Demissão de Cook e incerteza política na França amparam cautela no Ibovespa hoje em dia de IPCA-15. (Foto: Adobe Stock)
Após abrir praticamente estável, o Ibovespa hoje firmou queda e fechou abaixo do nível dos 138 mil pontos no pregão desta terça-feira (26). No encerramento dos negócios, às 17h15 (de Brasília), o índice cravou em um recuo de 0,18%, aos 137.771 pontos. O mercado acompanhou a prévia da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que veio acima das previsões, enquanto repercutiu a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de demitir a diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Lisa Cook.
A terça-feira foi desafiadora para o mercado brasileiro de ações, com a queda das commodities no exterior e o aumento da tensão entre o presidente americano, Donald Trump, e o Federal Reserve.
Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para outubro fechou em queda de 2,39% (US$ 1,55), a US$ 63,25 o barril. Já o Brent para novembro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), recuou 2,23% (US$ 1,52), a US$ 66,70 o barril, enquanto o minério de ferro fechou em baixa de 0,70% na China.
No Brasil, os indicadores também não foram dos melhores, com destaque para o resultado das transações correntes, que registrou déficit maior que todas as estimativas. Já a prévia da inflação em agosto veio acima das projeções do mercado, com recuo de 0,14% no mês.
Além dos atritos de Trump com o Fed, o presidente americano seguiu com ofensivas tarifárias, desta vez contra a Índia e na China ( Leia mais abaixo).
“Essa questão também está interferindo nos mercados, essa propagação de tarifas que pode não somente encostar na Índia. Hoje já temos uma movimentação novamente negativa. A Ásia trabalha no negativo, a Europa cai, os futuros americanos caem. Precisamos prestar bastante atenção, porque teremos um dia bem desafiador”, afirma Alison Correia, analista de investimentos e sócio da Dom Investimentos.
No câmbio local, o dólar hoje fechou em alta de 0,37%, a R$ 5,4345 – confira aqui todos os detalhes da operação da moeda americana nesta terça-feira.
A sessão foi majoritariamente negativa para carros-chefes como Petrobras (PETR3, -0,51%, e PETR4, -0,72%), em dia de queda superior a 2% para o petróleo em Londres e Nova York após quatro altas seguidas para a commodity. A terça-feira foi mista para o setor financeiro, com variações entre os maiores bancos de -0,67% -Itaú (ITUB4) a +1,65% (Banco do Brasil (BBSA3)). Na ponta ganhadora, Minerva (+3,13%), Pão de Açúcar (+3,12%) e Vibra (+3,11%). No lado oposto, MRV (-3,43%), Raízen (-2,86%) e Yduqs (-2,45%). Entre as blue chips, Vale (VALE3), o principal papel do Ibovespa, fechou em alta de 0,89%, na máxima do dia, contribuindo para a contenção do ajuste do índice.
Ibovespa hoje: os principais assuntos desta terça-feira (26)
Trump tenta demitir diretora do Fed Lisa Cook
Trump afirmou não ter “confiança na integridade de Cook” ao tentar demitir a diretora do Fed. (Foto: Adobe Stock)
O presidente americano Donald Trump tentou demitir a diretora do Federal Reserve, Lisa Cook, acusando-a de fraude hipotecária, mas ela recusou-se a sair, alegando que ele não tem autoridade para isso. O episódio pode gerar disputa judicial e colocar em xeque a independência do Fed.
Cook entrou na mira de Trump após uma acusação do presidente do conselho da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA (FHFA, na sigla em inglês), William Pulte, de que Cook teria cometido fraude hipotecária.
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Em justificativa para a demissão, Trump afirmou não ter “confiança na integridade de Cook”. O presidente americano citou que sua decisão levou em conta o artigo 2 da Constituição dos Estados Unidos e o Ato do Federal Reserve de 1913.
Já a diretora Cook afirmou que não deixará o cargo. “O presidente Trump pretendeu me demitir ‘por justa causa’ quando não há causa sob a lei, e ele não tem autoridade para fazê-lo”, afirmou Cook, em um comunicado. “Não vou renunciar.”
Bolsas globais recuam com tensão Trump-Cook
Os mercados globais oscilaram diante de tensões políticas nos EUA e na Europa e a repercussão da possível demissão da diretora Lisa Cook, do Fed. As bolsas de Nova York recuperaram alta nesta tarde, enquanto o dólar hoje ampliou perdas ante rivais.
