A aversão a risco no exterior empurra o Ibovespa para baixo, enquanto a possibilidade de descarte na mudança da Lei das Estatais e o impasse da PEC da Transição são vistos como gatilhos para algum alívio.
“Os últimos dias foram péssimos para o mercado doméstico e nem tanto para o exterior, em meio ao noticiário sobre a indicação de Aloizio Mercadante para o BNDES no novo governo e à mudança na lei das estatais na Câmara. As ações de estatais despencaram’, relembra Marco Noenberg, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Só que hoje, acrescenta Noenberg, é crescente o temor de que ocorra uma recessão mundial, o que pesa nos ativos. A queda do petróleo de mais de 2,6% faz com que as ações da Petrobras devolvam parte da alta da véspera, em relação ao noticiário de descarta da lei das estatais, acrescenta.
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“As questões internas impasse na lei das estatais e na PEC ajudam o Ibovespa a não cair tanto. Por ora, não há novidades que motivem alta do índice, e hoje ainda em vencimento de opções sobre ações, o que reforça volatilidade”, diz o operador de renda variável da Manchester Investimentos. Às 11h46, o Ibovespa caía 0,055%, aos 103.171,03 pontos, após abertura aos 103.737,17 pontos.
Ao mesmo tempo, as negociações do governo para avançar a construção da sua equipe e para destravar a PEC podem provocar instabilidade ao longo do pregão, à medida que forem saindo informações sobre os assuntos. Além disso, o vencimento de opções sobre ações é outro fator com chance de levar à volatilidade do índice Bovespa, que caminha para fechar a segunda semana seguida de queda. Até o momento, acumula desvalorização de quase 4% no período.
“O grande tema do pregão de quarta-feira foi jogado a escanteio apenas um dia depois. Isso porque, após uma aprovação relâmpago na Câmara, não há previsão de que a mudança na Lei das Estatais entre na pauta do Senado por enquanto”, descreve em nota Antonio Sanches, analista de investimentos da Rico.
Ontem, o Ibovespa fechou praticamente estável (-0,01%, aos 103.737,69 pontos), enquanto Wall Street amargou perdas na faixa de 2% a 3%, na esteira de renovado aumento nas expectativas de recessão global após altas de juros esta semana, começando pelos Estados Unidos.
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Este temor hoje é reforçado após leituras fracas de dados de atividade da Europa a partir do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da zona do euro, do Reino Unido e da Alemanha. As bolsas europeias caem em torno de 1%, assim como os índices futuros de ações dos Estados Unidos, onde mais tarde será divulgado o PMI preliminar de dezembro e haverá participação presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, em evento.
“Portanto, um dia claramente de aversão a risco”, define em comentário matinal o economista-chefe do BV, Roberto Padovani. Apesar do recuo de mais de 2% do petróleo no exterior, a sinalização do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de a votação da mudança na Lei das Estatais aprovada na Câmara pode ficar para o ano que vem tende a gerar algum alívio. Ontem, as ações do setor público reagiram em alta a essa possibilidade, dado que há o temor no mercado de que a sua aprovação abra espaço para ingerência política nessas empresas. Petrobras avançou mais de 2,5%.
Além disso, deve seguir no radar dos investidores as especulações de que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva edite uma Medida Provisória (MP) para garantir o Bolsa Família de R$ 600, diante do impasse da PEC na Câmara dos Deputados.
Lula desembarcou ontem à noite em Brasília para tentar avançar na montagem do governo. A escalação dos ministros está congelada pela dificuldade em aprovar a PEC da Transição na Câmara e o compasso de espera do mundo político pelo julgamento do orçamento secreto no Supremo Tribunal Federal (STF). Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), adiou a votação da PEC para terça-feira. No caso do STF, a votação será retomada na segunda.
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“As leituras sobre a PEC tem oscilado conforme as informações do dia. Portanto, pode ter uma história mercados de mais volatilidade”, estima Padovani.