Juros: curva tende a abrir com hiato elevado e derrubada do IOF; IPCA-15 e exterior podem aliviar
O BC manteve a sua estimativa de taxa real neutra de juros estável em 5,0%, o mesmo nível do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de março e de dezembro
O mercado de juros tem vários condutores para definir uma direção nesta quinta-feira (26). Uma delas é que o Congresso aprovou nesta quarta-feira (25), o projeto de decreto legislativo que susta os efeitos de decretos do governo Lula sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), uma derrota para o governo – a primeira derrubada de decreto presidencial em 33 anos –, o que pode azedar o humor.
O investidor repercute ainda o Relatório de Política Monetária (RPM), que traz revisão para cima das previsões para hiato do produto no primeiro e segundo trimestres, indicando que a economia continua crescendo acima da sua capacidade, o que pode justificar o Comitê de Política Monetária (Copom) manter a Selic, atualmente em 15%, em nível elevado por bastante tempo.
O BC estima hiato do produto no 1º trimestre de 2025 em 0,9% (de 0,6% no documento de março); em 0,5% no 2º trimestre de 2026; e em -0,8% no 4º trimestre. No documento de março, o BC calculou que o hiato continuava em “níveis positivos, pressionando assim a inflação”, mas que a projeção era de queda ao longo dos trimestres seguintes.
“Quando a estimativa estiver próxima de zero, isso pode ser um gatilho para começar a discussão de cortes de juros”, disse o economista-chefe da Equator Investimentos, Eduardo Velho, na terça-feira, após a ata do Copom.
O BC manteve a sua estimativa de taxa real neutra de juros estável em 5,0%, o mesmo nível do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de março e de dezembro.
O documento traz ainda que o ambiente externo segue desafiador, com incertezas na política comercial e fiscal dos EUA, além do conflito no Oriente Médio. Além disso, a “atividade econômica e o mercado de trabalho foram fortes no primeiro trimestre, com tendência de moderação”.
Por outro lado, a esperada desaceleração do IPCA-15 de junho (9h), rendimentos dos Treasuries e dólar mais fracos no exterior são contraponto, sendo que o dado de inflação pode aliviar a curva curta. A agenda traz também a arrecadação de impostos de maio (10h30), dados do Governo Central de maio, leilões de LTN e NTN-F (11h) e Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA (9h30). A coletiva do presidente do BC, Gabriel Galípolo, e do diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, sobre o RPM será monitorada (11h).
O governo pode decidir hoje o que irá fazer e quer recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). A ala política do governo tem dúvidas por temer que a medida acirre ainda mais os ânimos no Congresso. A preocupação do governo agora é com votações futuras, como a isenção do IR até R$ 5 mil e uma MP que visa compensar a perda de arrecadação estimada em R$ 10 bilhões.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) recuou 2,1 pontos na passagem de maio para junho, a 96,8 pontos, a maior queda do ano, informou há pouco a Fundação Getulio Vargas (FGV). Na média móvel trimestral, o índice recuou 0,5 ponto, atingindo 97,9 pontos.