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
As bolsas de Nova York fecharam sem direção única nesta terça-feira (25), com apetite por risco reduzido, em meio à crescente incerteza sobre o impacto das tensões comerciais e da política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que confirmou a imposição de tarifas ao Canadá e México na semana que vem, quando um adiamento de 30 dias expira. Contribuiu para a cautela nos mercados o recuo além do esperado na confiança do consumidor americano. Os títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano (Treasuries), o dólar e o bitcoin, por outro lado, recuaram hoje.
O índice Dow Jones subiu 0,37%, a 43.620,97 pontos e o S&P 500 cedeu 0,47%, a 5.955,35 pontos. Já o índice Nasdaq teve queda de 1,35%, a 19,026,39 pontos, fortemente pressionado pelo tombo de 8,39% das ações da Tesla, após a montadora de Elon Musk registrar uma queda de 45% nas vendas na Europa em janeiro, na comparação anual. A capitalização de mercado da companhia caiu abaixo de US$ 1 trilhão.
Para a Capital Economics, o mercado refletiu um “enfraquecimento do apetite por risco”. A consultoria apontou que o sentimento dos investidores piorou nos últimos dias e que o movimento de hoje foi impulsionado pela “maior queda no índice de confiança do consumidor em quase quatro anos”. O Saxo Bank também alerta para preocupações de que uma guerra comercial, com tarifas de Trump, pressione os ativos de risco. Empresas ligadas a criptomoedas acompanharam a forte desvalorização do bitcoin, com Coinbase (-6,42%), Strategy (-11,41%) e Robinhood Markets (-8,03%) entre as maiores quedas do setor. A Super Micro Computer caiu 11,76%, sob risco de ser removida da Nasdaq caso não entregue seus balanços do ano fiscal encerrado em junho de 2024.
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Já a Palantir recuou 3,13% em meio a temores de cortes no orçamento de defesa dos EUA. A Zoom cedeu 8,48% após divulgar um guidance abaixo das expectativas do mercado. Na contramão, a Home Depot avançou 2,84% ao apresentar resultados corporativos melhores que o esperado. Apesar do forte crescimento de receita, a Hims & Hers Health tombou 22,47% depois que a Food and Drug Administration (FDA) anunciou o fim da escassez dos medicamentos Wegovy e Ozempic.
Juros dos EUA operam em queda
Os juros dos Treasuries operavam em queda, diante de forte busca por segurança com incertezas políticas e econômicas globais. A declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reforçando a aplicação de tarifas sobre importação de países vizinhos, e a queda acima da esperada no índice de confiança do consumidor, alimentando temores sobre o futuro da economia americana, favoreceu a movimentação.
Neste fim de tarde, o retorno da T-note de 2 anos recuava a 4,096%, o rendimento de 10 anos tinha queda a 4,289% e o juro do T-bond de 30 anos caía a 4,546%.
Para a Capital Economics, a queda nos rendimentos dos Treasuries hoje é reflexo de uma forte busca por segurança diante de um cenário de incertezas econômicas e políticas. A consultoria destaca que o movimento foi impulsionado por uma “mudança nas expectativas para a política do Federal Reserve (Fed)”, após dados dos EUA mais fracos desde a semana passada e a queda acima do esperado no índice de confiança do consumidor hoje.
Ontem, Trump reafirmou que seguirá adiante com a imposição de tarifas sobre importações do Canadá e do México na próxima semana, quando expira o adiamento de 30 dias na aplicação de sua política tarifária.
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A BMO Capital Markets reforça o posicionamento de que a alta demanda por Treasuries evidencia a fragilidade do apetite por risco nos mercados e também atribui o movimento às crescentes preocupações com o impacto da agenda tarifária do republicano na economia global.
Além disso, o custo de proteção contra um possível calote da dívida soberana dos EUA, medido pelo CDS, atingiu o maior nível desde antes da posse de Trump, segundo dados da S&P Global Market Intelligence. “A falta de notícias econômicas melhores nos EUA e em outras partes traz o crescimento de volta ao foco”, escreveu Bob Savage, chefe de estratégia macroeconômica do BNY, em nota a clientes.
