(Reuters) – O investidor estrangeiro continua “muito reticente” com o Brasil e não há no curto prazo perspectiva de retorno consistente de fluxos externos, a despeito do ambiente global de farta liquidez, disse Drausio Giacomelli, estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, destacando o peso das eleições no Congresso para as já fragilizadas perspectivas fiscais.
“Basta olhar o posicionamento de estrangeiros no mercado de títulos, que está em menos da metade do pico. O posicionamento em bolsa está em níveis mais baixos, perto de mínimas históricas, as entradas são táticas, não são estruturais”, afirmou.
Segundo ele, o “denominador comum” para isso é a discussão sobre que rumo o Brasil quer tomar. “O estrangeiro esperava mais e se frustrou muitas vezes. Ele está no modo ‘show me the money’, ele quer ser convencido. E nesse sentido a agenda do clima é importante. Meio ambiente é negócio. Espero que o Brasil passe a ver o meio ambiente como negócio, e não como ideologia.”
Para Giacomelli, o mercado conta com que até o fim de março a PEC emergencial e a reforma administrativa estejam em devida tramitação nas casas legislativas. A primeira propõe a criação de “gatilhos” que seriam acionados sempre que a regra de ouro fosse descumprida, enquanto a segunda tem como objetivo reduzir o custo da máquina pública.
“O Brasil está numa encruzilhada, está decidindo o caminho que vai tomar. Tem condições de tomar o caminho correto, mas a realidade é que já está tarde, estão fazendo isso na prorrogação”, disse o estrategista, referindo-se à intenção do governo de pautar reformas no Congresso e de articular com os parlamentares.