Após a notícia de tentativa de demissão de Cook, a curva mantém mais de 80% de chance de o Fed cortar os juros em setembro, segundo o CME Group.
Em paralelo, as Bolsas europeias fecharam em baixa, com destaque para Paris, que caiu quase 2%, após o premiê François Bayrou convocar voto de confiança para tentar aprovar cortes de gastos.
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Além dos atritos de Trump com o Fed, o presidente americano segue com ofensivas tarifárias, desta vez contra a Índia, cujos produtos passarão a ser taxados em mais 25%, salvo exceções, deixando o país em situação semelhante à do Brasil. O argumento para o tarifaço sobre a Índia são as importações que o país faz de derivados de petróleo da Rússia.
As tarifas extras também podem chegar à China, com mais uma ameaça de Trump ao gigante asiático, que acenou com uma tarifa de 200% se Pequim continuar a restringir as exportações de ímãs de terras raras. A China fornece cerca de 90% das terras raras do mundo e domina a produção de outros minerais críticos.
Nesse ambiente, e também em meio à percepção de que a demanda chinesa pode continuar patinando, o minério de ferro fechou em queda em Dalian (China) e também em Cingapura.
IPCA-15: prévia da inflação vem acima das projeções em agosto
IPCA-15 é conhecido como prévia da inflação. (Foto: Adobe Stock)
O IPCA-15 de agosto registrou queda de 0,14%, após ter subido 0,33% em julho, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou acima da mediana das estimativas dos analistas do mercado financeiro consultados pelo Projeções Broadcast, de queda de 0,21%, com intervalo entre retração de 0,28% a uma alta de 0,29%.
Com o resultado anunciado hoje, o IPCA-15 acumulou um aumento de 3,26% no ano. A taxa em 12 meses ficou em 4,95%. As projeções iam de avanço de 4,80% a 5,41%, com mediana de 4,88%.
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Os dados de agosto do índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) evidenciam que a desinflação até acontece no País, mas que esse processo se dará de forma irregular. A avaliação é do economista do ASA Leonardo Costa.
“Mantemos a expectativa de desaceleração gradual da inflação, mas este IPCA-15 evidencia que o arrefecimento é irregular, especialmente nos serviços, refletindo uma desaceleração ainda tímida da atividade doméstica e a resiliência do mercado de trabalho”, escreveu Costa, em nota enviada a clientes.
Já para o especialista Alison Correia, a deflação veio “muito por conta do bônus da usina de Itaipu, na parte de energia, uma bonificação que teremos nas contas de luz, além da queda de combustíveis e passagens aéreas”, aponta. Apesar de ser um dado bem positivo, ele acredita que o Banco Central (BC) só deve começar a baixar os juros no começo do ano que vem.
Agenda econômica do dia
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de agosto ganha atenções na agenda econômica desta terça-feira (26). Também no Ibovespa hoje repercute a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de agir para demitir a diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Lisa Cook.
Em São Paulo, a abertura do Congresso Aço Brasil 2025 teve as presenças do vice-presidente Geraldo Alckmin, do ministro da Fazenda Fernando Haddad, do presidente da Câmara Hugo Motta e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Haddad também esteve em evento da Fiesp sobre a relação Brasil e EUA.
Na agenda econômica hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou a segunda reunião ministerial do ano, que tratou do posicionamento do governo sobre a regulação das redes sociais e a crise gerada pela tarifa de 50% imposta pelos EUA a produtos brasileiros.
O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, participou de seminário do Banxico, na Cidade do México. Os números de transações correntes e Investimento Direto no País (IDP) saíram pela manhã.
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O Tesouro realizou leilão de Notas do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B, títulos públicos com rendimento atrelado à inflação) e de Letra Financeira do Tesouro (LFT, título pós-fixado com rentabilidade atrelada à taxa de juros).
Nos Estados Unidos, as encomendas de bens duráveis e um discurso do presidente do Fed de Richmond, Tom Barkin, aconteceram pela manhã, assim como o índice de confiança do consumidor norte-americano.
Ocorreram também discursos de Pablo Hernández de Cos, diretor-gerente do BIS, e de Catherine Mann, dirigente do Banco da Inglaterra, ambos em conferência do Banco do México. Na China, o lucro industrial de julho foi divulgado.
Esses e outros dados do dia ficaram no radar de investidores e possivelmente impactaram as negociações na bolsa de valores brasileira, influenciando o índice Ibovespa hoje.
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*Com informações de Paula Dias, Silvana Rocha e Luciana Xavier, do Broadcast