O analista Mario Pierry afirma que bancos com carteiras mais expostas a grandes e médias empresas, como Itaú e Santander Brasil (SANB11), devem conseguir reprecificar os empréstimos mais rápido. Já instituições que têm um volume maior de poupança, como o Banco do Brasil, devem manter custos de captação mais estáveis.
Levantamento do banco aponta que, nos últimos dez anos, as margens mostraram correlação positiva, ou seja, “andaram junto” com a Selic. No entanto, em ciclos de alta dos juros, houve uma diferença de 12 meses entre os movimentos, ligada ao perfil de vencimento das carteiras de cada banco. Essa correlação é menor nos custos de captação, graças ao peso da poupança e dos depósitos judiciais no sistema.
“Entretanto, as margens com mercado devem mostrar tendências diferentes entre os bancos de maior capitalização, dado que dependem das estratégias de gestão de ativos e passivos e de tesouraria, que variam”, diz o BofA em relatório enviado a clientes. Para Bradesco (BBDC4) e Santander, os impactos devem ser negativos, enquanto o BB deve se beneficiar. Na tesouraria do Itaú, o efeito tende a ser neutro.
A alta dos juros tende ainda a reduzir o apetite a risco dos bancos e também a demanda por crédito, levando a uma desaceleração do crescimento da carteira de crédito. O BB também é exceção pela maior exposição ao segmento agro, que tem correlação mais baixa com a Selic.
Na qualidade dos ativos, Pierry afirma que a alta dos juros historicamente causa piora com uma diferença de nove meses entre a elevação das taxas básicas e dos índices de atraso. Novamente, a carteira mais defensiva é do BB, que tem maior exposição ao crédito consignado e ao rural, modalidades com garantia.
“É importante mencionar que esperamos que os bancos com maior concentração de crédito a grandes empresas sejam impactados primeiro, porque as taxas dos empréstimos a empresas são reprecificadas instantaneamente”, afirma a casa.
Embora considere que os múltiplos das ações dos bancos estejam atrativos, o BofA acredita que neste ano elas devem valorizar pouco, diante do ciclo menos favorável. O nome preferido da casa no setor é o do Itaú, que é visto como um dos menos expostos a um ciclo de juros mais altos por mais tempo, e também a mudanças regulatórias como a implementação do IFRS 9.