O Departamento do Tesouro dos EUA leiloou hoje US$ 70 bilhões em T-notes de 5 anos, com yield de 4,123% e demanda acima da média recente. Os rendimentos dos títulos no mercado secundário caíram ligeiramente na sequência do resultado.
Moedas Globais: dólar cai
O dólar operou em queda frente a outras moedas fortes, influenciado pela crescente incerteza sobre o impacto das tensões comerciais e da política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que confirmou a imposição de tarifas ao Canadá e México na próxima semana, quando expira um adiamento de 30 dias. A moeda também foi pressionada pela queda inesperada na confiança do consumidor americano.
O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de seis moedas fortes, fechou em queda de 0,27%, a 106,308 pontos, com a moeda americana recuando a 149,00 ienes. O euro, por sua vez, subia a US$ 1,0519, assim como a libra, que operava em alta a US$ 1,2673.
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O MUFG destaca que as medidas protecionistas de Trump, incluindo a possibilidade de “tarifas disruptivas”, são um fator crucial para o desempenho futuro do dólar. A instituição observa que, embora a incerteza comercial impacte a moeda no curto prazo, tarifas mais agressivas poderiam fortalecê-la no segundo trimestre. No entanto, o Brown Brothers Harriman (BBH) afirma que os comentários do republicano “não deveriam surpreender a ninguém”, porque ainda não é possível saber quão amplamente as tarifas serão aplicadas, apenas que “estão a caminho”. A presidente do México, Claudia Sheinbaum afirmou que espera fechar um acordo com os EUA até 4 de março, quando expira a suspensão das tarifas de Trump.
Além das questões comerciais, a geopolítica segue no radar dos investidores e também dos banqueiros centrais, que têm destacado as incertezas globais como um fator que dificulta a condução da política monetária. O mercado tem ficado atento aos diferenciais de juros sobretudo entre EUA e Europa.
Isabel Schnabel, dirigente do BCE, afirmou que os riscos inflacionários estão voltados para uma alta devido a fatores como tensões geopolíticas, mudanças climáticas e escassez de mão de obra. Joachim Nagel, presidente do Bundesbank, pediu cautela na redução de juros, destacando a incerteza e o comportamento recente da inflação. Já Yannis Stournaras, presidente do BC da Grécia, defendeu a continuidade da flexibilização monetária até que a taxa de juros principal atinja 2%, apontando que ainda não é o momento para uma pausa nas políticas do BCE.
Bitcoin cai abaixo de US$ 90 mil
O preço do bitcoin caiu abaixo de US$ 90.000 pela primeira vez desde novembro de 2024, liderando uma baixa generalizada das criptomoedas, diante de notícias que citavam a ampliação das apostas vendidas, que contemplam uma correção mais pronunciada de preços.
O movimento foi reforçado ainda por dados mostrando piora da confiança dos norte-americanos e aversão ao risco em Wall Street, que punia principalmente ações ligadas ao setor de tecnologia.
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Nas 24 horas até as 16h20 (de Brasília, o bitcoin caía 8,2%, a US$ 86.564,20, e o ethereum perdia 8,8%, a US$ 2.418,01, de acordo com a Binance. Mais cedo, o bitcoin tocou a mínima de US$ 86.008,23, o menor nível em três meses, segundo cotações da mesma plataforma. A mínima do ethereum foi de US$ 2.326,63.
Muito do otimismo em torno de uma administração mais amigável do presidente Donald Trump já foi contabilizado, disse o estrategista do Grupo LMAX Joel Kruger, “deixando o mercado exposto a uma reação do tipo vender no fato”.
De acordo com a Kraken, o declínio do Bitcoin ocorre após o aumento de US$ 1 bilhão das posições futuras em aberto na Binance, provavelmente em virtude de posições vendidas – que apostam em queda – assumidas por operadores em antecipação de uma baixa ainda mais pronunciada.
Na esfera macroeconômica, o índice de confiança do consumidor nos Estados Unidos caiu para 98,3 em fevereiro, um resultado bem abaixo do esperado por analistas consultados pela FactSet, que projetavam recuo a 103,0.
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Nos mercados acionários, a véspera da divulgação do aguardado balanço da Nvidia é marcada por perdas de mais de 1% do Nasdaq, que concentra ativos do setor de tecnologia.
*Com informações da Dow Jones Newswires