

Os juros futuros aceleraram o ritmo de alta na tarde desta sexta-feira (6), chegando a avançar mais de 40 pontos-base na ponta longa no pico do estresse, com o mercado ampliando posições de hedge ante a deterioração do cenário fiscal. A escalada do dólar também contribuiu para pressionar a curva.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 subiu a 14,35%, de 14,19% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 saltou a 14,69%, de 14,43%. O DI para janeiro de 2029 encerrou com taxa de 14,37% (de 14,12%). Na semana, a curva toda avançou, com ganho de inclinação.
Nas mesas de renda fixa, a avaliação é de que o comportamento das taxas não teve hoje qualquer racionalidade e falava-se em aumento da disfuncionalidade. Nem o payroll dos EUA nem o histórico fechamento do acordo entre o Mercosul e a União Europeia foram capazes de mobilizar o mercado, que, mesmo sem novidades no noticiário sobre as medidas fiscais, ficou ruminando durante toda a sessão o risco de desidratação do pacote que foi encaminhado pelo Executivo, já considerado fraco.
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Há relatos de resistência, por deputados da oposição e da situação, a mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) que constam tanto no projeto de lei complementar (PLP) que revê programas sociais quanto na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que esmiúça as medidas fiscais. O BPC bateu novo recorde de gastos nos últimos 12 meses até outubro, com R$ 110 bilhões em despesas, segundo dados do Tesouro, um crescimento de 16,8% em relação a igual período de 2023.
Nos últimos dias o mercado vinha apostando no Congresso como fiador do pacote, depois da aprovação do pedido de urgência de tramitação na Câmara, com o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), falando em colocar para votar nesta ou na próxima semana.
Carlos Kawall, sócio-fundador da Oriz Partners, diz não estar surpreso com o desempenho dos ativos. “Não me surpreende, depois que o governo passou a atacar o mercado, anunciou que vai fazer propaganda da isenção de R$ 5 mil e há resistências ao pacote no Congresso e Judiciário”, resumiu o ex-secretário do Tesouro.
Para o CEO da Azimut Brasil Wealth Management, Wilson Barcellos, o mercado passou a depositar suas fichas no Congresso para salvar o plano fiscal, “uma vez que parece que o Executivo está dobrando a aposta”, referindo-se ao expansionismo fiscal que, segundo ele, tem sustentado o forte crescimento do PIB. Assim, acabou “sobrando” para o Banco Central o papel de endurecer a política monetária para conter a deterioração das expectativas. Resta saber se a estratégia do Copom será a de aplicar um choque de juros com aumento de 1 ponto na Selic na reunião de dezembro e sinalização da mesma dose para a próxima, ou ir no compasso de 0,75 ponto com discurso “hawkish”, diz.
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A alta do dólar, que chegou novamente perto dos R$ 6,10 nas máximas do dia, também desestimulou o apetite pelo risco, na medida em que vai crescendo a preocupação com o impacto sobre os preços. A cotação renovou máxima nominal histórica, encerrando em R$ 6,0708.
“A gente deve ver uma revisão altista significativa do IPCA de 2025 no Focus e, com a curva já cravando 100 pontos, o mercado já discute se o Copom não precisa partir pra terapia de choque”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, afirmando que já tem quem defenda elevação de 1,5 ponto.
Nesta tarde, os DIs não só projetavam integralmente a aposta de aumento de 1 ponto da Selic para dezembro, como taxa terminal de 15,75%. Nas opções digitas da B3, a chance de alta de 1 ponto para a próxima semana subiu de 40,00% ontem para 58,00% e a de 0,75 caiu de 50% para 31%.