(Luís Eduardo Leal, Estadão Conteúdo) — Após oscilação na virada da manhã e no fim da tarde, o Ibovespa se reconectou ao sinal de Nova York, embora sem deslanchar, vindo de perda de 2,17% antes do feriado de 7 de setembro. Hoje, fechou em leve alta de 0,14%, a 109.915,64, tendo operado abaixo dos 109 mil na mínima da sessão, no começo da tarde, a 108.618,97 (-1,04%), menor nível intradia desde 1º de setembro. No piso do dia, o Ibovespa virava de ganho para perda em setembro, de 0,77%. Ao fim da sessão desta quinta-feira, ainda sustenta alta de 0,36% no mês, com retração de 0,86% na semana – no ano, sobe 4,86%. Moderado, o giro desta quinta pós-feriado ficou em R$ 24,8 bilhões, após bom volume de negócios, de R$ 31,2 bilhões, na terça-feira.
Leia também
O 7 de setembro sem maiores atribulações foi um dado positivo para a retomada dos negócios, mas, acima da disputa eleitoral – até aqui sem causar maior volatilidade para a Bolsa -, o cenário externo, de elevação de juros e enfraquecimento da atividade econômica, mantém-se como principal ‘driver’ também na B3. Ontem, nos Estados Unidos, o Livro Bege, sumário das condições econômicas compilado pelas unidades regionais do Federal Reserve, mostrou que 9 de 12 distritos relataram alguma moderação de preços, embora a inflação americana ainda permaneça em nível muito elevado considerando o histórico do país.
“O Livro Bege trouxe esta boa notícia no momento em que inflação, nível de atividade e de juros são preocupações centrais. E hoje veio a decisão do Banco Central Europeu (BCE), com a alta de 0,75 ponto porcentual na taxa de juros de referência, em linha com a expectativa majoritária do mercado”, diz Marcelo Boragini, especialista em renda variável da Davos Investimentos.
Preencha os campos abaixo para que um especialista da Ágora entre em contato com você e conheça mais de 800 opções de produtos disponíveis.
Ao fornecer meu dados, declaro estar de acordo com a Política de Privacidade do Estadão , com a Política de Privacidade da Ágora e com os Termos de Uso
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
“A última vez que o BCE elevou as taxas em 0,75 ponto porcentual foi um ajuste técnico de três semanas para suavizar o lançamento do euro em janeiro de 1999”, observa Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, acrescentando que a inflação na zona do euro, apesar da correção de curso em andamento no BCE, tem se acelerado, chegando a 9,1% em agosto no acumulado em 12 meses, muito acima da meta oficial, de 2% ao ano.
Com o euro tendo caído ao menor nível em 20 anos frente ao dólar, elevando o preço das importações, os desdobramentos “reforçaram o argumento” para que o BCE adote “medidas mais agressivas para conter a inflação, mesmo que isso custe emprego e crescimento”, aponta a economista-chefe da Reag.
No Brasil, onde o BC saiu bem na frente de pares do exterior no ajuste restritivo da política monetária, as notícias que chegam sobre a inflação são mais favoráveis. “Hoje saiu o IGP-DI, mais uma vez com deflação um pouco acima do esperado pelo mercado, com pressão para baixo dos combustíveis, especialmente diesel e gasolina, que afetam a leitura sobre o atacado”, diz Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, que antecipa para amanhã, no IPCA de agosto, também uma leve deflação, da ordem de -0,30%.
“A queda de 0,55% no IGP-DI, após -0,38% no mês anterior, traz o efeito da redução do ICMS principalmente sobre os combustíveis, e pegou também essa temporada de queda das commodities”, diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, destacando em especial a retração do petróleo nos últimos 30 dias, negociado agora abaixo de US$ 90 por barril. “Porém, a redução dos impostos tem data, vai até dezembro. No ano que vem, devem voltar, afetando novamente o preço dos combustíveis”, acrescenta.
Embora a questão ainda não esteja sacramentada, o governo previu no Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2023 a possibilidade de manter a desoneração de tributos sobre combustíveis. De acordo com o texto, divulgado no último dia 31, isso representaria redução de R$ 52,9 bilhões na arrecadação. No dia 1º de setembro, o relator-geral do Orçamento de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), adiantou que a proposta de continuar com a redução de impostos federais sobre combustíveis em 2023 será bem recebida pelo Congresso.
Nesse contexto de possível prorrogação de desonerações a 2023, a promessa feita pelo presidente Jair Bolsonaro, na propaganda eleitoral que foi ao ar na TV nesta quinta-feira – de conceder Auxílio Brasil no valor de R$ 800 a beneficiários que conseguirem trabalho – faz lembrar o alerta feito na segunda-feira pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento em São Paulo: financiamento de programa social será um desafio significativo à frente.
Ante incertezas aqui e fora, o Ibovespa tem se mantido acomodado recentemente, após a escalada vista entre meados de julho e agosto, beneficiado então por fluxo estrangeiro. Assim, nesta quinta-feira, um número limitado de ações do índice conseguiu escapar ao sinal negativo, com destaque para Vale (ON +1,32%), pelo peso que tem no Ibovespa, e papéis como B3 (+4,92%) e Cemig (+2,61%). Com o Brent negociado de ontem para hoje na faixa de US$ 88 por barril, Petrobras ON e PN fecharam, respectivamente, em baixa de 1,00% e 0,93%. O dia também foi negativo para as ações de grandes bancos, com perdas até 0,71% (Itaú PN) no encerramento.
Na ponta ganhadora, destaque para Magazine Luiza (+7,25%), Azul (+6,46%) e Via (+5,54%), com os frigoríficos na ponta oposta (Marfrig -5,84%, JBS -4,99%), em meio a dúvidas sobre o mercado chinês após estimativa do Departamento de Agricultura dos EUA de que o consumo de carne bovina no país asiático deve cair 3% no ano que vem.