Os juros futuros subiram até os vértices intermediários, enquanto os longos ficaram estáveis nesta quarta-feira (5). O novo alívio na curva dos Treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano) não conseguiu contagiar a curva local, que se ressentiu nesta quarta-feira da falta de liquidez, que só melhorou após o período da definição dos preços de ajustes, depois das 16 horas.
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Pela manhã, todas as taxas oscilavam perto da estabilidade, mas a divulgação do PMI de serviços nos EUA acima do esperado no fim da primeira etapa acabou por estimular uma postura mais defensiva dos agentes, ainda que o impacto sobre os títulos do Tesouro americano tenha se dissipado durante a sessão.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,475%, de 10,406% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026, em 10,94%, de 10,84% ontem. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,27%, de 11,20% ontem, e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,67% (de 11,66%).
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De acordo com profissionais nas mesas de renda fixa, o mercado de juros esteve refém do giro baixo nesta quarta-feira, o que torna a variação das taxas mais sensível a operações muitas vezes pontuais.
De acordo com um trader, houve um fluxo moderado de aplicadores pela manhã, mas depois do PMI, que destoou do consenso, “quem estava vendendo, ficou com medo e parou”, o que trouxe pressão até os vértices intermediários. “Sem venda nova, tem acontecido essas altas do nada, mesmo lá fora melhorando”, afirma, acrescentando que o câmbio também serve de trava para movimentos de queda das taxas. À tarde, o dólar bateu nos R$ 5,30 nas máximas, encerrando em R$ 5,2977 no segmento à vista, maior nível de fechamento desde 5 de janeiro de 2023. “Com esse dólar a R$ 5,30, a percepção é que o BC para mesmo de cortar a Selic. E de forma unânime.”
O PMI de serviços do Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) dos Estados Unidos avançou a 53,8 em maio, acima da previsão dos analistas (50,8). Em contraponto, a criação de empregos no setor privado apurada na pesquisa ADP somou 152 mil vagas, ante expectativa de 175 mil. Os dados trouxeram alguma volatilidade para os ativos, mas o mercado acabou consolidando a aposta de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) cortará juros. A probabilidade de redução até setembro gira em torno de 67%. Para o fim do ano, o cenário mais provável ainda é o de uma redução acumulada de 50 pontos-base – dois cortes se considerado o ritmo de 25 pontos-base por ajuste.
No mundo desenvolvido, o Banco Central do Canadá se antecipou ao Fed e cortou sua taxa de juros em 25 pontos, a 4,75%, nesta quarta-feira, após seis reuniões consecutivas em que manteve a taxa. Amanhã, será a vez do Banco Central Europeu (BCE) anunciar corte de juros.
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Para o estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal, as incertezas do cenário fiscal e o “barulho político” têm inibido a montagem de posições mais arriscadas que precisariam ainda de uma nova “pernada” de alívio nos Treasuries. A taxa da T-Note de dez anos chegava ao fim da tarde abaixo de 4,30%, aos 4,287%.
Na sua avaliação, o dólar em R$ 5,30 não teve hoje influência direta para o avanço das taxas porque a correlação do câmbio com o DI é mais na ponta longa, que esteve bem comportada. Mas se a cotação persistir por muito tempo nesse patamar pode começar a preocupar do ponto de vista da inflação.
O desconforto do investidor em ficar vendido em DI tem respaldo em notícias como a de que o setor produtivo está rechaçando a Medida Provisória (MP) que prevê a limitação do uso dos créditos com o pagamento do PIS/Cofins para abater impostos, assinada pelo presidente Lula, como forma de compensar a perda tributária da desoneração da folha salarial. A Receita estima que a medida poderá render até R$ 29,2 bilhões.