Os juros futuros dispararam nesta sexta-feira, com algumas taxas nos contratos da ponta longa chegando a abrir mais de 40 pontos-base nas máximas da tarde. As críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central e dados econômicos mais fortes nos Estados Unidos, que pressionaram os Treasuries e o câmbio, foram os condutores dos negócios na sessão. Com o desempenho muito ruim hoje, as taxas acumularam alta expressiva na semana, marcada pelo balde de água fria nas apostas de queda de juros em 2023 tanto pelo Copom quanto pelo Federal Reserve.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,83%, de 13,64% ontem, e a do DI para janeiro de 2025, a 13,27%, de 12,97%. O DI para janeiro de 2027 fechou em 13,18%, de 12,82%. A taxa do DI para janeiro de 2029 saltou de 12,97% para 13,33%. Na semana, a ponta curta subiu 30 pontos; as intermediárias, 40 pontos; e as longas entre 30 e 40 pontos.
A entrevista do presidente Lula ontem à RedeTV! caiu como uma bomba no mercado. Não que tenha trazido qualquer novidade. As críticas à autonomia do Banco Central (BC), ao atual nível da taxa de juros e das metas de inflação já haviam sido feitas por ele em entrevista à GloboNews em janeiro. O fato é que ontem ele dobrou a aposta contra o BC, um dia depois do Copom indicar que a Selic pode não cair no curto prazo caso as estimativas de inflação não retornem às metas no horizonte relevante da política monetária.
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Lula defendeu um “padrão Brasil” para as metas. “Uma inflação de 4,5% no Brasil, de 4%, é de bom tamanho se a economia crescer”, disse o presidente, para quem não há razão para a taxa de juros estar em 13,75%, uma vez que não existiria inflação de demanda. Por fim, disse que após o fim do mandato de Roberto Campos Neto fará uma “avaliação do que significou o Banco Central independente sic”.
“Ele parece não ter entendido que a Selic está neste patamar por questões técnicas”, afirma o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Quanto à autonomia do BC, embora o mercado veja a mudança deste status como mais difícil, a insistência de Lula amplia os temores às vésperas das trocas na diretoria. No fim de fevereiro, vencem os mandatos de Bruno Serra (Política Monetária) e Paulo Souza (Fiscalização). “Há um temor de que indique nomes mais suscetíveis a influências políticas, principalmente no caso da diretoria ocupada hoje por Bruno Serra”, diz Rostagno. “Tombini era alinhado à ala política e vimos que, na prática, as ações do BC miravam o teto e não o centro da meta”, lembra o estrategista, citando o risco deste cenário se repetir.
A curva a termo reduziu ainda mais a precificação para queda da Selic este ano, projetando taxa de 13,50%, de 13,25% ontem. De acordo com a BlueLine Asset, há um total de 45 pontos-base de alta precificados para o primeiro semestre e corte cerca de 70 pontos a partir de agosto.
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No fim da tarde, o mercado acelerou os ajustes, com zeragem de posições (stop loss) vendidas antes do fim de semana e da pesquisa Focus na segunda-feira. A piora à tarde também foi influenciada pelo exterior, onde os juros dos Treasuries aceleraram o avanço, com a T-Note de dois anos superando 4,30% e a de 10 anos tocando 3,54% nas máximas. Houve deterioração também no câmbio, com as máximas do índice DXY levando o real a ampliar as perdas, e o dólar por aqui fechou na casa de R$ 5,14.
Os números forte do emprego americano, com criação de 517 mil vagas em janeiro, muito acima do consenso de 190 mil, dissiparam as apostas de redução de juro nos Estados Unidos este ano.