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Ibovespa: bolsa cai 2,17%, em reação a sinal do BC

O giro da sessão desta terça-feira (6) foi a R$ 31,2 bilhões

Ibovespa: bolsa cai 2,17%, em reação a sinal do BC
(Foto: Shutterstock)

(Luís Eduardo Leal e Cícero Cotrim, Estadão Conteúdo) — No que foi sua maior queda em porcentual desde 17 de junho (-2,90%), quando perdeu o nível de 100 mil pontos em fechamento pela primeira vez desde 27 de outubro de 2020, o Ibovespa caiu hoje 2,17%, aos 109.763,77 pontos, tendo chegado na mínima da sessão (109.348,31 pontos) a ficar negativo no mês, após ter encerrado agosto aos 109.522,88 pontos. Em setembro, ainda registra leve avanço de 0,22% após a correção de hoje, que limita o ganho do ano a 4,71%. O giro da sessão foi a R$ 31,2 bilhões.

Até esta terça-feira, o índice da B3 resistia aos fatores de risco externo – como a crise de energia na Europa, a desaceleração chinesa e o processo de elevação de juros nos EUA – que tem abalado o apetite por risco nas praças globais. Mas o discurso de ontem à noite do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em sinal reiterado hoje pelo diretor de Política Monetária, Bruno Serra, lançou os ativos brasileiros a uma forte correção, com pressão sobre a curva de juros, o câmbio e as ações listadas na B3.

“A fala do presidente do Banco Central, sobre a inflação persistente e perspectiva de uma Selic alta por mais tempo, elevou a percepção de risco e ocasionou movimento de realização em praticamente todas as ações que compõem o Ibovespa”, diz Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora, destacando também o “estresse” na curva de juros e a apreciação do dólar frente ao real, com aumento da “aversão a risco no curto prazo”.

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“Lá fora há também continuidade no processo de elevação de juros, para conter a inflação. Aqui, ontem à noite, o discurso de Campos Neto, de que algum ajuste na Selic ainda seja necessário, jogou um pouco de água fria na expectativa do mercado de que os juros parariam no patamar em que já estão”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

Moliterno destaca em especial a correção de hoje no setor de varejo, devolvendo recuperação recente, revertida agora pela percepção de que os juros ainda não chegaram ao teto no Brasil. O índice de consumo (ICON) fechou em baixa de 2,07%, queda superior à vista em materiais básicos (IMAT -1,44%), em dia também negativo para as commodities. O setor de construção, exposto a custos de crédito, também sofreu na sessão desta terça-feira.

Assim, com reprecificação na curva de juros e correção aguda também no câmbio – com dólar perto de R$ 5,24 (+1,63%) no fechamento desta terça-feira -, as perdas se disseminaram pela B3, embora algumas ações da carteira Ibovespa tenham conseguido escapar à correção, entre as quais TIM (+2,19%), São Martinho (+1,97%) e Telefônica Brasil (+0,77%). Na ponta oposta do índice, MRV (-8,51%), Via (-7,67%) e Magazine Luiza (-7,41%). Entre as blue chips, destaque para Petrobras (ON -3,52%, PN -3,69%), em dia de perdas para o petróleo, e também para Vale (ON -2,38%), com BB ON (-4,80%) puxando a fila, negativa, no financeiro, setor de maior peso no índice.

Em evento em São Paulo na noite de segunda-feira, Campos Neto foi cauteloso quanto a juros e inflação no País, esfriando a recente euforia do mercado com relação aos ativos brasileiros, nesta véspera de feriado da Independência – amanhã haverá negócios lá fora, mas não aqui. “Bruno Serra também falou hoje sobre ajuste residual na Selic em setembro, trazendo sinalização de que os dados macro não estão ainda tão bons, o que resultou em aversão a risco aqui”, diz Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.

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“Campos Neto surpreendeu um pouco com discurso mais duro, mais ‘hawk’, com a indicação de que a Selic pode subir a 14% na reunião do dia 21, e o mercado leu como uma dica de que a taxa de juros pode ir a 14% (ao ano) e parar. Precificava-se majoritariamente que pararia a 13,75%, o que resultou em alteração das apostas (para a reunião de setembro) na medida em que daqui a pouco eles (diretores do BC) entram em período de silêncio”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

Mais do que a indicação de que a porta permanece aberta para novo aumento da Selic em setembro – mês sobre o qual o mercado já havia sido instruído pelo Copom quanto à possibilidade de um aumento “residual” -, o que bateu mais forte foi a sinalização de que o BC não cogita corte de juros antecipado, em razão de inúmeros fatores de incerteza não só externos como também domésticos, entre os quais o financiamento de programas sociais no próximo ano – o que, na visão emitida ontem por Campos Neto, será um desafio significativo.

Na avaliação do economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, que mantém a projeção de Selic terminal em 13,75%, as falas recentes de dirigentes do Banco Central parecem direcionadas a retirar da curva de juros a precificação de cortes adiantados da taxa de juros de referência. “Acho que eles quiseram tirar ou diminuir essas precificações de corte tão cedo, até porque a inflação projetada ainda está acima da meta”, avalia Weeks. “Eu não acho que tenha mudado o cenário para o fim do ciclo.”

Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luís Otávio de Souza Leal, as declarações de ontem para hoje são um “recado” de que o mercado está muito otimista, na visão do BC, quanto ao início do ciclo de cortes em 2023. “Para o BC, não interessa ter o mercado muito otimista com o início do ciclo de corte de juros quando você está em um processo de elevação das taxas”, observa o economista.

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