Os juros futuros fecharam perto dos ajustes anteriores nesta sexta-feira (23), perdendo ritmo de alta visto durante o dia. Além do mercado digerir o recuo na questão do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre remessas, o ambiente externo ajudou a mitigar os efeitos negativos da elevação do imposto, principalmente pelo recuo nos rendimentos dos títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano (Treasuries).
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 14,72%, de 14,74% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027, a 13,98%, de 14,01% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa de 13,61%, de 13,58%. No cômputo da semana, as taxas estavam praticamente nos mesmos níveis de encerramento da última sexta-feira.
Ontem, na última hora da sessão, o mercado piorou muito com a pressão do IOF ofuscando o efeito da contenção anunciada de R$ 31,3 bilhões no relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas. A corrida do governo para corrigir parte da medida do IOF ainda na noite de ontem tirou um pouco da pressão sobre a curva já na abertura, mas sem conseguir desfazer totalmente o estrago.
O governo, perto da meia-noite, voltou atrás na elevação a 3,5% da cobrança a transferências de recursos para aplicação em fundos de investimento no exterior e restabeleceu a alíquota zero. O impacto na receita total de R$ 20 bilhões estimada com o IOF é de R$ 2 bilhões este ano.
“Apesar do recuo parcial, o episódio revelou os desafios do governo em equilibrar arrecadação e confiança. Um alerta importante sobre como medidas mal calibradas podem gerar efeitos macro, micro e reputacionais relevantes”, afirma economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung.
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse hoje ver com naturalidade que, na busca por alternativas para cumprir as metas fiscais, alguns anúncios provoquem mal-estar e demandem revisão, procurando exaltar a “proatividade” do ministro Fernando Haddad em rever a medida. “Estamos vendo reflexos da atuação de Haddad nos preços do mercado hoje”, disse, durante seminário organizado pelo Ibre/FGV.
A avaliação do mercado é de que o governo está usando imposto regulatório para incrementar a arrecadação para fechar as contas, em detrimento de um corte de gastos mais efetivo. Além disso, a medida soa como controle de fluxo de capitais e intervencionismo econômico, algo sempre muito malvisto. Por fim, pegou mal a avaliação de membros do governo ontem de que as medidas de IOF podem colaborar para a redução da Selic pelo canal do crédito.
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Seja pelo efeito do recuo do governo seja pela queda do yield dos Treasuries, as taxas se acomodaram ao longo da sessão. O economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio de Souza Leal, diz que a moderação do movimento tem a ver com a reversão do governo e o fato de hoje não ser um dia “especialmente cheio de novidades econômicas”. “É um dia mais tranquilo para o mercado de juros americanos, que também na segunda semana tinha sofrido bastante”, explica.
Os juros dos títulos do Tesouro dos EUA cederam após o presidente Donald Trump ameaçar impor uma tarifa abrangente de 50% sobre as importações da União Europeia a partir de 1º de junho, além de sobretaxar iPhones em 25%, caso a Apple continue fabricando seus produtos “na Índia ou em qualquer outro lugar”.