Fed mantém taxa de juros pela quinta vez consecutiva, mesmo com discordância entre autoridades do comitê
Banco central americano segurou os juros entre 4,25% e 4,50% ao ano, mas com votos dissidentes pela 1.ª vez desde 1993. Decisão de Trump sobre tarifas eleva dólar a R$ 5,61
Federal Reserve System é o Banco Central dos EUA (Foto: Adobe Stock)
O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve System (Fed, o banco central americano) divulgou há pouco que manteve inalterada a taxa de juros na faixa entre 4,25% a 4,50% ao ano. A decisão, porém, não foi unânime entre as autoridades e esta é a primeira vez desde 1993 que dois membros do Conselho de Governadores (em oposição aos membros votantes mais amplos do comitê) votaram contra o presidente do BC, Jerome Powell. Esta é a quinta vez consecutiva que o Fed mantém as taxas de juros.
O diretor do Federal Reserve, Christopher Waller, e a vice-presidente de supervisão do BC americano, Michelle Bowman, divergiram da decisão e votaram por um corte de 25 pontos-base. Antes da reunião de julho, os dirigentes já tinham demonstrado que poderiam apoiar uma redução nos juros.
Waller disse que um corte de 25 pontos-base (pb) seria um movimento de segurança para apoiar a atividade doméstica e garantir que não haverá pouso forçado da economia dos EUA, enquanto Bowman apontou que a flexibilização de política monetária poderia acontecer, a depender das leituras de inflação.
De acordo com a consultoria britânica Capital Economics, as duas discordâncias não devem ser consideras como um sinal significativo de que o BC americano está se aproximando de votar por um corte em setembro. “Para que isso aconteça, o restante do comitê precisará se tornar menos preocupado com as perspectivas de inflação ou mais preocupado com as perspectivas econômicas e do mercado de trabalho”, diz a análise.
Além disso, com os recentes acordos comerciais confirmando que as tarifas serão um pouco mais altas do que a maioria esperava anteriormente, a Capital acredita que o resultado mais provável é de que o Fed manterá a política inalterada pelo resto deste ano. Um exemplo disso são as tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros, confirmadas nesta tarde por Donald Trump.
O decreto adiantado de Trump frustra a expectativa de que alguns itens poderiam sair da política tarifária, tendo em vista que empresas brasileiras como a Embraer, uma das principais afetadas, estava unindo esforços para combater o tarifaço. A tendência é de que a alíquota seja aplicada na sexta-feira, 1º agosto.
Com ambas as decisões – tanto a do Fed quanto a decisão de Trump sobre o tarifaço sobre o Brasil -, o dólar à vista acentuou alta contra o real e voltou ao nível de R$ 5,61 por volta das 15h22 (horário do anúncio), subindo 0,75% (R$ 5,6122), com o contrato para agosto também avançando 0,53%, a R$ 5,6110.
Veja as considerações do mercado
De acordo com Caique Stein Laguna, sócio e especialista de investimentosoffshore (fora do Brasil) na Blue3 Investimentos, o mercado já esperava que o BC americano mantivesse a taxa de juros. “A decisão, basicamente, reflete preocupações com a inflação, que ainda está acima da meta. Apesar da forte pressão política, inclusive por parte do presidente Trump, o Fed reforçou que vai seguir agindo com base nos dados da economia americana.
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O especialista também acredita que os cortes podem começar a ocorrer no mês de setembro deste ano, a depender dos indicadores de atividades econômicas como geração de empregos e inflação. Laguna explica, ainda, que o Fed tem tomado medidas conservadoras, muito devido às tarifas, afinal, um impacto sobre inflação junto de um corte de juros precoce pode gerar uma reação negativa no mercado.
Já Dan Siluk, chefe de global short duration e liquidez e gerente de portfólio da Janus Henderson, afirma que no mês de junho, o Fed afirmou que a atividade econômica havia “continuado a se expandir em ritmo sólido”, mas hoje tomaram um tom foi mais cauteloso, afirmando que “a atividade econômica moderou no primeiro semestre do ano”.
Para ele, os mercados interpretarão o resultado de hoje possivelmente como uma estratégia de “esperar para ver”. “A reunião do Fed de setembro será movimentada”, acrescenta o especialista.