

As bolsas de Nova York fecharam o pregão desta sexta-feira (28) com forte queda, após novos dados revelarem que o núcleo da inflação dos EUA aumentou mais do que o esperado em fevereiro e que o sentimento do consumidor caiu pelo terceiro mês consecutivo em março. A deterioração no sentimento de risco ainda é reforçada pelos temores relacionados à guerra tarifária do presidente Donald Trump e às tensões geopolíticas na Europa e no Oriente Médio. Os títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano (Treasuries), o dólar e o bitcoin também recuaram hoje.
O Dow Jones recuou 1,69%, aos 41.583,59 pontos; o S&P 500 cedeu 1,97%, aos 5.580,94 pontos; e o Nasdaq caiu 2,70%, aos 17.322,99 pontos. Os dados são preliminares. Na semana, o Dow Jones caiu 0,96%, o S&P 500 perdeu 1,53%% e o Nasdaq recuou 2,59%.
As ações da Tesla perderam 3,5%, acompanhando o sentimento geral de Wall Street. O papel teve ganho na quinta-feira, em uma sessão difícil para as montadoras, marcada por reações ao anúncio de Trump de que aplicará tarifas de 25% sobre todos os carros e algumas peças automotivas fabricados fora dos EUA. Diferentemente da General Motors, da Ford e da Stellantis, que acumularam perdas significativas no pregão de ontem, a Tesla fabrica internamente todos os carros que vende nos EUA.
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A Nvidia caiu 1,58%, em novo recuo das ações da fabricante de chips para inteligência artificial em meio a preocupações com seus negócios na China.
A United States Steel ficou perto da estabilidade (+0,05%), depois de cair com informações de que sua fusão de US$ 14 bilhões com a japonesa Nippon Steel ainda pode ser salva. As duas empresas estão em negociações com Trump e, segundo o site de notícias Semafor, a Nippon Steel oferece elevar os investimentos nas instalações da U.S. Steel de US$ 2,7 bilhões para US$ 7 bilhões.
Enquanto isso, a AppLovin caiu quase 4,1%, revertendo parte do tombo de 20% no pregão anterior, depois que a Muddy Waters Research revelou ter assumido uma posição curta nas ações da empresa de tecnologia de publicidade.
Na outra ponta, a Lululemon Athletica, grife de roupas esportivas, despencou 14,2% e foi a maior queda porcentual do S&P após decepcionar Wall Street com seu guidance anual em um ambiente de maior cautela dos consumidores.
Juros de longo prazo dos EUA caem
Os rendimentos dos títulos de longo prazo do Tesouro dos Estados Unidos chegaram ao fim da tarde em queda e o vencimento de 10 anos devolveu quase todo o avanço acumulado durante a semana. Os investidores buscam refúgio na dívida do governo americano antes da extensa rodada de tarifas que deverá ser anunciadas na próxima quarta-feira, enquanto a inflação do país dá sinais de persistência.
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Por volta das 17h (horário de Brasília), juro da T-note de 2 anos caía a 3,911%. O rendimento do título de 10 anos recuava a 4,259%, enquanto a taxa do T-bond de 30 anos cedia para 4,638%.
Os rendimentos dos Treasuries ganharam fôlego, reduzindo a queda, após a divulgação dos índices de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), mas logo retomaram a tendência de queda, ainda que sustentando o ganho semanal no caso dos vencimentos longos e intermediários. O núcleo do PCE de fevereiro ficou um pouco mais alto do que o esperado, enquanto o sentimento do consumidor de março caiu para seu nível mais baixo desde 2022. Os contratos futuros estão precificando uma chance de 60% de três ou mais cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) neste ano, de acordo com dados da CME.
Wall Street também se prepara para um novo conjunto de tarifas que deve ser anunciado na próxima quarta-feira. “A resposta do mercado de Treasuries ao anúncio de tarifas sobre automóveis, na quinta-feira, ficou claramente dentro da faixa esperada – embora os rendimentos dos títulos de 10 anos tenham ultrapassado momentaneamente o limite superior da banda de Bollinger”, dizem Vail Hartman e Ian Lyngen, estrategistas de renda fixa do BMO Capital Markets. “Haverá inflação – isso não é uma questão em aberto.
