Por Luís Eduardo Leal – Acompanhando passageira acentuação de ganhos em Nova York no meio da tarde, o Ibovespa chegou a se firmar em alta e a recuperar o nível dos 100 mil pontos, embora sem mostrar força para sustentá-lo no fechamento, vindo de três sessões abaixo do limiar psicológico – agora a quarta -, ainda nos menores níveis desde o começo de novembro de 2020. Ao fim, registrava perda de 0,16%, a 99.522,32 pontos, entre mínima de 98.050,02 e máxima de 100.373,69, saindo de abertura a 99.678,00. Ainda moderado, o giro ficou em R$ 23,6 bilhões. Na semana, o Ibovespa segue no negativo (-0,30%), com retração no mês a 10,62% e, no ano, a 5,06%. Na série de 13 sessões retroativa ao último dia 3, houve perdas em 11, considerando a de hoje.
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O fôlego do índice ficou mais curto com a devolução da retomada vista mais cedo em Petrobras, que fechou o dia em baixa (ON -0,47%, PN -0,30%), cedendo à forte retração, em torno de 3%, observada no petróleo. O dia também foi amplamente negativo para a mineração (Vale ON -0,86%) e siderurgia (CSN ON -4,60%, Gerdau PN -3,94%), e para os grandes bancos (Unit do Santander -1,76%, na mínima do dia no fechamento; Itaú PN -0,74%). Na ponta do Ibovespa, Méliuz (+7,69%), BTG (+5,55%), BRF (+4,81%), Minerva (+3,77%), Natura (+3,76%) e Raia Drogasil (+3,35%). No lado oposto, IRB (-10,60%), 3R Petroleum (-6,68%), SLC Agrícola (-6,45%) e PetroRio (-6,42%).
Com poucos desdobramentos que fizessem preço a partir da agenda doméstica, o Ibovespa flutuou a alguma distância, observando NY. Embora esvaziado no fim da tarde, o bom humor desde o exterior veio pela manhã, com o depoimento do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ao Senado, no qual reafirmou a percepção de que a economia americana está em condição saudável para lidar com o atual ciclo de aperto monetário. À tarde, os índices de Nova York chegaram a receber um impulso extra, após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ter solicitado ao Congresso suspensão por três meses de imposto federal sobre a gasolina, em meio à escalada global dos custos de energia, acentuada pela guerra no leste europeu.
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Por outro lado, o presidente do Federal Reserve de Chicago, Charles Evans, afirmou hoje que uma elevação de 75 pontos-base nos juros dos Estados Unidos na reunião de julho do comitê de política monetária “seria algo razoável para se debater”. Em declarações a jornalistas após evento, Evans disse também não ver necessidade de uma alta maior, de 100 pontos-base, em apenas uma reunião do BC americano.
Mais cedo, “a fala do Powell foi o destaque. Ainda que não tenha trazido novidade, ele se mostrou confiante de que a economia não vai entrar em recessão, ao contrário do que o mercado tem pensado. De qualquer forma, os mercados reagiram bem, melhorando um pouco o humor, embora a preocupação com a possibilidade de recessão permaneça como pano de fundo. Aqui, acompanhamos o mercado externo, mas ainda atentos a Petrobras e ao preço dos combustíveis”, diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.
“O mercado calcula uma grande probabilidade de recessão, sabendo que a missão do Fed, de evitar um pouso forçado (da economia), é difícil tendo em vista essa inflação, a maior em 40 anos nos Estados Unidos”, diz Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos. Para Marcelo Boragini, especialista em renda variável da Davos Investimentos, a reação positiva dos mercados a Powell derivou da manutenção de tom, ainda ‘hawkish’ mas “sem surpresas”.
“O discurso do Powell foi focado mais no longo prazo do que nos próximos passos, um discurso ‘by the book’, como costuma ocorrer nessas audiências no Congresso. Mas, embora não tenha trazido novidades hoje, ele tem enfatizado, para o longo prazo, a possibilidade de a economia americana ficar mais fraca, com a elevação dos juros nesse contexto inflacionário. Ele tem deixado muito evidente que vai priorizar o combate à inflação mesmo que se leve a economia para uma eventual recessão”, observa Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
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