Os juros futuros fecharam a sexta-feira (7) em forte alta, disparando mais de 40 pontos-base a partir dos vértices intermediários, ainda sob o efeito do relatório de emprego norte-americano, que puxou para cima os rendimentos dos Treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano) e o dólar, penalizando ativos de economias emergentes de forma generalizada.
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A surpresa com o payroll e com os ganhos salariais maiores do que o esperado, a poucos dias da reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), reduziu as apostas de início do corte de juros nos Estados Unidos em setembro e também para o tamanho do alívio em 2024, fortalecendo, no Brasil, a ideia de fim das quedas da Selic. A semana termina com taxas bastante acima dos níveis da última sexta-feira, em especial no miolo da curva.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,600%, de 10,440% ontem. A do DI para janeiro de 2026 disparou de 10,85% para 11,22%. A taxa do DI para janeiro de 2027 saltou a 11,60%, de 11,16%, e a do DI para janeiro de 2029, de 11,58% para 11,96%.
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A sessão teve giro expressivo de contratos, refletindo prováveis movimentos de zeragem de posições vendidas, desmontadas a partir do susto com o payroll de maio. A criação de postos de trabalho, de 272 mil, superou a mediana (185 mil) e o teto das estimativas do mercado (220 mil) e o ritmo dos salários também surpreendeu, ainda que a taxa de desemprego tenha avançado.
Os números esfriaram as apostas de corte de juro nos EUA em setembro, que antes do dado giravam em torno de 60%. Pelo monitoramento do CME Group, perto das 17h estavam divididas, com 50,8% de probabilidade para corte e 49,2% para manutenção. Ainda, o mercado voltou a ver com mais força a chance de apenas uma redução em 2024 e o risco de não haver queda saltou de 5,5% para 14%. Nos Treasuries, o yield da T-Note de 10 anos voltou a superar 4,40%, marcando 4,43% no fim da tarde e o do papel de 2 anos saltava a 4,88%.
A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, afirma que a leitura do mercado é de juros elevado por período prolongado nos EUA e a curva doméstica é penalizada ainda pela perda de valor do real em relação ao dólar, pela via da inflação. O dólar à vista fechou hoje em R$ 5,3247 e a percepção é que manutenção da cotação por muito tempo próxima de R$ 5,30 vai contaminar os preços. “Fora isso, tem um pouco de explicação desse prêmio na curva de juros pela questão do fiscal, como vai ficar a capacidade de arrecadação do governo com as medidas que foram lançadas essa semana”, afirma.
O quadro de apostas para juro nos EUA mexe com o sentimento do investidor com relação à política monetária no Brasil, que adicionalmente tem um quadro fiscal adverso e expectativas de inflação desancoradas em relação à meta de 3%. Poluída por movimentos técnicos ligados a possíveis movimentos de “stop loss”, a precificação da curva mostrava nesta tarde Selic próxima de 11% no fim de 2024, a 10,90%. Para a reunião de junho, a curva projetava 100% de chance de manutenção no atual patamar de 10,50%.
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Em evento da Universidade de Brasília, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, comentou que a postergação da expectativa de corte de juro nos Estados Unidos refletiu em elevação de juro terminal em emergentes. Ele destacou que os últimos dados de inflação foram benignos, mas a desancoragem das expectativas persiste – e é isso que causa a preocupação no BC. “Cabe ao Copom colocar a taxa de juros no patamar restrito necessário tempo suficiente para atingir a meta de inflação”, disse Galípolo, defendendo a busca da meta ainda que com choques exógenos.