provavelmente continuaremos vendo impacto desse assunto nos mercados.”