O que não está claro é a magnitude da transferência dos custos para os preços ao consumidor que as famílias americanas conseguirão absorver sem uma mudança material dos padrões de consumo”, afirmam. “Dada a relevância do consumo no perfil de crescimento dos EUA, os investidores estão cada vez mais vendo o aumento das tarifas como um fator que cria um risco maior de desaceleração econômica.”
Moedas globais: dólar recua
O dólar opera em queda frente às principais moedas à medida que os investidores permanecem cautelosos diante da incerteza sobre as tarifas dos Estados Unidos e aguardam dados econômicos importantes do país. Analistas do Deutsche Bank apontam que há sinais de crescente preocupação com a possibilidade de estagflação nos EUA. Isso tem pressionado os ganhos do dólar, enquanto os investidores demonstram cautela.
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O índice DXY, que acompanha o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas fortes, recuou 0,28%, para 104,044 pontos. O dólar caía para 149,88 ienes, enquanto o euro avançava para US$ 1,0828 e a libra esterlina caía para US$ 1,2945.
O ING também alerta para a possibilidade de uma “perda de confiança” na moeda americana, considerando a alta contínua do ouro como um indicativo dessa tendência.
Nesta sexta-feira, o dólar americano perdeu força, especialmente em relação ao dólar canadense, após uma conversa entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o premiê canadense, Mark Carney. Ambos indicaram que se reunirão após as eleições canadenses, previstas para 28 de abril.
A libra esterlina subiu inicialmente, impulsionada pelos dados de vendas no varejo do Reino Unido que superaram as expectativas. No entanto, a moeda recuou após as análises do mercado sobre o PIB, que confirmou uma economia britânica fraca no final do ano passado, embora o gasto do consumidor possa ajudar no início de 2025, segundo Ruth Gregory, economista da Capital Economics.
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O euro também passou por flutuações, inicialmente caindo, após dados de inflação na França e Espanha respaldarem espaço para corte das taxas de juros pelo Banco Central Europeu. Mas a moeda se recuperouno final da tarde. A dirigente do BCE e presidente do BC da Estônia, Madis Muller, alertou que a implementação de tarifas pode resultar em “inflação ligeiramente maior” na zona do euro e desacelerar o ímpeto econômico.
Bitcoin fica abaixo de US$ 85 mil
O bitcoin recua à medida que as preocupações com as tarifas iminentes dos EUA reduzem o apetite dos investidores por ativos de risco. O presidente Donald Trump anunciou novas medidas restritivas sobre carros, que entrarão em vigor na próxima semana, além de planejar tarifas recíprocas sobre os parceiros comerciais. “A implementação dessas tarifas intensificou os temores de uma guerra comercial global”, afirma Naeem Aslam, analista da Zaye Capital Markets.
Por volta das 16h00 (horário de Brasília), o bitcoin recuava 3,89%, cotado a US$ 83.838,29, enquanto o Ethereum caía 6,54%, a US$ 1.878,53, segundo dados da Binance.
“Esta foi uma semana mais lenta tanto nos mercados de risco, incluindo cripto, quanto nos tradicionais, à medida que o mercado aguarda os anúncios macroeconômicos previstos para abril. No campo regulatório, destaque para as declarações de Trump durante o Digital Assets Summit, que reforçaram o foco dos EUA no setor e na aprovação de projetos sobre stablecoins e estruturas de mercado”, afirmou Fábio Plein, diretor regional para as Américas da Coinbase.
De acordo com a Tide Capital, desde o início de 2025, a maior criptomoeda do mundo caiu mais de 25%, à medida que os fluxos migraram para ativos de refúgio. Os ETFs de Bitcoin à vista enfrentaram cinco semanas consecutivas de resgates desde 10 de fevereiro, totalizando US$ 5,5 bilhões, conforme dados da CoinGlass.
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Enquanto isso, os ventos regulatórios para o setor cripto continuam fortes. A agência do governo dos Estados Unidos responsável pela garantia de depósitos bancários esclareceu que as instituições supervisionadas podem se envolver em atividades relacionadas a criptomoedas permitidas sem a necessidade de aprovação prévia do órgão.
Após a notícia sobre o projeto World Liberty Financial, democratas alertaram hoje os reguladores financeiros dos EUA que eles podem em breve enfrentar “um conflito de interesses extraordinário”: supervisionar uma entidade de criptomoeda controlada pelo presidente Trump e sua família.
*Com informações da Dow Jones Newswires